O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se reuniram neste domingo (26), em Kuala Lumpur, na Malásia, para discutir a normalização das relações comerciais entre os dois países. O encontro, que durou cerca de 50 minutos, marcou a primeira conversa formal entre ambos desde a imposição de tarifas adicionais pelos EUA sobre produtos brasileiros e do acirramento diplomático ocorrido nos últimos meses.
A reunião foi realizada no Centro de Convenções de Kuala Lumpur (KLCC) e contou com a presença de ministros e diplomatas dos dois governos. Antes do início da conversa, Trump afirmou acreditar na possibilidade de avanços:
“Devemos ser capazes de fazer bons acordos para ambos os países”, declarou. Lula reforçou o tom de otimismo ao afirmar que espera “boas notícias” nos próximos anúncios conjuntos.
Reaproximação após escalada nas tensões
A relação entre Brasília e Washington havia se deteriorado a partir de julho, quando o governo norte-americano impôs tarifas de 50% sobre exportações brasileiras de carne e café. A decisão ocorreu no mesmo período em que Trump tentava pressionar autoridades brasileiras a suspender o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal.
Além das tarifas, os Estados Unidos também aplicaram sanções individuais e restrições de visto a autoridades brasileiras, o que levou a uma interrupção na comunicação política de alto nível entre os governos.
A retomada do diálogo começou discretamente em setembro, durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, quando Lula e Trump tiveram uma breve conversa reservada. O encontro na Malásia, porém, representou o primeiro esforço formal para reconstruir a agenda bilateral.
Pauta econômica e áreas de negociação
Participaram da reunião o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira; o ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Elias Rosa; e integrantes do gabinete de assessoria internacional do Planalto. Pelo lado norte-americano, estiveram presentes o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer.
Segundo fontes diplomáticas, os principais temas discutidos foram:
Tarifas impostas ao café, carne e aço brasileiros.
Investigações norte-americanas sobre práticas comerciais de empresas brasileiras.
Regulação das plataformas de tecnologia e redes sociais no Brasil.
Cooperação no setor de energia e biocombustíveis, especialmente etanol e SAF (combustível sustentável de aviação).
Parcerias para exploração de minerais estratégicos, como nióbio e terras raras.
O Brasil possui a segunda maior reserva de terras raras do mundo, atrás da China, o que desperta interesse dos EUA em meio à disputa tecnológica com Pequim.
Panorama regional e Venezuela
Embora não tenha sido tema central, a crise na Venezuela foi mencionada. Nas últimas semanas, os Estados Unidos intensificaram operações militares no Caribe contra embarcações suspeitas de narcotráfico, o que elevou o nível de alerta em Caracas.
Lula defendeu uma solução diplomática e regional, afirmando que “qualquer conflito armado na América do Sul seria devastador para a região”. Trump, por sua vez, afirmou estar disposto a conversar sobre o tema, mas evitou discussões públicas.
Questionado sobre Jair Bolsonaro, Trump respondeu apenas: “Isso não é da sua conta.”
Sinais de acordo e próximos passos
Segundo integrantes das duas delegações, as equipes técnicas devem iniciar, nas próximas semanas, um grupo de trabalho permanente para revisar tarifas e construir uma proposta gradual de cooperação comercial.
Apesar da retomada do diálogo, ainda não há previsão oficial para a suspensão das sanções ou para a redução imediata das taxas de importação.
Fontes diplomáticas afirmam que os resultados dependerão:
Da posição do Congresso dos EUA, especialmente em temas comerciais.
Das negociações agrícolas no âmbito da OMC.
Da evolução do debate sobre moedas alternativas no comércio do Brics, tema no qual Brasil e EUA seguem divergindo.
Significado político
O encontro marca uma reaproximação estratégica entre as duas maiores economias do continente americano e indica que ambos os governos buscam estabilidade econômica após meses de tensão.
Para Lula, a retomada do diálogo reforça sua política externa baseada no multilateralismo e na diversificação de parcerias. Para Trump, representa um esforço para conter a crescente influência comercial da China no Brasil.
Apesar das diferenças ideológicas, o encontro mostrou que a relação entre Brasil e EUA tende a seguir pautada pelo pragmatismo econômico.