O presidente francês enfrenta um parlamento fragmentado e um déficit crescente, enquanto reconduz Sébastien Lecornu ao cargo de primeiro-ministro
O presidente francês Emmanuel Macron reafirmou nesta segunda-feira que não pretende renunciar, mesmo diante de duas moções de desconfiança apresentadas contra seu governo, que podem ameaçar sua administração ainda esta semana. A França atravessa uma das piores crises políticas das últimas décadas, marcada por sucessivos governos minoritários que lutam para aprovar orçamentos que reduzam o déficit, em um parlamento profundamente fragmentado em três blocos ideológicos distintos.
Nos últimos dois anos, Macron já substituiu cinco primeiros-ministros, um reflexo da instabilidade que atravessa o Palácio do Eliseu. Muitos críticos afirmam que a única saída para a crise seria convocar novas eleições legislativas ou renunciar, mas o presidente refutou essas possibilidades.
Macron assume postura firme no Egito
Pouco depois de chegar ao Egito para participar de reuniões internacionais voltadas à resolução do conflito em Gaza, Macron adotou uma postura desafiadora, responsabilizando seus adversários por desestabilizar o país. Ele reforçou que não pretende renunciar antes do fim de seu segundo mandato, em 2027, e afirmou:
“Eu garanto a continuidade e a estabilidade, e continuarei a fazê-lo. Servir significa servir, servir e servir”.
A declaração ecoa a determinação do presidente em manter sua administração apesar da pressão política crescente.
Sébastien Lecornu reconduzido
Na sexta-feira, Macron reconduziu Sébastien Lecornu ao cargo de primeiro-ministro, após sua renúncia no início da semana. O novo gabinete, anunciado na noite de domingo, manteve grandes nomes nos principais cargos, apesar da promessa de Lecornu de formar um ministério marcado pela renovação e diversidade.
A estabilidade do governo, no entanto, permanece incerta. Tanto a extrema esquerda, representada pelo partido França Insubmissa (LFI), quanto a extrema direita do Rally Nacional (RN) apresentaram moções de desconfiança contra o primeiro-ministro. O voto, previsto provavelmente para quinta-feira, ainda depende do apoio dos socialistas, que mantêm suas opções abertas.
Os socialistas condicionam seu apoio à revogação da reforma previdenciária e à implementação de um imposto sobre bilionários, medidas rejeitadas completamente pela direita. O parlamentar Philippe Brun comentou à Reuters:
“Não haverá censura se o primeiro-ministro se comprometer a abandonar o Artigo 49.3 e suspender a reforma da previdência”.
Lembrando que o Artigo 49.3 permite ao governo aprovar leis sem votação no parlamento, o posicionamento dos socialistas indica que o impasse político pode se intensificar nas próximas semanas.
Pressão sobre Lecornu
Sébastien Lecornu já detém o recorde de menor mandato entre primeiros-ministros franceses, com apenas 27 dias em seu primeiro período. Ele não descartou renunciar novamente caso não consiga cumprir suas metas, especialmente em um momento em que a aprovação do orçamento se tornou uma questão crítica.
Jordan Bardella, presidente do RN, questionado sobre a possibilidade de apoiar a extrema esquerda, afirmou à TF1 TV:
“Não sou sectário… Acredito que o interesse da França hoje é garantir que Emmanuel Macron seja detido”.
O comentário revela a convergência estratégica inesperada entre forças opostas em torno do objetivo de enfraquecer o governo.
Déficit e desafios orçamentários
O novo gabinete se reuniu pela primeira vez na tarde de segunda-feira, com a missão de apresentar um orçamento até quarta-feira. A França mantém atualmente o maior déficit da zona do euro, e a sucessão de primeiros-ministros tem sido encarregada de aprovar cortes orçamentários cada vez mais rigorosos.
Michel Barnier foi o primeiro a tentar, mas foi derrubado pelo parlamento em dezembro passado. Seu sucessor, François Bayrou, conseguiu aprovar o orçamento de 2025, mas acabou removido em função das propostas para 2026. Macron responsabilizou diretamente os partidos que buscam desestabilizar o governo:
“As forças políticas que decidiram votar contra François Bayrou e as forças políticas que buscaram desestabilizar Sébastien Lecornu são as únicas responsáveis por essa confusão”.
Com o país em um cenário político cada vez mais fragmentado, Macron enfrenta uma batalha de sobrevivência política e precisa equilibrar pressões de esquerda e direita enquanto tenta manter sua agenda econômica e orçamentária.