Marco de inovação e confiança entre Brasil e China

A energia que une dois mundos e reinventa Itaipu

Sob o sol nascente de Foz do Iguaçu, entre torres metálicas e cabos que cruzam o horizonte, algo muito maior do que uma simples modernização técnica está acontecendo. A parceria entre engenheiros brasileiros e chineses na atualização do sistema de transmissão da Usina de Itaipu é, na verdade, um marco político e simbólico: o renascimento de uma visão de soberania energética baseada na cooperação entre nações do Sul Global — e não na dependência das potências do Norte.

A usina que há décadas ilumina o Brasil e o Paraguai está se reinventando. Depois de mais de 40 anos de funcionamento contínuo, Itaipu — responsável por cerca de 10% da energia consumida no país — inicia uma transformação histórica com tecnologia desenvolvida integralmente na China. O novo sistema em corrente contínua (±600 kV) promete mais eficiência, estabilidade e segurança. Mas o que está em jogo vai muito além dos cabos e das turbinas: é a redefinição do lugar do Brasil no mundo da energia.

Quando um incêndio em 2023 acendeu o alerta sobre o desgaste da infraestrutura, a resposta não foi a privatização nem a entrega a conglomerados estrangeiros de capital especulativo — como tanto pregam os defensores do neoliberalismo energético. A resposta veio através da cooperação entre dois Estados fortes, com empresas públicas que não veem a energia como mercadoria, mas como direito e vetor de desenvolvimento. A parceria com a State Grid Corporation of China mostra que é possível unir eficiência tecnológica, soberania nacional e compromisso com o meio ambiente.

A modernização de Itaipu é a prova viva de que a transição energética pode — e deve — ser feita sob um modelo solidário, onde o conhecimento é compartilhado, e não apropriado. Em vez de contratos leoninos e dependência tecnológica, temos troca de saberes, intercâmbio de profissionais e respeito mútuo. São mais de 250 trabalhadores, brasileiros e chineses, atuando lado a lado, em um canteiro que é laboratório de inovação e convivência.

O uso de digitalização tridimensional, por exemplo, não é apenas um avanço técnico: é uma metáfora para a nova dimensão da cooperação Sul-Sul. Criar uma “versão virtual” da estação conversora permitiu aos engenheiros simular cenários, prever falhas e otimizar o cronograma — uma prática que une rigor científico e sensibilidade prática. É tecnologia de ponta a serviço de um projeto coletivo, não do lucro individual.

O discurso do gerente brasileiro Jean Marcell Okano sintetiza esse espírito. Ao destacar que os equipamentos chineses são de altíssimo nível e adaptados às condições do Brasil, ele reforça que não há hierarquia entre os países, mas sim complementaridade. É uma relação de igualdade técnica e política — um contraste gritante com o velho modelo colonial, em que o saber vinha de fora e o trabalho pesado ficava aqui.

A cooperação sino-brasileira em Itaipu é, portanto, uma aula de geopolítica energética. Enquanto o mundo enfrenta crises causadas pelo aquecimento global e pelo esgotamento dos combustíveis fósseis, Brasil e China mostram que há outro caminho: investir em energias limpas, fortalecer empresas públicas e desenvolver tecnologias próprias. É um recado claro às nações ricas que tentam manter o monopólio do “verde” sob o selo da propriedade intelectual e das patentes.

Não é coincidência que esse projeto ocorra justamente em Itaipu, símbolo da soberania latino-americana e da integração entre povos. Nos anos 1980, a usina foi construída em meio a ditaduras, mas se tornou, nas décadas seguintes, emblema da paz e da cooperação entre Brasil e Paraguai. Agora, em 2025, ela volta a ser farol — desta vez de um novo paradigma de desenvolvimento: sustentável, multipolar e solidário.

Há quem tente desqualificar o avanço chinês como “dependência tecnológica”. Mas o que realmente incomoda certas elites é ver o Brasil escapando da tutela do Ocidente e se aproximando de um parceiro que oferece tecnologia sem exigir submissão política. O protagonismo da China no setor elétrico brasileiro é, acima de tudo, uma escolha estratégica por um futuro menos desigual — um futuro em que o conhecimento é partilhado e os frutos do progresso são divididos entre os que trabalham, e não apropriados pelos que especulam.

A modernização de Itaipu, portanto, é muito mais do que uma obra de engenharia. É um símbolo de resistência ao atraso, ao entreguismo e ao discurso de que o Brasil não pode caminhar com suas próprias pernas. Entre cabos e concreto, ergue-se uma visão de país que aposta na soberania energética, na ciência pública e na solidariedade internacional.

Quando o novo sistema entrar em operação em 2026, Itaipu não será apenas mais eficiente. Será o retrato de um Brasil que, ao lado da China e de outros parceiros do Sul, aponta para um futuro em que o desenvolvimento não é privilégio de poucos — mas direito de todos.

Itaipu renasce. E com ela, renasce a esperança de um modelo de progresso que serve ao povo, não ao mercado.

Com informações de Xinhua*

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