A nomeação de Vishal Shah marca a tentativa de unir o que restou do metaverso à nova obsessão da empresa: provar que ainda pode liderar a inovação
Numa manobra que expõe tanto a ambição quanto a turbulência interna da Meta, Mark Zuckerberg convocou um de seus tenentes mais leais, Vishal Shah, para uma função crucial na equipe de inteligência artificial da empresa. A mudança, parte de uma série de reorganizações executivas, é uma resposta direta à “guerra frenética” de IA que domina o Vale do Silício e a um tropeço recente que abalou a confiança interna.
Shah, que nos últimos anos liderou a custosa e visionária aposta de Zuckerberg no “metaverso”, agora terá a missão de garantir que a Meta não perca o compasso na corrida mais importante do momento.
A decisão ocorre logo após o lançamento apressado do “Vibes”, o serviço de vídeo gerado por IA da Meta. O produto, que deveria ser um golpe de mestre, foi rapidamente ofuscado pelo fenômeno “Sora”, da rival OpenAI, deixando a gigante de mídia social em uma posição reativa, apesar dos bilhões investidos na contratação de talentos nos últimos meses.
A nomeação de Shah é vista como uma tentativa de estabilizar o navio. Ele se reportará a Nat Friedman, o executivo-chefe de produtos de IA, cuja chegada em junho foi celebrada, mas que agora enfrenta “crescente frustração interna”, segundo múltiplas fontes familiarizadas com o assunto.
Friedman, um popular investidor do Vale do Silício e ex-chefe do GitHub, supervisionou o lançamento do “Vibes” no mês passado. Fontes internas afirmam que o aplicativo foi “apressado” para tentar se antecipar ao lançamento do “Sora”.
Para acelerar, Friedman teria pressionado as equipes a integrar tecnologias de terceiros, notavelmente um acordo multibilionário e plurianual com a startup Midjourney, da qual ele é conselheiro de longa data. A tecnologia da startup alemã Black Forest Labs também foi utilizada. A ironia é que o aplicativo de IA da Meta foi originalmente projetado para usar o modelo de vídeo da própria empresa, que acabou sendo deixado de lado na pressa.
Embora o “Vibes” tenha gerado um aumento inicial em downloads e usuários ativos, a onda de entusiasmo pelo “Sora” dias depois foi avassaladora, ofuscando a estreia da Meta.
Um porta-voz da Meta defendeu Friedman, afirmando que ele teve “um começo rápido e impressionante, que é validado por sua capacidade de trazer algumas das melhores pessoas da empresa para suas equipes”.
Vishal Shah não é um novato. Com uma década de casa, ele foi peça-chave no crescimento do Instagram antes de assumir, em 2021, a monumental tarefa de construir o “metaverso”, o mundo virtual que motivou a mudança do nome da empresa de Facebook para Meta.
Agora, sua missão é outra. Em um memorando obtido pelo Financial Times, Nat Friedman anunciou que Shah se juntaria à equipe para liderar o gerenciamento de produtos. A equipe de Friedman se concentrará nos principais produtos de IA, como o aplicativo Meta AI, enquanto as divisões de aplicativos como Instagram e WhatsApp poderão “gerar experiências de IA” usando os modelos da empresa como base.
“Não podemos ser apenas uma equipe de IA, precisamos ser uma empresa de IA”, afirmou Friedman no memorando de segunda-feira. “Vishal será fundamental para estabelecer esse modelo de colaboração, liderando a estratégia de integração geral e garantindo o sucesso em escala.”
Fontes internas veem a mudança de forma mais direta: Zuckerberg está colocando um “adulto na sala”, um veterano com “profundos relacionamentos em toda a Meta” e habilidade para resolver “problemas técnicos ambíguos”, para garantir que a estratégia de IA, vital para o futuro da empresa, seja executada sem falhas.
A reorganização ocorre em um momento tumultuado para a empresa de 1,9 trilhão de dólares. Na semana passada, a Meta demitiu cerca de 600 funcionários de sua equipe de IA, poucos meses após uma alardeada onda de contratações caríssimas. A justificativa oficial para os cortes foi a necessidade de “acelerar a tomada de decisões” para implantar produtos de IA mais rapidamente.
O próprio Friedman, junto com Alexandr Wang (fundador da Scale AI), foi uma dessas contratações externas de peso feitas no verão. Isso representou uma rara quebra no padrão de Zuckerberg de preencher seus altos escalões com aliados de longa data. A medida foi uma reação ao lançamento considerado “pouco inspirador” do modelo de linguagem Llama 4 em abril, que colocou a Meta atrás da concorrência.
A contratação de Friedman foi notável: a Meta também adquiriu 49% de seu fundo de capital de risco, garantindo um ganho financeiro significativo para o executivo.
Agora, a nomeação de Shah, um “acólito” de longa data, sugere um retorno parcial à fórmula de confiança de Zuckerberg.
A nova tarefa de Shah também inclui a integração da IA na Reality Labs, a divisão de realidade aumentada e virtual. É a ponte que faltava: conectar a nova obsessão pela “superinteligência” com a aposta anterior no metaverso e nos óculos inteligentes.
Enquanto isso, a equipe original do metaverso, cujos esforços foram prejudicados por dificuldades técnicas e baixa adesão do consumidor aos headsets Quest, será agora liderada por Gabriel Aul, atual chefe do aplicativo social Meta Horizon.
Em um post interno, Shah disse que planeja “permanecer muito envolvido na construção de pontes” entre os laboratórios de IA e a Reality Labs. A meta, segundo ele, é “moldar como entregamos superinteligência pessoal a bilhões de pessoas, em todos os dispositivos”. Para Zuckerberg, que corre para criar modelos “mais inteligentes que humanos” e “personalizados” para cada usuário, falhar não é uma opção.