EUA enviam o maior porta-aviões ao Caribe e tensão cresce entre Washington, Venezuela e países vizinhos

O governo dos Estados Unidos decidiu reforçar sua presença militar na América do Sul com o envio do porta-aviões USS Gerald Ford para águas próximas ao Caribe e ao Atlântico Sul. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (24) pelo secretário de Defesa, Pete Hegseth.

O movimento ocorre no mesmo período em que Washington intensificou ataques contra embarcações classificadas como ligadas ao tráfico de drogas, elevando o número de mortes e ampliando o clima de instabilidade política e militar na região. As informações são de O Globo.

O USS Gerald Ford é considerado pela Marinha dos EUA como a principal plataforma de operações navais de longa distância, com capacidade para lançar aeronaves de combate e executar monitoramento de grande alcance. A embarcação será incorporada à frota já estacionada sob o Comando Sul (USSOUTHCOM), responsável por operações militares em países da América Latina e Caribe.

Justificativa oficial e objetivo estratégico

Segundo o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, o envio do porta-aviões tem como meta “detectar, monitorar e interromper atividades ilícitas que ameacem a segurança do hemisfério”. O governo norte-americano afirma que as operações têm foco em grupos envolvidos em narcotráfico e logística criminal transnacional.

Hegseth confirmou que, nas últimas horas, o Departamento de Defesa executou o décimo ataque do mês contra embarcações em alto-mar. De acordo com o secretário, a ofensiva da madrugada atingiu um barco atribuído à organização venezuelana Tren de Aragua. Seis pessoas foram mortas. O governo dos EUA informou que não houve registros de baixas entre militares norte-americanos.

Com esse novo incidente, ao menos 43 pessoas morreram em operações navais semelhantes nas últimas semanas, segundo dados apresentados pelo Pentágono. Todas ocorreram em águas internacionais no Caribe e no Pacífico oriental.

Escalada sem aval do Congresso

O envio do USS Gerald Ford ocorre após o presidente Donald Trump afirmar que pretende autorizar operações terrestres contra grupos classificados pelo governo como organizações terroristas estrangeiras. A medida, segundo juristas consultados pela imprensa norte-americana, pode abrir precedentes para ações militares sem aprovação prévia do Congresso.

Trump já ordenou à CIA e ao Departamento de Defesa a adoção de protocolos de neutralização e eliminação de alvos ligados a grupos e redes identificadas como narcotráfico internacional. Em pronunciamentos recentes, o presidente afirmou que os EUA tratarão esses grupos nos mesmos parâmetros usados contra a Al-Qaeda.

Reação na América do Sul

A intensificação da presença militar norte-americana provocou respostas imediatas de governos sul-americanos. No último domingo, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou que as acusações de Washington sobre suposta ligação de agentes do Estado colombiano com o narcotráfico são infundadas. Petro também declarou que a pressão militar sobre o Caribe agrava tensões e prejudica esforços diplomáticos regionais.

Na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro declarou que as Forças Armadas Bolivarianas permanecem em alerta permanente desde agosto. Em discurso televisionado, Maduro afirmou que o país “não deseja conflito armado”, mas que está preparado para proteger seu território. O presidente destacou o uso de sistemas antiaéreos russos Igla-S, que já haviam sido citados anteriormente por autoridades venezuelanas como parte de programas de cooperação militar com Moscou.

Maduro afirmou que Caracas mantém relações estratégicas com Rússia e China e que acordos bilaterais permitirão ao país “garantir sua segurança territorial”.

Exercícios conjuntos e deslocamento de embarcações

Além do porta-aviões, os EUA confirmaram que o contratorpedeiro USS Gravely chegará a Trinidad e Tobago no domingo (26) para treinamento com as Forças Armadas locais. O Pentágono declarou que esses exercícios têm caráter de “cooperação em segurança marítima”.

No entanto, analistas consultados por centros de pesquisa da América do Sul avaliam que a proximidade com águas territoriais venezuelanas aumenta o risco de incidentes. Fontes militares brasileiras ouvidas reservadamente por veículos de imprensa classificaram o envio do Gerald Ford como “movimento de demonstração estratégica”.

Debate diplomático e possíveis desdobramentos

Especialistas em direito internacional destacam que o conjunto das ações recentes sinaliza uma mudança na postura dos EUA em relação às operações externas, com menor peso para mediação diplomática e maior uso de instrumentos militares. A caracterização de grupos latino-americanos como organizações terroristas dificulta negociações multilaterais em organismos internacionais e pode abrir espaço para disputas jurídicas envolvendo soberania territorial.

Enquanto isso, governos da região acompanham com atenção o aumento das operações marítimas. Autoridades brasileiras afirmaram que o país mantém posição de defesa da solução pacífica de controvérsias e que não participará de ações diretas no Caribe. A chancelaria do México emitiu nota na qual reiterou oposição ao uso de força militar unilateral.

Quadro regional

Com o reforço militar e a ampliação de operações classificadas como combate ao narcotráfico, cresce o risco de que episódios isolados possam evoluir para incidentes diplomáticos ou confrontos de maior escala. A ampliação da frota norte-americana próximo ao litoral venezuelano ocorre em um momento de fragilidade econômica regional, transição política em vários países e disputa estratégica entre centros de influência global.

Nas próximas semanas, o foco recairá sobre eventuais anúncios de operações terrestres ou interceptações adicionais de embarcações, bem como sobre respostas políticas articuladas por governos sul-americanos e organismos multilaterais.

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