O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou nesta quarta-feira (22) o Fórum Empresarial Brasil–Indonésia, em Jacarta, com um discurso voltado à ampliação das relações econômicas e estratégicas entre as duas maiores economias emergentes do hemisfério sul. Diante de ministros e mais de cem empresários brasileiros, Lula defendeu parcerias sustentáveis, investimentos produtivos e cooperação tecnológica e ambiental entre os países.
“Se não houver, da parte dos empresários tanto da Indonésia quanto do Brasil, o esforço necessário para poder ganhar o dinheiro que acho que seja possível ganhar, o comércio dos países não será um comércio forte”, afirmou o presidente, destacando o papel central da iniciativa privada na consolidação das relações bilaterais.
Confiança e previsibilidade para investidores
Em seu discurso, Lula elencou seis palavras-chave que, segundo ele, definem o ambiente de negócios que o Brasil oferece atualmente:
“Estabilidade fiscal, estabilidade jurídica, estabilidade política, estabilidade econômica, estabilidade social e previsibilidade.”
O presidente afirmou que o governo está comprometido em garantir segurança e confiança aos investidores internacionais, especialmente em setores ligados à energia limpa, tecnologia e infraestrutura.
Lula também relembrou sua primeira visita à Indonésia, há 17 anos, no auge da crise financeira de 2008, e fez uma crítica direta às políticas econômicas liberais que marcaram aquele período.
“O receituário neoliberal mostrou-se incapaz de conter a turbulência gerada no mundo desenvolvido. O Brasil provou que era possível crescer sem abrir mão da inclusão e do bem-estar social”, disse.
O presidente destacou que o comércio bilateral entre Brasil e Indonésia triplicou desde então, saltando de US$ 2,2 bilhões para US$ 6,3 bilhões em 2024, mas ainda aquém do potencial conjunto dos dois países, que somam mais de 500 milhões de habitantes.
Comércio bilateral e cooperação estratégica
Lula reforçou o desejo de elevar o comércio bilateral a patamares acima de US$ 15 bilhões, defendendo uma relação econômica mais profunda e equilibrada.
“É muito pouco um país de 280 milhões de habitantes e outro de 215 milhões não terem trabalhado o suficiente para que hoje nós pudéssemos ter um comércio acima de 15 ou 20 bilhões de dólares”, afirmou.
A visita de Lula a Jacarta ocorre em retribuição à visita oficial do presidente Prabowo Subianto ao Brasil, e simboliza, segundo o Palácio do Planalto, a consolidação de uma parceria estratégica no G20 e na agenda climática global.
O presidente também destacou a colaboração nos setores de defesa e tecnologia, mencionando a atuação da Embraer e o reconhecimento da Força Aérea da Indonésia quanto à capacidade das aeronaves Super Tucano.
“A Força Aérea da Indonésia conhece bem a capacidade do Super Tucano”, disse Lula, ao citar o acordo de cooperação em defesa firmado entre os dois países.
Transição energética e proteção ambiental
O tema ambiental ocupou parte central da fala de Lula, que destacou o papel de Brasil e Indonésia na preservação das florestas tropicais e na transição energética global.
“Menos de 20 dias nos separam da COP-30. Vamos mostrar que é possível promover o desenvolvimento, enfrentar a mudança do clima e proteger as florestas tropicais e sua rica biodiversidade”, afirmou.
O presidente destacou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, criado com aporte inicial de US$ 1 bilhão, destinado a financiar países que mantêm suas florestas em pé. O fundo busca transformar a conservação ambiental em atividade econômica rentável, reduzindo a dependência de doações externas.
“Ninguém vai mais ficar pedindo dinheiro como se estivesse pedindo esmola para poder manter a nossa floresta em pé e evitar que o planeta tenha um aquecimento acima de 1,5°C”, declarou Lula, ao defender que o modelo gere dividendos e alternativas de renda para comunidades locais.
Industrialização e agregação de valor
Em tom pragmático, o presidente apontou a Indonésia como exemplo de industrialização sustentável, destacando a política do país de agregar valor à produção de níquel e minerais estratégicos, ao invés de apenas exportar matéria-prima.
“Não pretendemos reproduzir a condição de meros exportadores de commodities. Queremos agregar valor em nosso território com sustentabilidade ambiental e respeito às comunidades locais”, concluiu.
A fala sintetiza o objetivo do governo de incentivar a reindustrialização verde no Brasil, combinando crescimento econômico, inovação e responsabilidade ambiental — pilares que o Planalto busca destacar às vésperas da COP-30, que será realizada em Belém (PA) em novembro.
Perspectiva bilateral e global
Analistas diplomáticos avaliam que o fórum marcou um novo capítulo na relação Brasil–Indonésia, consolidando um eixo de cooperação Sul–Sul em áreas como comércio, defesa, energia e meio ambiente.
A Indonésia é hoje o maior parceiro comercial do Brasil no Sudeste Asiático, enquanto o Brasil é o principal fornecedor de produtos agrícolas e proteína animal ao país asiático.
Os dois governos devem assinar, nos próximos meses, memorandos de entendimento sobre biocombustíveis, pesquisa florestal, agricultura sustentável e investimentos cruzados.
Com a aproximação, Brasil e Indonésia se colocam como protagonistas da agenda de desenvolvimento sustentável global, defendendo modelos de crescimento inclusivos e ambientalmente responsáveis, alinhados à transição energética e à cooperação entre nações emergentes.
📊 Resumo do Fórum Empresarial Brasil–Indonésia:
Local: Jacarta, Indonésia
Evento: Fórum Empresarial Brasil–Indonésia
Comércio atual: US$ 6,3 bilhões (2024)
Meta de expansão: US$ 15 a 20 bilhões
Temas-chave: comércio, defesa, energia, meio ambiente e industrialização
Iniciativas: Fundo Florestas Tropicais (US$ 1 bilhão) e cooperação em defesa (Super Tucano)
Próximo marco: COP-30, em Belém (PA)