Saiba quantos cargos o Centrão ocupava no governo enquanto boicotava Lula no Congresso

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O governo federal iniciou uma ampla reformulação em cargos comissionados após uma derrota significativa no Congresso Nacional, que expôs fragilidades na base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Levantamento divulgado pelo UOL aponta que cerca de 380 pessoas filiadas a partidos do Centrão — que controlam ministérios na Esplanada — ocupavam postos estratégicos antes da onda de demissões oficializada na sexta-feira (10).

A decisão do Palácio do Planalto de exonerar indicados políticos foi tomada logo após as legendas votarem para deixar caducar a Medida Provisória que aumentaria impostos sobre apostas esportivas online e investimentos financeiros. A derrota da MP representou uma ruptura na coalizão parlamentar que sustentava o governo e provocou uma reação imediata do Executivo.

Segundo interlocutores do Planalto, o movimento sinaliza um recado político ao Centrão: cargos e espaços no governo dependerão do apoio efetivo em votações prioritárias no Congresso.

“O governo entendeu que é preciso ajustar a base e reavaliar alianças. O recado foi claro: quem não apoia, perde espaço”, afirmou um assessor presidencial ouvido sob reserva.

Reação ao Centrão e perda de coesão política

A medida ocorre em meio a um ambiente de tensões crescentes entre o Planalto e o Legislativo, sobretudo após sucessivas dificuldades para aprovar matérias econômicas e fiscais. Apesar de abrigar lideranças do União Brasil, MDB, PSD, PP e Republicanos em ministérios estratégicos, o governo tem enfrentado resistência de parte dessas bancadas em votações que exigem coesão política.

De acordo com a apuração, o União Brasil liderava o número de indicações, seguido por MDB, PSD, PP e Republicanos — todos partidos que mantêm representação expressiva na Câmara e no Senado.

Os desligamentos foram interpretados como uma retaliação direta à decisão do Centrão de não apoiar a MP das apostas, medida considerada essencial para aumentar a arrecadação e reduzir o déficit fiscal. A movimentação também é vista como um teste de fidelidade política antes da tramitação de novas pautas econômicas no Congresso.

União Brasil tem maior número de cargos exonerados

De acordo com o levantamento, o União Brasil detinha 119 cargos comissionados distribuídos em 26 ministérios, com destaque para o Ministério da Integração Regional, comandado por Waldez Góes, indicado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).

Além da pasta, havia ocupações na Presidência da República, Advocacia-Geral da União (AGU), Ministério dos Transportes e até na Funai, vinculada ao Ministério dos Povos Indígenas. A legenda foi uma das mais atingidas pelas exonerações.

“É um movimento de reacomodação política. O União Brasil vinha ocupando cargos sem entregar votos”, comentou um analista político ouvido pelo UOL.

MDB mantém força no Ministério dos Transportes

O MDB aparece em segundo lugar, com 112 cargos, mantendo influência expressiva no Ministério dos Transportes, chefiado por Renan Filho (MDB-AL). O partido também detém posições relevantes nas pastas da Saúde, Minas e Energia, Gestão e Inovação e na própria Presidência da República.

Apesar das demissões, o MDB segue com forte presença na Esplanada, resultado de um acordo político firmado no início do governo Lula para garantir apoio legislativo. No entanto, parlamentares emedebistas vêm votando de forma dividida, o que tem gerado atritos com o Planalto.

PSD amplia influência desde o início do governo

O PSD ocupa 63 cargos e é o único partido que ampliou sua participação na máquina pública desde o início da gestão atual. O avanço ocorreu principalmente nos ministérios da Agricultura, Pesca, Saúde, Integração e Povos Indígenas.

A legenda, liderada por Gilberto Kassab, tem adotado postura pragmática, apoiando o governo em votações pontuais, mas mantendo autonomia em temas econômicos e fiscais. Essa flexibilidade tem permitido ao PSD preservar e expandir seu espaço político sem se alinhar integralmente ao Planalto.

PP concentra espaços nos Esportes e áreas técnicas

O Progressistas (PP), partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), conta com 48 cargos federais, sete deles no Ministério do Esporte, chefiado por André Fufuca (PP-MA). A legenda também mantém presença na AGU, na Saúde, na Integração Regional e no Ministério da Gestão e Inovação.

As demissões de indicados do PP foram interpretadas como um gesto simbólico do Planalto, já que Lira foi um dos principais articuladores da não votação da MP das apostas. O episódio reforçou o distanciamento crescente entre o presidente da Câmara e o governo.

Republicanos preserva cargos em Portos e Integração

O Republicanos possui 36 cargos no Executivo, com destaque para o Ministério da Integração e para o Ministério de Portos e Aeroportos, comandado por Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). A legenda também mantém posições nos ministérios dos Transportes, Povos Indígenas e Agricultura.

Embora tenha votado contra a MP das apostas, o partido tenta preservar parte do espaço político conquistado no início do governo, sob o argumento de que cumpre papel de interlocução entre o Executivo e as bancadas evangélicas.

Impactos e recomposição da base

As demissões promovidas pelo Planalto são vistas como um movimento de reposicionamento político e recomposição da base aliada, em meio à pressão por resultados legislativos e à necessidade de aprovar pautas econômicas antes do fim do ano.

Interlocutores do governo afirmam que novas nomeações devem priorizar técnicos de carreira e aliados de confiança direta do presidente Lula, reduzindo a dependência de indicações partidárias.

Analistas políticos avaliam que a medida tem duplo efeito: sinaliza firmeza do governo diante de traições parlamentares, mas também aumenta o risco de isolamento político no Congresso. O Planalto aposta que a retomada de articulações diretas com lideranças estaduais e prefeitos pode compensar a perda de apoio em Brasília.

Cenário legislativo e próximos passos

Com a agenda fiscal em pauta e a necessidade de ampliar a arrecadação federal, o governo busca reconstruir pontes com os partidos dissidentes, oferecendo novos espaços e interlocuções regionais em troca de apoio nas votações futuras.

A expectativa é que a reforma dos cargos comissionados continue nas próximas semanas, em um processo gradual de substituição de nomes ligados ao Centrão por quadros técnicos e aliados mais alinhados ao Planalto.

Enquanto isso, líderes partidários evitam confronto direto, mas admitem que o clima político se deteriorou. “As exonerações mostram que o governo quer mandar um recado. Resta saber se o Congresso vai responder com diálogo ou com mais resistência”, disse um parlamentar do MDB.

O episódio evidencia as dificuldades do governo em manter uma coalizão estável, num ambiente de fragmentação partidária e disputa por espaço. A recomposição da base será determinante para o ritmo das votações no Congresso e para o sucesso das políticas econômicas do governo em 2025.


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