As exportações chinesas registraram em setembro o crescimento mais rápido dos últimos seis meses, enquanto as importações tiveram o avanço mais forte em mais de um ano, segundo dados divulgados nesta segunda-feira (13) pela Administração Geral das Alfândegas da China.
As exportações do país aumentaram 8,3% em comparação com o mesmo mês de 2024, em valores convertidos para dólares, superando a projeção de alta de 7,1% feita por economistas consultados pela Reuters. As importações cresceram 7,4% na mesma base de comparação, bem acima da expectativa de 1,5%, alcançando o melhor desempenho desde abril de 2024, de acordo com dados da LSEG.
Mesmo com o aumento geral do comércio exterior, as exportações para os Estados Unidos caíram 27% em relação a setembro do ano anterior, e as importações provenientes do país recuaram 16%. O superávit comercial da China com os Estados Unidos, nos primeiros nove meses do ano, foi de US$ 208,6 bilhões, ante US$ 25,8 bilhões no mesmo período de 2024.
A retração nas trocas com Washington foi compensada por fortes altas em outras regiões. As exportações chinesas para a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) subiram 15,6%; para a União Europeia, 10,4%; e para a África, 56,4%.
A recuperação ocorre em meio a uma nova escalada de tensões comerciais entre Pequim e Washington. O presidente norte-americano Donald Trump ameaçou aplicar uma tarifa adicional de 100% sobre produtos chineses e reforçar o controle sobre exportações de softwares estratégicos. Em resposta, o governo chinês ampliou restrições sobre a exportação de terras-raras — insumos essenciais para a indústria de tecnologia — e incluiu a consultoria TechInsights em sua lista de “entidades não confiáveis”. Pequim também abriu uma nova investigação antitruste contra a fabricante norte-americana de semicondutores Qualcomm.
De acordo com o analista Gabriel Wildau, da consultoria Teneo, se as tarifas forem implementadas integralmente, os tributos sobre importações chinesas nos Estados Unidos poderiam ultrapassar 150%, o que “efetivamente criaria um embargo comercial”. Segundo ele, “a China provavelmente responderia na mesma medida, reduzindo o comércio bilateral a um fluxo mínimo”.
Os dois países também planejam impor tarifas portuárias recíprocas a partir de 14 de outubro. A taxa inicial fixada pela China será de 400 yuans (cerca de US$ 56) por tonelada — o mesmo valor definido por Washington.
Em entrevista coletiva nesta segunda, o porta-voz da Administração Geral das Alfândegas, Lyu Daliang, afirmou que “a China espera que os Estados Unidos percebam que estão tomando o caminho errado ao aumentar as taxas portuárias” e defendeu o retorno ao diálogo. Lyu também disse que os novos impostos adotados por diversos países têm prejudicado empresas e a economia global, reforçando que Pequim “permanece comprometida com o comércio multilateral”.
O comércio bilateral segue afetado pela suspensão das compras chinesas de soja norte-americana, vigente há meses. A China, maior importadora mundial do grão, elevou em 13% suas importações totais de soja em setembro, mas não detalhou a origem dos embarques. Trump afirmou recentemente que pretende pressionar o presidente Xi Jinping, em encontro previsto para o fim de outubro, a retomar as aquisições.
As exportações chinesas de terras-raras caíram 30% em setembro, para 4 mil toneladas. No início do mês, Pequim ampliou o controle sobre minerais estratégicos, acrescentando cinco novos elementos à lista de exportação restrita e impondo exigências adicionais para empresas estrangeiras que desejem ter acesso a esses materiais. Analistas avaliam que, caso as medidas sejam aplicadas integralmente, companhias como Nvidia, TSMC e Intel precisarão obter licenças do governo chinês para comercializar chips globalmente.
A expectativa agora se volta para o possível encontro entre Trump e Xi Jinping, que pode atenuar a escalada de tensões. O economista Allan von Mehren, do Danske Bank, estima em mais de 50% a chance de que as negociações resultem em um recuo mútuo nas sanções.
Em comunicado, o Ministério do Comércio da China afirmou que “ameaçar com tarifas elevadas a cada momento não é a maneira correta de se relacionar com a China” e que, se os Estados Unidos “persistirem nesse caminho, o país tomará medidas correspondentes para proteger seus direitos e interesses legítimos”.