O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou neste domingo (12) que há sinais positivos de que os Estados Unidos poderão suspender a tarifa de 40% aplicada sobre produtos brasileiros desde agosto. A informação foi divulgada pelo jornal O Globo e indica um possível avanço nas negociações bilaterais entre os dois países.
Segundo Alckmin, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um pedido direto ao presidente americano, Donald Trump, solicitando a suspensão temporária da sobretaxa enquanto as conversas diplomáticas prosseguem. O objetivo é garantir condições comerciais mais equilibradas até que seja firmado um acordo definitivo.
“O pedido do presidente Lula para o presidente Trump foi de, enquanto se negocia, suspender os 40%. Esse foi o pleito: enquanto negocia, suspende os 40%. E aí a gente passa para um ganha-ganha, tem muita possibilidade de parceria entre Brasil e Estados Unidos”, declarou Alckmin.
Redução parcial das tarifas em alguns setores
Embora a tarifa ainda incida sobre a maior parte das exportações brasileiras, alguns setores já começaram a registrar alívio parcial nas últimas semanas. De acordo com o vice-presidente, produtos como celulose e ferro-níquel já tiveram a tarifa de importação reduzida a zero nos Estados Unidos, representando cerca de 4% das exportações totais do Brasil.
“Celulose, ferro-níquel, já é 0%. Isso dá 4% da exportação brasileira. Semana passada, madeira encerada e macia estava em 50%, veio para 10%. Armário, sofá, móveis, estava em 50%, veio para 25%. O que nós precisamos é avançar mais depressa”, afirmou Alckmin.
A redução parcial das tarifas é vista como um gesto de boa vontade do governo americano diante das tratativas em curso. Diplomatas brasileiros acreditam que o movimento sinaliza uma disposição de Washington em revisar medidas protecionistas adotadas nos últimos meses.
Contexto das negociações bilaterais
A sobretaxa de 40% foi imposta em agosto sobre uma ampla lista de produtos brasileiros, incluindo bens industrializados, móveis e derivados de madeira, sob a justificativa de “desequilíbrio comercial” e práticas desleais de concorrência. Desde então, o governo brasileiro tem buscado soluções diplomáticas para mitigar os impactos da medida sobre a indústria nacional.
O Ministério do Desenvolvimento calcula que as tarifas adicionais afetam bilhões de dólares em exportações e comprometem a competitividade de empresas brasileiras no mercado norte-americano. O tema tem sido prioridade nas conversas bilaterais, especialmente em um momento de reaproximação política entre Brasília e Washington.
Segundo fontes ligadas ao Itamaraty, o Brasil pretende ampliar o diálogo econômico com os Estados Unidos, buscando novas parcerias nas áreas de energia limpa, semicondutores e infraestrutura sustentável, em linha com os compromissos assumidos por ambos os países em fóruns multilaterais.
Encontro previsto entre Lula e Trump na Malásia
Alckmin também confirmou que há expectativa de um encontro presencial entre Lula e Trump no final de outubro, na Malásia, para dar continuidade às discussões sobre o tema. O primeiro contato direto entre os dois presidentes ocorreu em setembro, durante a Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, quando a pauta tarifária foi apresentada de forma preliminar.
Diplomatas afirmam que o encontro na Malásia poderá consolidar uma agenda de cooperação econômica mais ampla, envolvendo temas como balanço comercial, investimentos industriais e integração tecnológica. A expectativa é que, até lá, equipes técnicas dos dois países avancem na formulação de um plano para redução progressiva das tarifas e harmonização de padrões regulatórios.
Repercussões econômicas e políticas
A possível suspensão da tarifa é vista por economistas como uma vitória diplomática para o governo brasileiro, especialmente por reduzir pressões sobre o setor industrial e melhorar o ambiente para exportações. O alívio tarifário tende a estimular a retomada das vendas externas, sobretudo de bens manufaturados e semimanufaturados, que vinham enfrentando forte perda de competitividade desde a entrada em vigor das sobretaxas.
Empresários dos setores moveleiro, químico e metalúrgico consideram que a medida abre espaço para recompor contratos e recuperar margens de exportação. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avaliou que uma eventual suspensão total das tarifas pode gerar um impacto positivo de até US$ 2,5 bilhões nas exportações brasileiras até o fim do próximo ano.
No campo político, a negociação reforça a atuação pragmática da diplomacia brasileira, que busca preservar o diálogo com Washington ao mesmo tempo em que mantém parcerias comerciais estratégicas com outras potências, como China e União Europeia.
Caminho para um acordo comercial
Fontes próximas ao governo afirmam que as negociações entre Brasil e Estados Unidos podem evoluir para a criação de um acordo de cooperação econômica setorial, com foco em cadeias produtivas estratégicas. A ideia é facilitar o comércio de produtos com alto valor agregado e fomentar investimentos bilaterais em tecnologia, energia e infraestrutura verde.
Para o vice-presidente Alckmin, o momento representa uma oportunidade de redefinir as bases da relação comercial entre os dois países. “O Brasil quer ampliar sua presença nos mercados globais e fortalecer parcerias que tragam benefícios mútuos. É o que estamos fazendo com os Estados Unidos”, afirmou.
Enquanto isso, equipes do Ministério do Desenvolvimento e do Itamaraty continuam trabalhando em propostas que garantam reciprocidade tarifária e proteção para os setores mais afetados. O governo espera apresentar resultados concretos antes da COP30, evento que deve reunir líderes mundiais em Belém (PA) em 2025 e no qual o tema das relações comerciais sustentáveis deverá ter destaque.
Se confirmada, a suspensão das tarifas representará um avanço importante nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, reforçando o papel de Lula e Alckmin na articulação de uma política externa voltada à cooperação econômica e estabilidade diplomática.