O que deveria ser uma celebração de apoio financeiro transformou-se em um ato de submissão explícita. A visita do presidente argentino Javier Milei à Casa Branca, que prometia ser um marco de respaldo internacional, culminou em uma demonstração de ingerência que abalou tanto a soberania nacional quanto os mercados financeiros. A festa foi arruinada por uma única frase de Donald Trump, que converteu uma promessa de ajuda em uma crua extorsão.
Financistas e especuladores em Buenos Aires e Wall Street aguardavam com otimismo os anúncios de Washington. O clima era de euforia, com os ativos argentinos registrando uma alta inicial de mais de 5%. Contudo, a expectativa foi frustrada quando Trump, olhando diretamente para Milei, condicionou o futuro da ajuda financeira ao resultado das próximas eleições. “Estamos aqui para te dar apoio nas próximas eleições”, afirmou, para em seguida sentenciar: “Mas se ele não vencer, não perderemos nosso tempo: não seremos generosos com a Argentina”.
A reação foi imediata e devastadora. A promessa de um swap de 20 bilhões de dólares, que funcionaria como um crédito vital para as reservas do Banco Central, virou pó. Ações e títulos da dívida argentina, que antes subiam, despencaram até 10%. A estabilidade financeira, que Milei foi buscar em Washington, foi trocada por uma ameaça direta que transformou o mercado em um campo de batalha político. A mensagem era clara: ou o projeto ultraliberal de Milei se mantém, ou o capital externo não apenas se retira, mas atuará para desestabilizar a economia.
O acordo, que já era limitado — servindo exclusivamente como garantia para o pagamento da dívida em moeda estrangeira e evitando um default —, agora se revelou um instrumento de chantagem. Não houve reinterpretação capaz de suavizar o impacto. A visita, que contou com a presença de figuras-chave como o chanceler Gerardo Werthein e os ministros Luis Caputo e Patricia Bullrich, terminou sem nenhum anúncio concreto de ajuda, apenas com a imposição de uma condicionalidade que ataca frontalmente a soberania do povo argentino. Trump ainda se deu ao luxo de atacar um possível adversário de Milei em 2027, referindo-se a Axel Kicillof como um “comunista de extrema esquerda”.
A instabilidade foi amplificada por um relatório do Morgan Stanley, que já previa um cenário de desvalorização do peso, projetando o dólar acima de 2.000 pesos em caso de derrota do oficialismo. A fala de Trump apenas confirmou o que os analistas já temiam: a economia argentina tornou-se um joguete nas mãos de interesses estrangeiros. Um analista local resumiu o sentimento geral ao classificar Trump como um “megalomaníaco que acredita que sua opinião pode virar o voto a favor de Milei”.
Ao final, o encontro que deveria selar uma parceria estratégica serviu para expor a fragilidade de um governo que, em troca de um apoio condicional e volátil, parece disposto a rifar sua autonomia. A grande questão que fica não é se a ajuda virá, mas a que custo para a soberania e para o futuro da Argentina.