EUA expostos: China ameaça cortar minerais e medicamentos e deixa Washington em posição vulnerável na guerra comercial

A guerra comercial entre Estados Unidos e China atingiu um novo patamar de tensão, expondo a dependência estratégica de Washington de produtos e insumos controlados por Pequim. A análise foi publicada pelo Financial Times e repercutida pela RT Brasil, que destacou o reconhecimento do próprio presidente norte-americano, Donald Trump, de que a imposição de tarifas de até 100% sobre produtos chineses seria “insustentável” diante da atual interdependência econômica entre as duas potências.

Trump admite limites e tenta preservar relação com Pequim

Embora mantenha o discurso de firmeza, Trump admitiu que a pressão tarifária tem alcance limitado, sobretudo em setores nos quais os EUA dependem quase integralmente da China.

“Temos uma boa relação com Xi Jinping e acredito que podemos alcançar um acordo justo”, declarou o presidente, em referência à próxima reunião bilateral entre os dois líderes.


Para o Financial Times, essa fala indica uma inflexão na postura da Casa Branca, refletindo o entendimento de que Pequim possui instrumentos mais eficazes de retaliação econômica.

Analistas citados pelo jornal britânico apontam que a China vem diversificando suas formas de influência, concentrando-se no controle de insumos críticos — como minerais raros e princípios ativos farmacêuticos —, sem depender exclusivamente de medidas tarifárias.

Minerais raros: o ponto mais sensível da economia americana

Os minerais de terras raras emergem como principal vulnerabilidade dos Estados Unidos. No início do embate comercial, Trump acreditava que a balança comercial favorável à China daria aos EUA margem de manobra. No entanto, a substituição desses produtos mostrou-se inviável a curto prazo.

Esses elementos são essenciais para tecnologias avançadas e equipamentos militares, incluindo satélites, sistemas de comunicação, carros elétricos e, principalmente, os caças F-35, considerados estratégicos para a defesa norte-americana.

A China domina mais de 70% da produção global de minerais raros e já sinalizou restrições de exportação a partir de dezembro, segundo a reportagem. Especialistas ouvidos pelo Financial Times avaliam que uma eventual limitação poderia paralisar cadeias inteiras da indústria militar e tecnológica dos EUA.

Essa medida seria, portanto, um instrumento de pressão sem precedentes, com potencial de atingir diretamente o coração do complexo industrial de defesa americano.

Dependência farmacêutica: risco à saúde pública dos EUA

A vulnerabilidade dos Estados Unidos não se limita ao setor de defesa. De acordo com estimativas citadas pelo Financial Times, cerca de 700 medicamentos comercializados em território americano dependem de insumos produzidos exclusivamente na China.

A lista inclui antibióticos, tratamentos oncológicos, medicamentos para doenças cardíacas, antialérgicos e antivirais, entre outros. O cenário revela que o sistema de saúde dos EUA está intrinsecamente ligado à cadeia produtiva chinesa, especialmente no fornecimento de ingredientes farmacêuticos ativos (IFAs).

Essa dependência coloca o governo americano em posição de fragilidade estratégica caso ocorram restrições de exportação, sanções ou interrupções logísticas. Em uma situação de escalada geopolítica, a escassez desses insumos poderia gerar impactos imediatos no sistema hospitalar e farmacêutico.

Interdependência global e riscos geopolíticos

A guerra comercial, que começou com tarifas recíprocas sobre produtos industriais e tecnológicos, evoluiu para uma disputa por cadeias de suprimentos críticas. O Financial Times observa que, ao contrário dos Estados Unidos, a China estruturou políticas industriais de longo prazo, garantindo autossuficiência e controle em setores estratégicos, como energia limpa, semicondutores e mineração de terras raras.

Pequim também intensificou parcerias comerciais com países da Ásia, África e América Latina, reduzindo sua vulnerabilidade às sanções norte-americanas e ampliando sua influência sobre rotas de fornecimento globais.

Nos bastidores, Trump tenta equilibrar retórica política e pragmatismo econômico. O governo norte-americano teme que um corte abrupto nas importações chinesas provoque inflação nos Estados Unidos, especialmente em tecnologia, medicamentos e energia renovável, setores diretamente ligados ao consumo doméstico e à segurança nacional.

A disputa vai além das tarifas

O confronto entre Washington e Pequim ultrapassou a esfera comercial e se transformou em disputa geoestratégica por controle de cadeias de suprimento. Para o Financial Times, o domínio chinês sobre setores críticos confere ao país poder de barganha superior ao norte-americano em uma eventual negociação.

A reação dos EUA tem sido buscar diversificação de fornecedores, especialmente em países aliados da Ásia e da América Latina. No entanto, a substituição da base industrial chinesa não é viável no curto prazo, já que a infraestrutura de produção e refino de minerais raros levou décadas para ser construída.

O governo de Trump, segundo fontes citadas pelo Financial Times, estuda incentivos fiscais para empresas que relocalizem parte da produção, além de novos acordos bilaterais para ampliar o acesso a recursos naturais estratégicos fora do território chinês.

Perspectivas e cenário futuro

Analistas preveem que a guerra comercial entrará em fase de maior complexidade em 2026, quando as medidas de restrição de exportação chinesas começarem a produzir efeitos concretos sobre o setor industrial dos EUA.

O impacto poderá ser particularmente severo em áreas de defesa, energia limpa e biotecnologia, onde a dependência tecnológica e material é mais profunda.

O Financial Times conclui que, diante desse quadro, a Casa Branca terá de escolher entre endurecer as sanções e correr o risco de desabastecimento, ou buscar acordos que reduzam o custo político e econômico do confronto com Pequim.

“A guerra comercial revelou que a globalização não desapareceu — apenas mudou de direção”, resume um analista ouvido pelo jornal. “Hoje, quem controla os insumos controla o poder.”

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