Lula e Trump discutem tarifas e sanções em reunião histórica na Malásia; governo brasileiro espera acordo nos próximos dias

Trump e Lula na Malásia, em 26 de outubro de 2025. Foto de Ricardo Stuckert.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, realizaram neste domingo (26) uma reunião bilateral em Kuala Lumpur, na Malásia, voltada à reavaliação das relações econômicas entre os dois países.

O encontro ocorreu às 15h30 no horário local (4h30 em Brasília), no Centro da Cidade de Kuala Lumpur (KLCC), e durou cerca de 50 minutos. Participaram ministros e diplomatas brasileiros e norte-americanos, em uma agenda marcada pela negociação de tarifas, sanções e a posição do Brasil na geopolítica regional.

Antes da reunião, Trump declarou a jornalistas que espera um desfecho prático nas tratativas. “Vamos chegar a um acordo”, afirmou. Lula, por sua vez, indicou que o diálogo tende a produzir resultados de curto prazo. “Haverá boas notícias”, disse ao deixar o local. Até o momento, não foram divulgados detalhes formais dos encaminhamentos.

Pressão tarifária e impacto no comércio exterior

O tema central da conversa foi o conjunto de tarifas impostas por Washington sobre produtos brasileiros exportados para o mercado norte-americano. As sobretaxas afetam setores como aço, carne processada, celulose, derivados agrícolas e componentes industriais. Nos últimos meses, entidades empresariais e governos estaduais pressionaram Brasília por uma solução, devido ao impacto no custo de exportação e à redução da competitividade frente a fornecedores de países asiáticos e europeus.

A revisão desses tributos é considerada uma das principais prioridades da diplomacia econômica brasileira em 2025. Para o Itamaraty, a redução ou flexibilização pode abrir espaço para reequilíbrio comercial em áreas onde o Brasil tem alta inserção produtiva, como proteína animal, mineração e energia. O governo brasileiro argumenta que o atual nível de tarifas não corresponde ao histórico de cooperação entre os dois países e que aumentaram sem consulta prévia.

Participação da comitiva brasileira

A equipe que acompanhou Lula no encontro foi composta pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira; pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Elias Rosa; e pelo diplomata Audo Faleiro, da assessoria internacional da Presidência. O foco da comitiva foi apresentar cenários técnicos e impactos setoriais da política tarifária vigente.

Segundo fontes ouvidas por veículos brasileiros, a estratégia brasileira prioriza o diálogo e a busca por resultados gradualmente aplicáveis, sem confrontos públicos. A avaliação é que um acordo restrito em áreas específicas pode funcionar como primeiro passo para discussões mais amplas.

Sanções e tensão regional

Além das tarifas, a conversa abordou as sanções aplicadas pelos Estados Unidos a cidadãos e autoridades brasileiras, em decorrência de investigações ligadas à tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023. O governo brasileiro tenta reduzir o alcance das medidas e argumenta que o país possui instituições judiciais capazes de conduzir seus processos internos.

Outro ponto sensível foi a política militar dos EUA no Caribe e na costa da América do Sul, em especial as ações voltadas à Venezuela e à Colômbia. A expansão de operações navais norte-americanas na região tem provocado questionamentos de governos latino-americanos. O Brasil, que mantém relações diplomáticas com Caracas e Bogotá, busca evitar alinhamento automático com Washington ou confrontos políticos com vizinhos de fronteira.

Divergências sobre o dólar e os Brics

O uso do dólar como moeda dominante no comércio internacional também integrou a pauta. Lula defende que países do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — possam intensificar o uso de moedas locais e criar instrumentos financeiros próprios para ampliar a autonomia econômica entre emergentes. A proposta vem sendo discutida no âmbito do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB).

Trump, porém, expressou posições contrárias em declarações anteriores e chegou a indicar que poderia elevar tarifas sobre países que reduzirem o uso do dólar em grandes transações comerciais. A divergência sobre o tema permanece, mas interlocutores afirmam que a discussão será retomada em reuniões técnicas posteriores.

Comunicação reservada e ausência de temas eleitorais

Durante o encontro, uma repórter questionou Trump sobre uma eventual menção ao ex-presidente Jair Bolsonaro. O líder norte-americano respondeu apenas: “None of your business” (“não é do seu interesse”), sem desenvolver o assunto. A resposta confirmou que a reunião não incluiu debates eleitorais ou de política doméstica brasileira.

O governo brasileiro tem buscado tratar o tema das relações com Washington no campo institucional e econômico, sem envolvimento nos movimentos da oposição interna.

Próximos passos

Após a reunião, ambos os países devem iniciar rodadas técnicas para detalhar eventuais mudanças tarifárias e acordos setoriais. O Brasil também espera que o diálogo reduza tensões regionais associadas às operações militares norte-americanas no Caribe e na fronteira da América do Sul.

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