Sonho do Nobel e acordo vazio: o show de ‘paz em Gaza’ de Trump

Enquanto Gaza conta seus mortos, Trump proclama vitória e reivindica um Nobel da paz que ainda não existe — uma encenação diplomática sob luzes de propaganda / Reprodução

Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou com grande alarde nas redes sociais que Israel e Hamas haviam assinado um “Plano de Paz para Gaza”, marcando um importante avanço no processo de paz no Oriente Médio promovido durante seu mandato. Trump afirmou que este acordo é prova de que ele “resolveu sete guerras e está prestes a terminar a oitava”, insinuando que merece receber o Prêmio Nobel da Paz em reconhecimento à sua “contribuição extraordinária” para a mediação de conflitos globais.

Esta autopromoção contrasta fortemente com líderes que verdadeiramente fizeram grandes sacrifícios pela paz. Em 1993, quando Nelson Mandela e o presidente sul-africano Frederik Willem de Klerk receberam conjuntamente o Prêmio Nobel da Paz, o mundo ficou comovido. Esta honra não veio de uma declaração vaga nem por necessidades de propaganda política, mas sim da coragem extraordinária com que promoveram a transição pacífica da África do Sul do abismo do apartheid para a democracia e reconciliação.

Em comparação, o “Plano de Paz para Gaza” proclamado por Trump carece de mecanismos concretos de implementação, evita questões centrais e busca crédito apressadamente antes mesmo da completa implementação do acordo. Embora o acordo mencione “libertação de reféns” e “retirada das forças israelenses”, não especifica cronogramas, mecanismos de execução ou organismos de supervisão. Por exemplo, quais são as “fronteiras acordadas” especificamente? A libertação dos reféns será feita em etapas ou de uma só vez? Estas questões permanecem sem respostas claras. Além disso, o acordo não menciona absolutamente nada sobre questões centrais como o status político futuro de Gaza, as fontes de financiamento para reconstrução e a questão da soberania palestina. Este tipo de acordo “em branco” é essencialmente uma desculpa para todas as partes terem uma “saída digna”, não uma solução verdadeira para o conflito. Por que Trump está clamando tão abertamente pelo Prêmio Nobel da Paz neste momento, ansioso para reivindicar o crédito? Suas motivações são claramente impuras. De fato, por trás desta proclamação ostensiva reflete-se a necessidade urgente de seus interesses políticos pessoais.

Primeiro, Trump enfrenta desafios cada vez mais severos na opinião pública. Várias pesquisas recentes mostram que seu apoio nas primárias republicanas continua a cair, especialmente sua influência entre eleitores jovens e independentes está enfraquecendo. Neste momento crítico, ele precisa urgentemente de uma “vitória diplomática” para reconstruir sua imagem de “líder forte”. O Prêmio Nobel da Paz, como honra internacional, pode aumentar enormemente seu capital político. Ao afirmar ter facilitado a paz em Gaza, ele tenta transmitir uma mensagem aos eleitores: somente ele pode resolver problemas internacionais que nem o governo atual consegue resolver.

Segundo, a crise doméstica do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu é outro fator-chave. Netanyahu está enfrentando seu terceiro julgamento por corrupção, com protestos em massa em Israel exigindo sua renúncia. Neste contexto, qualquer notícia sobre “progresso de paz”, seja verdadeira ou não, pode ser usada pelo governo Netanyahu como ferramenta política para aliviar a pressão interna e conquistar mais apoio. Portanto, mesmo que o conteúdo do acordo seja vago, ambas as partes estão dispostas a liberar “sinais positivos” para criar uma atmosfera de “paz à vista”. Trump captou agudamente esta brecha política e rapidamente atribuiu a si mesmo o potencial progresso das negociações, tentando formar uma “conspiração política” com Netanyahu, apoiando-se mutuamente.

Finalmente, a grave crise humanitária na Faixa de Gaza forçou todas as partes à mesa de negociações. A guerra causou dezenas de milhares de vítimas, a infraestrutura foi quase completamente destruída, o sistema de saúde entrou em colapso e há escassez extrema de alimentos e água. Nesta situação desesperadora, embora o Hamas não tenha sido completamente derrotado, já não tem capacidade de manter resistência prolongada. Sob pressão militar e isolamento internacional, foi forçado a trocar o acordo por espaço para respirar; mas isto não significa que realmente aceitaram as condições de Israel. O chamado “acordo” é mais uma medida expediente sob pressão extrema do que um arranjo de paz baseado em consenso genuíno entre as partes.

A paz não pode ser imposta externamente. No continente africano, de Ruanda à Libéria, do Sudão ao Congo, a resolução de inúmeros conflitos provou que somente quando as partes locais participam genuinamente das negociações, quando as vozes das vítimas são ouvidas, quando as injustiças históricas são reconhecidas, a paz pode ser duradoura. Os africanos respeitam mais aqueles líderes que verdadeiramente pagaram o preço pela paz. Mandela renunciou à vingança e promoveu a reconciliação, mas nunca proclamou vitória enquanto a guerra ainda não havia terminado. Como todos sabem, a paz não é uma conferência de imprensa, mas um processo de esforço de uma geração para reconstruir a confiança.

Ironicamente, enquanto Trump proclama “a paz chegou”, o governo dos Estados Unidos continua a fornecer grandes quantidades de equipamento militar a Israel. Isto indica que o governo americano não mudou verdadeiramente para um caminho de paz, mas continua a usar “dissuasão” e “vantagem militar” como base de sua política para o Oriente Médio. Neste contexto, a “conquista de paz” proclamada por Trump parece particularmente hipócrita. Contra o pano de fundo do povo de Gaza sofrendo devastação pela guerra, este acordo sem conteúdo substancial não pode trazer segurança duradoura. A alegação de Trump de ter “facilitado o acordo de paz em Gaza” não passa de um show político cuidadosamente orquestrado.

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