Flávio Bolsonaro defende que os EUA ataquem barcos no Rio de Janeiro para “combater o narcotráfico”

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) provocou polêmica nesta quinta-feira (23) ao sugerir que os Estados Unidos realizem ataques militares no estado do Rio de Janeiro, semelhantes aos que o governo norte-americano vem conduzindo no Oceano Pacífico.

A declaração foi feita em resposta a uma publicação do secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, que anunciou um ataque letal a uma embarcação acusada de envolvimento com o narcotráfico. Flávio, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), comentou o post em tom de ironia, mas sua fala foi interpretada como um endosso explícito à intervenção estrangeira no território brasileiro.

“Que inveja! Ouvi dizer que há barcos como este aqui no Rio de Janeiro, na Baía de Guanabara, inundando o Brasil com drogas. Você não gostaria de passar alguns meses aqui nos ajudando a combater essas organizações terroristas?”, escreveu o senador na rede social X (antigo Twitter).


Ataques dos EUA no Pacífico e o contexto internacional

A postagem de Flávio Bolsonaro ocorre após dois ataques consecutivos realizados pelos Estados Unidos no Oceano Pacífico, em menos de 48 horas, sob a justificativa de combater o chamado “narcoterrorismo internacional”.

Segundo o comunicado de Pete Hegseth, as operações foram autorizadas pelo presidente norte-americano Donald Trump, que ordenou ataques a embarcações identificadas como parte de organizações de tráfico de drogas.

“Sob a direção do Presidente Trump, o Departamento de Guerra realizou mais um ataque cinético letal contra uma embarcação operada por uma Organização Terrorista Designada (DTO). […] Três narcoterroristas estavam a bordo e foram mortos. Nenhuma força americana ficou ferida”, afirmou Hegseth.


O secretário destacou que os alvos navegavam em rotas conhecidas de tráfico internacional, transportando entorpecentes ilícitos em águas internacionais.

As operações fazem parte de uma ofensiva militar ampliada por Washington, que desde setembro vem deslocando navios e aeronaves de combate para o Caribe e o Pacífico, sob o argumento de interromper rotas de narcotráfico ligadas à América do Sul.

Escalada entre EUA e Venezuela

Os ataques acontecem em meio à crescente tensão entre Estados Unidos e Venezuela, após o governo Trump ter oficialmente acusado o presidente Nicolás Maduro de liderar um cartel de narcotráfico internacional.

Washington anunciou uma recompensa de até US$ 50 milhões (cerca de R$ 270 milhões) por informações que levem à prisão de Maduro, e instruiu a CIA e o Pentágono a adotarem “medidas mais agressivas” contra Caracas.

Em retaliação, Maduro denunciou o que chamou de “ameaça militar mais letal” já imposta à Venezuela e pediu à comunidade internacional que intervenha diplomaticamente para evitar um conflito armado.

“Não queremos uma guerra no Caribe e na América do Sul. Diga ao povo dos Estados Unidos: sem guerra, por favor”, declarou o presidente venezuelano em inglês, em pronunciamento televisionado.


O Conselho de Direitos Humanos da ONU e a Aliança Bolivariana (ALBA-TCP) já manifestaram preocupação com as ações norte-americanas na região, classificando-as como “violações à soberania de Estados independentes”.

Críticas e repercussões no Brasil

A publicação de Flávio Bolsonaro rapidamente gerou reações negativas de parlamentares, juristas e analistas de segurança nacional, que apontaram o caráter inconstitucional da sugestão de permitir ataques militares estrangeiros em território brasileiro.

Deputados de oposição afirmaram que o comentário viola o princípio da soberania nacional e contraria tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, incluindo a Carta da ONU e o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR).

“É gravíssimo um senador da República sugerir que potências estrangeiras ataquem o território nacional. Isso é incompatível com o juramento de defesa da Constituição”, afirmou um parlamentar do PT, sob reserva.


Nas redes sociais, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro defenderam a fala como uma metáfora sobre o combate ao tráfico e à violência no Rio de Janeiro, enquanto opositores acusaram Flávio de irresponsabilidade política e de usar a pauta da segurança para provocar o governo federal.

Rio de Janeiro e o problema do narcotráfico

O estado do Rio de Janeiro tem sido palco de crises recorrentes de segurança pública, marcadas pela disputa entre facções criminosas e milícias. A Baía de Guanabara, citada por Flávio em seu post, é rota de contrabando e tráfico marítimo, monitorada pela Marinha e pela Polícia Federal.

Relatórios recentes do Instituto de Segurança Pública (ISP) indicam que o tráfico marítimo tem crescido com o uso de barcos velozes e pequenas embarcações para transporte de drogas entre favelas, portos e mar aberto.

Entretanto, a Constituição brasileira proíbe qualquer operação militar estrangeira no território nacional sem autorização formal do Congresso e do governo federal, o que torna impraticável e ilegal qualquer ação externa do tipo sugerida por Flávio Bolsonaro.

Contexto político e alinhamento com Trump

A declaração do senador reforça o estreito alinhamento da família Bolsonaro com o governo de Donald Trump, que recentemente retomou ações militares e sanções na América Latina.

Flávio Bolsonaro já havia elogiado o ex-presidente americano em outras ocasiões, afirmando que Trump “é um exemplo de coragem e patriotismo”. A publicação desta quinta-feira foi interpretada por analistas como um gesto político de solidariedade ideológica ao governo republicano.

“Os Bolsonaro continuam apostando na retórica de confronto e alinhamento com a política externa dos EUA, mesmo diante de riscos diplomáticos e constitucionais”, avalia o cientista político André César.


📊 Resumo do episódio:

Autor: Senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Declaração: sugeriu que os EUA ataquem barcos no Rio para combater o narcotráfico.

Contexto: ofensiva militar dos EUA no Pacífico e Caribe sob o governo Trump.

Reação: críticas no Congresso e alerta sobre violação de soberania nacional.

Cenário: tensão entre Washington e Caracas e risco de escalada militar na região.

Redação:
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