Cientista político renomado prevê o “fim da hegemonia americana” e diz que queda de Washington é inevitável

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Em um vídeo publicado no canal Geopulse no YouTube, intitulado “The Inevitable Decline: John Mearsheimer on the Coming Fall of Washington”, o cientista político John Mearsheimer, professor da Universidade de Chicago e um dos mais influentes teóricos do realismo nas Relações Internacionais, analisa as causas do declínio da hegemonia dos Estados Unidos e prevê um reordenamento do sistema global nas próximas décadas.

Segundo o acadêmico, o que o mundo presencia “não é um colapso súbito, mas o lento desmonte da hegemonia americana”, processo que, em sua avaliação, “redefinirá a ordem mundial”. Para ele, o poder internacional “nunca é estático”, e a ascensão e queda das potências são fenômenos recorrentes na história.

“Quando um Estado se torna poderoso demais, outros inevitavelmente se equilibram contra ele, direta ou indiretamente”, afirmou Mearsheimer.


A ilusão da unipolaridade

Após o colapso da União Soviética, os Estados Unidos acreditaram ter alcançado o que teóricos liberais chamaram de “fim da história” — um mundo dominado por valores liberais, capitalistas e democráticos.
Mearsheimer explica que, nos anos 1990, Washington se viu “sozinho no topo”, exercendo supremacia militar, econômica e ideológica.

Essa confiança, porém, foi o início do declínio.

“Essa convicção foi a semente da arrogância. O poder convida à ilusão, e a unipolaridade, por sua própria natureza, estimula a cegueira estratégica”, disse o professor.

A expansão da OTAN para o Leste Europeu e as intervenções militares no Oriente Médio — como no Iraque, Afeganistão e Líbia — são, segundo ele, exemplos da “ilusão de poder ilimitado” que marcou a política externa americana no período.

“A guerra do Iraque foi talvez a expressão mais clara da arrogância unipolar. Washington acreditava poder depor um ditador, instalar uma democracia e reconfigurar toda uma região com mínima resistência. O resultado foi o caos”, afirmou Mearsheimer.


O retorno do equilíbrio de poder

Enquanto os Estados Unidos se envolviam em guerras dispendiosas e de baixo retorno estratégico, China e Rússia adotavam posturas de reconstrução e aprendizado.

“A China modernizou-se silenciosamente, construindo poder industrial, tecnológico e militar sem provocar confronto prematuro”, observou.

Já a Rússia, enfraquecida na década de 1990, reergueu suas forças armadas sob Vladimir Putin, restabelecendo influência regional e impondo “linhas vermelhas” em áreas próximas, especialmente no Leste Europeu.

Esses movimentos, segundo o teórico, desfizeram o mito da ordem americana incontestada.
A crise financeira de 2008, cujo epicentro foi o sistema bancário de Wall Street, expôs a vulnerabilidade do modelo liberal.

“O colapso não ocorreu no mundo em desenvolvimento, mas no coração do capitalismo ocidental”, destacou Mearsheimer.


A sobreextensão imperial e o desgaste interno

Para o professor da Universidade de Chicago, o declínio americano é resultado de uma combinação de fatores externos e internos.

“Guerras sem fim drenaram a confiança pública, a desigualdade econômica se ampliou e a polarização política paralisou a governança”, resumiu.

Mesmo diante dessas fragilidades, Washington manteve uma política externa de presença global constante, ignorando seus próprios limites.

Mearsheimer compara o atual momento dos EUA ao de impérios históricos que sucumbiram ao excesso de ambição.

“O Império Britânico acreditava em sua missão civilizadora; a União Soviética, em sua certeza ideológica. Ambos ignoraram os custos de manter compromissos globais insustentáveis. Os Estados Unidos repetem esses erros sob o manto do universalismo liberal.”


O mundo multipolar e o fim da hegemonia

Para Mearsheimer, o período unipolar iniciado em 1991 foi uma anomalia histórica, sustentada pela ausência de rivais comparáveis.

“Essas condições já não existem”, afirmou.

Hoje, o poder global está mais disperso, a legitimidade americana foi abalada, e as capacidades econômicas e militares estão mais equilibradas entre potências.

“Os Estados Unidos ainda podem moldar o mundo, mas não mais ditá-lo.”

O professor alerta que a sobreextensão militar, econômica e tecnológica se tornou um limite real ao poder americano e um catalisador de instabilidade internacional.

Washington tenta preservar sua supremacia em setores estratégicos — como inteligência artificial, semicondutores e espaço — mas enfrenta concorrência direta da China, da Rússia e até de aliados europeus que buscam autonomia estratégica.


“O declínio não é uma hipótese, é uma certeza”

No encerramento de sua análise, Mearsheimer é enfático:

“A queda de Washington não é uma questão de se, mas de quando.”

Segundo o cientista político, o declínio norte-americano já está em curso, e a transição para uma ordem mundial multipolar é inevitável e turbulenta.

“A história é implacável. Impérios se expandem até ultrapassar seus limites. Adversários se adaptam. E a ilusão da invencibilidade cede lugar à dura realidade do equilíbrio, da contenção e das consequências.”


Um novo ciclo na ordem internacional

A análise de John Mearsheimer reforça a visão realista clássica das Relações Internacionais: o poder é relativo, mutável e inevitavelmente contestado.
O teórico prevê que as próximas décadas serão marcadas por competição entre grandes potências, reconfiguração de alianças e erosão do domínio político e econômico dos Estados Unidos.

Com a ascensão da China como superpotência global, o fortalecimento da Rússia e o crescimento de polos regionais na Ásia, Europa e América Latina, o sistema internacional caminha para uma multipolaridade instável, em que nenhuma nação exercerá supremacia absoluta.

“O equilíbrio de poder está retornando — e com ele, a história como sempre foi: competitiva, imprevisível e, acima de tudo, humana”, conclui Mearsheimer.


📊 Resumo da análise de John Mearsheimer:

  • Tema: declínio da hegemonia americana e transição para um mundo multipolar
  • Causa principal: sobreextensão militar e arrogância unipolar pós-Guerra Fria
  • Fatores internos: polarização política, desigualdade e desgaste econômico
  • Fatores externos: ascensão da China e ressurgimento da Rússia
  • Conclusão: o declínio dos EUA é inevitável; a unipolaridade está chegando ao fim

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