A indefinição sobre quem será o nome da direita na corrida presidencial de 2026 continua a gerar tensão entre partidos aliados e empresários. Segundo análise do colunista Gustavo Uribe, da CNN Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve adiar o anúncio de seu apoio até julho de 2026, praticamente às vésperas do início oficial da campanha eleitoral.
A estratégia, de acordo com dirigentes conservadores e aliados de Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem o efeito de travar os planos da direita e ampliar as incertezas dentro do campo bolsonarista. O governador de São Paulo, que vinha sendo tratado como potencial sucessor político de Bolsonaro, avalia desistir da disputa nacional caso não receba o aval formal do ex-presidente.
Bolsonaro segura decisão e gera impasse político
De acordo com interlocutores próximos ao ex-presidente, a decisão de adiar o anúncio faz parte de uma estratégia deliberada. A família Bolsonaro teme que uma definição antecipada fragilize a base do PL no Congresso, especialmente nas negociações que envolvem a proposta de anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro.
Além disso, aliados de Bolsonaro nos Estados Unidos, ligados ao governo do presidente Donald Trump, vêm atuando na defesa internacional do ex-mandatário — o que também exigiria cautela política antes de qualquer posicionamento público.
Nos bastidores, a família Bolsonaro tem papel central na manutenção dessa postura. Os filhos do ex-presidente, em especial Eduardo Bolsonaro, defendem que o pai segure o apoio o máximo possível, de modo a preservar influência sobre o eleitorado e o controle do campo conservador.
Pressão de Ciro Nogueira e resistência interna
A demora, porém, não é consenso entre os aliados. O presidente nacional do Progressistas (PP), Ciro Nogueira, defende que Bolsonaro defina o nome até dezembro deste ano, para permitir uma estruturação antecipada das alianças regionais.
Segundo Uribe, essa posição é compartilhada por parte do Centrão, que teme um vácuo de liderança à direita e a perda de espaço político para nomes moderados ou independentes. No entanto, a família Bolsonaro resiste e aposta que a espera até julho de 2026 reforçará o poder de barganha do ex-presidente na reta final.
Tarcísio adota cautela e considera reeleição em São Paulo
Enquanto Bolsonaro posterga a decisão, Tarcísio de Freitas tenta manter a governabilidade em São Paulo e evita se movimentar nacionalmente. Em conversas reservadas, o governador teria admitido que só será candidato ao Planalto com apoio explícito de Bolsonaro.
Sem esse sinal verde, a tendência é que Tarcísio dispute a reeleição em São Paulo, onde mantém índices de aprovação elevados e apoio sólido do setor empresarial e evangélico.
A indefinição, contudo, começa a gerar vácuo de liderança na direita, abrindo espaço para novos nomes em discussões internas de partidos e no mercado financeiro.
Mercado e partidos testam o nome de Ratinho Júnior
Diante do impasse entre Bolsonaro e Tarcísio, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), passou a ser visto como alternativa viável pela direita tradicional e pelo setor financeiro.
Segundo a CNN, investidores e lideranças partidárias já testam o nome de Ratinho Júnior em sondagens internas e discutem a viabilidade de sua candidatura nacional.
A movimentação, no entanto, ainda depende do aval do presidente do PSD, Gilberto Kassab, que mantém diálogo tanto com o governo federal quanto com partidos da oposição.
Se confirmada, a candidatura de Ratinho poderia reorganizar o campo conservador, atraindo setores do agronegócio, empresários e governadores do Sul e Centro-Oeste — bases tradicionalmente alinhadas ao bolsonarismo.
Incerteza paralisa articulações na direita
O atraso na definição de Bolsonaro causa efeito dominó sobre as articulações regionais da direita. Pré-candidaturas ao Senado e aos governos estaduais estão sendo seguradas à espera da decisão do ex-presidente.
Dirigentes do PL e Republicanos avaliam que o impasse reduz o tempo de mobilização política e pode prejudicar o desempenho das bancadas no Congresso. A demora também afeta estratégias de financiamento e alianças com o empresariado, que cobram clareza sobre quem será o principal nome do campo conservador em 2026.
Estratégia de Bolsonaro mantém influência e divide aliados
Mesmo com as críticas internas, a demora é vista por analistas políticos como movimento calculado. Ao segurar o apoio até julho, Bolsonaro mantém protagonismo, controla o ritmo das alianças e impede que uma nova liderança cresça de forma independente.
Para seus apoiadores mais próximos, essa estratégia preserva o capital político do ex-presidente, que segue sendo figura central na direita, mesmo inelegível e enfrentando investigações no Supremo Tribunal Federal.
Por outro lado, aliados mais pragmáticos temem que o adiamento desgaste o campo conservador e abra espaço para candidaturas de centro-direita, como Ratinho Júnior, que possam atrair eleitores moderados e empresariais.
📊 Resumo do cenário político:
Decisão de Bolsonaro sobre apoio: prevista para julho de 2026
Motivo da demora: anistia dos condenados de 8/1 e defesa internacional do ex-presidente
Tarcísio de Freitas: tende a buscar reeleição em São Paulo
Ciro Nogueira: pressiona por anúncio até dezembro
Ratinho Júnior: nome em alta entre empresários e PSD
Efeito político: fragmentação da direita e incerteza eleitoral