Sarkozy é preso em Paris por financiamento ilegal de campanha; ex-presidente da França cumpre pena de 5 anos e fala em perseguição política

O ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy, começou nesta terça-feira (21) a cumprir pena de cinco anos de prisão na penitenciária de La Santé, em Paris, após ser condenado por conspiração em um esquema de financiamento ilegal de campanha eleitoral com recursos provenientes da Líbia. As informações são da Reuters.

Aos 70 anos, Sarkozy se tornou o primeiro ex-chefe de Estado francês a ser encarcerado desde o marechal Philippe Pétain, condenado por colaboração com os nazistas após a Segunda Guerra Mundial. Ele governou a França entre 2007 e 2012 e ainda mantém influência significativa no cenário político nacional.

A chegada à prisão e a reação pública

Sarkozy deixou sua residência de mãos dadas com a esposa, a cantora Carla Bruni, sob aplausos de apoiadores que entoavam o hino nacional francês, a Marselhesa. A cena, ocorrida no bairro de elite Villa Montmorency, no 16º distrito de Paris, foi acompanhada por centenas de manifestantes e ampla cobertura da imprensa.

Nicolas, estamos com você!”, gritavam simpatizantes reunidos desde as primeiras horas da manhã.


O ex-presidente embarcou em um carro oficial pouco depois das 9h15 (horário local) rumo à prisão de La Santé, onde ficará em regime fechado.

Acusações e condenação

Sarkozy foi acusado de orquestrar um esquema internacional de captação de recursos, durante sua campanha presidencial de 2007, com apoio financeiro do então líder líbio Muammar Gaddafi, morto em 2011 durante a Primavera Árabe.

A Justiça francesa o considerou culpado de conspiração, mas o absolveu da acusação de ter recebido pessoalmente o dinheiro. Segundo a acusação, milhões de euros em espécie teriam circulado entre intermediários franceses e o regime líbio para financiar a campanha.

Os advogados de Sarkozy recorreram da decisão e apresentaram um pedido de liberdade antecipada, aguardando análise até dezembro de 2025.

Não é um ex-presidente da República quem está sendo encarcerado esta manhã — é um homem inocente”, escreveu Sarkozy na rede X (antigo Twitter), alegando ser vítima de perseguição política.


A rotina na penitenciária de La Santé

Segundo informações da administração prisional, o ex-presidente ficará em uma ala de isolamento da penitenciária, com cela individual de cerca de 10 m², chuveiro privativo e acesso controlado à comunicação externa.

Ele poderá assistir televisão mediante taxa mensal de 14 euros e terá direito a uma linha telefônica fixa para ligações autorizadas.

Em entrevista recente ao Le Figaro, Sarkozy revelou que levaria três livros para o início da reclusão, entre eles “O Conde de Monte Cristo”, clássico de Alexandre Dumas sobre um homem injustamente preso que busca vingança.

Apoio político e reações à prisão

A prisão de Sarkozy provocou forte reação entre aliados e simpatizantes, especialmente de partidos conservadores e da extrema-direita francesa.

Nicolas Sarkozy não é um criminoso. A justiça está tomando o poder, e isso não é bom para a França”, afirmou Jacqueline Fraboulet, uma das apoiadoras que o acompanharam até a saída de sua casa.


Familiares, incluindo filhos e irmãos, estiveram presentes. Carla Bruni, visivelmente emocionada, acompanhou o marido até o veículo oficial, enquanto acenava para a multidão.

A oposição de esquerda, por outro lado, comemorou o desfecho, argumentando que a decisão reforça a independência do Judiciário e marca o fim da impunidade política na França.

Macron e aliados sob críticas

O presidente Emmanuel Macron, que mantém relação pessoal próxima com Sarkozy e Carla Bruni, teria visitado o ex-presidente dias antes de sua prisão, segundo fontes do Le Monde.

O gesto, assim como a promessa do ministro da Justiça, Gérald Darmanin, de também visitá-lo, gerou forte reação da oposição, que acusou o governo de tentar interferir simbolicamente nas decisões judiciais.

Para a esquerda francesa, a atitude de Macron fere o princípio de separação entre os poderes.

Um marco contra crimes de colarinho branco

A prisão de Sarkozy representa um divisor de águas na política francesa, simbolizando endurecimento judicial contra crimes financeiros cometidos por figuras públicas.

Durante décadas, condenações contra políticos de alto escalão na França raramente resultavam em encarceramento real. A execução da pena de Sarkozy é vista como um precedente histórico.

Analistas destacam que o episódio pode reconfigurar a percepção pública sobre corrupção e poder no país, em um momento em que a extrema-direita de Marine Le Pen cresce e o centro político busca reafirmar credibilidade institucional.

Da ascensão ao colapso político

Filho de imigrante húngaro, Nicolas Sarkozy construiu sua carreira com um discurso de modernização e vigor econômico, chegando ao poder em 2007 com a promessa de revitalizar a França.

Sua gestão, porém, foi marcada por crises sucessivas — da recessão de 2008 às reformas impopulares nas áreas trabalhista e previdenciária.

Após deixar o Palácio do Eliseu, Sarkozy continuou ativo politicamente e manteve influência nos bastidores da direita francesa, mesmo sob investigação.

Agora, preso e condenado, enfrenta o capítulo mais desafiador de sua trajetória — que muitos de seus apoiadores descrevem como “um novo Dreyfus”.

📊 Resumo do caso Sarkozy:

Condenação: conspiração e financiamento ilegal de campanha (caso Líbia)

Pena: 5 anos de prisão (parte em regime fechado)

Idade: 70 anos

Prisão: Penitenciária de La Santé, Paris

Alegação: perseguição política

Status: recorre em liberdade condicional

Redação:
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