Durante declaração conjunta à imprensa com o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou nesta quarta-feira (22), em Jacarta, o compromisso do Brasil com um mundo multipolar e com a autonomia econômica das nações emergentes.
“Queremos comercializar em nossas moedas”, afirmou Lula, defendendo uma nova arquitetura financeira global baseada no multilateralismo e na independência econômica, sem depender do dólar como principal referência nas transações internacionais.
O discurso reforçou a linha da política externa brasileira de fortalecer parcerias Sul–Sul e reduzir a vulnerabilidade dos países em desenvolvimento diante das oscilações cambiais globais.
Defesa de um mundo multipolar
Lula destacou que Brasil e Indonésia compartilham desafios semelhantes, como o combate à desigualdade, a transição energética e a industrialização sustentável. Segundo ele, ambos os países têm papel estratégico na formação de uma nova ordem mundial multipolar, menos concentrada nas potências tradicionais.
“Não queremos ser dependentes de ninguém”, declarou o presidente, ao defender uma relação comercial equilibrada, em que os dois lados se beneficiem igualmente.
O líder brasileiro ressaltou que relações econômicas justas exigem parceria e reciprocidade, e não hierarquia entre países desenvolvidos e emergentes.
“Uma relação comercial justa é aquela em que os dois países ganham”, afirmou Lula, em referência à cooperação econômica entre Brasil e Indonésia.
Comércio em moedas locais
A proposta de intensificar o uso de moedas nacionais no comércio bilateral já vinha sendo debatida entre os países do BRICS, grupo que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e agora tem a Indonésia como parceira estratégica.
A ideia é reduzir a dependência do dólar americano nas trocas internacionais e estimular fluxos financeiros mais estáveis entre as economias emergentes.
Nos bastidores, diplomatas brasileiros afirmam que o tema será retomado em fóruns multilaterais, como o G20 e o Banco dos BRICS (NDB), presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff.
“O Brasil e a Indonésia estão entre as maiores economias do Sul Global. Trabalhar com nossas próprias moedas é um passo para fortalecer nossa soberania econômica”, observou um assessor presidencial.
Energia e vitalidade política
Em tom descontraído, Lula surpreendeu ao mencionar seus planos políticos e sua disposição para o futuro.
“Vou completar 80 anos, mas tenho a mesma energia de quando tinha 30”, afirmou, arrancando risos dos presentes.
Logo em seguida, fez uma revelação que repercutiu entre jornalistas e diplomatas:
“Vou disputar um quarto mandato e ainda vamos nos encontrar muitas vezes.”
Embora o comentário tenha sido feito em tom leve, a fala reacendeu o debate sobre a sucessão presidencial de 2026, especialmente em meio às discussões internas do Partido dos Trabalhadores (PT) sobre candidaturas e alianças.
Fontes próximas ao Planalto classificaram a declaração como um sinal de confiança política e de que Lula pretende manter protagonismo na agenda nacional e internacional até o fim de seu mandato.
Cooperação e novas oportunidades
O presidente também destacou o potencial econômico da relação bilateral com a Indonésia, especialmente em áreas como energia, defesa, tecnologia e sustentabilidade.
“A relação entre Indonésia e Brasil será por demais valorosa”, disse Lula, ao anunciar que pretende levar mais empresários brasileiros para visitar a Indonésia nos próximos meses, ampliando as oportunidades de parcerias comerciais e industriais.
O governo brasileiro vê a Indonésia como uma ponte estratégica para o mercado do Sudeste Asiático, região com mais de 600 milhões de consumidores e forte crescimento econômico.
Além do comércio de commodities agrícolas e minerais, o Palácio do Planalto aposta em projetos conjuntos de transição energética, como biocombustíveis, hidrogênio verde e energia solar.
“Queremos fortalecer uma cooperação justa, de respeito mútuo, sem dependência e com foco no desenvolvimento sustentável”, afirmou Lula, ao encerrar a coletiva.
Parceria estratégica e cenário internacional
O encontro de Jacarta simboliza a consolidação da parceria estratégica Brasil–Indonésia, iniciada em 2023 com a visita oficial de Prabowo Subianto ao Brasil. Ambos os governos têm buscado aprofundar o diálogo econômico, diplomático e ambiental, alinhando-se em temas como transição energética, segurança alimentar e proteção das florestas tropicais.
Analistas internacionais destacam que o Brasil busca projetar liderança no eixo Sul–Sul, em sintonia com países como Indonésia e Índia, ao mesmo tempo em que fortalece sua posição em fóruns multilaterais como o G20 e a COP-30, marcada para novembro de 2025 em Belém (PA).
“O mundo está mudando, e as economias emergentes precisam construir juntas o seu futuro”, afirmou Lula, reforçando a visão de um sistema internacional mais equilibrado e cooperativo.
📊 Resumo da declaração Brasil–Indonésia:
Local: Jacarta, Indonésia
Líderes: Luiz Inácio Lula da Silva e Prabowo Subianto
Eixos do discurso: multipolaridade, independência econômica e cooperação justa
Propostas: comércio em moedas locais e fortalecimento do multilateralismo
Citação marcante: “Vou disputar um quarto mandato e ainda vamos nos encontrar muitas vezes”
Setores prioritários: energia, defesa, tecnologia e transição verde