A Petrobras projeta iniciar a produção de petróleo e gás na Margem Equatorial em um prazo de sete a oito anos, caso as reservas esperadas sejam confirmadas nos primeiros poços exploratórios. A estimativa foi apresentada pela presidente da estatal, Magda Chambriard, em entrevista à Reuters, após a liberação da licença ambiental do Ibama que autoriza a perfuração pioneira no bloco FZA-M-59, em águas profundas do litoral do Amapá.
Segundo a executiva, a autorização obtida na última semana pode acelerar os próximos licenciamentos, uma vez que parte das exigências ambientais já foi cumprida durante a Avaliação Pré-Operacional (APO) — um extenso simulado de emergência realizado em conjunto entre a Petrobras e o órgão ambiental.
“Os novos poços a serem perfurados não vão mais precisar de APO. Todo esse exercício que foi feito servirá para os outros. Acho que pode ser sim mais rápido o licenciamento”, afirmou Chambriard.
Exigências ambientais e reforço de segurança
A Margem Equatorial tem sido alvo de disputas ambientais e técnicas desde 2018, quando o Ibama negou pela primeira vez pedidos de perfuração na área. Em 2023, a negativa foi repetida, levando a Petrobras a revisar seu projeto e ampliar as medidas de segurança ambiental.
Para atender às novas condições impostas, a estatal investiu em infraestrutura de prevenção e resposta a emergências, incluindo:
A construção de um Centro de Reabilitação e Despetrolização de Fauna Oleada em Oiapoque (AP);
A incorporação de três embarcações de apoio offshore equipadas para resgate e tratamento de animais afetados por possíveis vazamentos;
A instalação de sistemas redundantes de monitoramento e contenção, operando em tempo real a partir de bases em Macapá e Belém.
Essas medidas, segundo Chambriard, reforçam a robustez ambiental do projeto e garantem que o país avance de forma responsável na exploração da nova fronteira energética.
“Todo o aprendizado da Avaliação Pré-Operacional servirá como base técnica para os próximos licenciamentos. Foi um trabalho inédito em escala e integração”, destacou a presidente da estatal.
Perfuração pioneira e expectativa de descobertas
A perfuração do poço pioneiro no bloco FZA-M-59 marca o início efetivo da campanha exploratória da Petrobras na Margem Equatorial. O ponto de sondagem está localizado a 175 quilômetros da costa do Amapá e a cerca de 500 quilômetros da foz do rio Amazonas.
O processo deve durar cerca de cinco meses, e o resultado será decisivo para confirmar o modelo sísmico traçado pelos geólogos da companhia.
“O primeiro passo foi dado, que é conseguir a licença para perfurar um poço pioneiro. Estamos furando num lugar muito bom, que deve dar uma descoberta. Mas só a broca vai dizer se tem descoberta”, afirmou Chambriard.
A Petrobras planeja perfuração de até seis poços adicionais durante a atual campanha. Caso o primeiro poço comprove a presença de petróleo em escala comercial, a delimitação das jazidas poderá ser concluída em até dois anos, abrindo caminho para o planejamento da produção até 2033.
Segundo a executiva, a meta é viabilizar a entrada da Margem Equatorial em operação em tempo de compensar o declínio natural da produção do pré-sal previsto para o início da próxima década.
Investimentos e prazos operacionais
O contrato de locação da sonda de perfuração foi prorrogado por cerca de oito meses, garantindo disponibilidade operacional e segurança na execução das etapas exploratórias.
O custo diário do equipamento é de aproximadamente R$ 4,2 milhões, o que torna essencial a eficiência no cumprimento dos prazos técnicos e regulatórios.
“Temos que ter uma folga. Em teoria, a gente perfura o poço, avalia o poço e, se tiver uma descoberta relevante, a gente avalia. Portanto, mais ou menos oito meses com essa sonda conosco”, explicou Chambriard.
A estatal reforça que o investimento na Margem Equatorial é estratégico para o futuro energético do Brasil, não apenas pelo potencial de reservas, mas também pelo alinhamento com políticas de transição energética e manutenção da segurança de abastecimento.
Margem Equatorial: nova fronteira do petróleo brasileiro
A Margem Equatorial se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte e é vista como a principal aposta do país para ampliar suas reservas de petróleo e gás na próxima década. Estudos geológicos apontam semelhanças com a costa da Guiana e do Suriname, onde grandes descobertas de óleo leve transformaram a região em um dos novos polos de produção global.
Segundo projeções do Itaú BBA e da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o potencial da Margem Equatorial pode alcançar 5,7 bilhões de barris de petróleo recuperáveis, o que representaria um aumento de 34% nas reservas nacionais e 58% nas reservas da própria Petrobras.
O governo federal considera o projeto estratégico para manter o Brasil entre os maiores exportadores mundiais de energia e para garantir recursos que sustentem a transição para uma economia de baixo carbono.
Contexto e desafios
Apesar do avanço recente, organizações ambientais e parte do governo ainda expressam cautela quanto aos riscos ecológicos. A região concentra ecossistemas sensíveis e comunidades costeiras vulneráveis, o que exige monitoramento contínuo e diálogo institucional.
O Ibama, por sua vez, reforça que cada nova fase da campanha exigirá licenciamento específico, com base em evidências técnicas e medidas de mitigação comprovadas.
Para Chambriard, o desafio é equilibrar a responsabilidade ambiental com o potencial econômico.
“O Brasil tem condições de liderar uma transição energética justa, aproveitando suas reservas com responsabilidade e segurança”, afirmou.
📊 Resumo da exploração na Margem Equatorial:
Bloco: FZA-M-59 (Amapá)
Distância da costa: 175 km
Prazo estimado para início da produção: até 2033
Número de poços previstos: até 6
Custo diário da sonda: R$ 4,2 milhões
Investimentos em segurança ambiental: centro de reabilitação em Oiapoque e embarcações de fauna oleada
Potencial estimado de reservas: 5,7 bilhões de barris (Itaú BBA)