A fotografia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece apertando a mão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tornou-se o maior fenômeno digital da trajetória política de Lula. O registro, divulgado no domingo (27) em suas redes oficiais, foi feito durante reunião entre os dois líderes em Kuala Lumpur, na Malásia, e alcançou números inéditos de engajamento.
De acordo com levantamento da Quaest, publicado pelo jornal O Globo, a imagem atingiu 72 milhões de visualizações, 778 mil menções, 22 milhões de curtidas e 7,5 milhões de compartilhamentos em plataformas como Instagram, X (antigo Twitter), TikTok e Facebook.
O monitoramento foi realizado pela nova ferramenta QuaestScan, desenvolvida para rastrear imagens e áudios de conteúdo político nas redes sociais. Segundo o instituto, o alcance superou todos os índices anteriores de engajamento de publicações do presidente.
Comparação com o antigo recorde
Até então, a imagem mais popular de Lula nas redes era a publicada em agosto de 2021, em que o presidente aparece de sunga, abraçado à esposa, Janja da Silva. O registro, feito também pelo fotógrafo oficial Ricardo Stuckert, havia alcançado 65 milhões de visualizações, 4,6 milhões de menções, 19 milhões de curtidas e 7 milhões de compartilhamentos.
Com o novo recorde, a foto do encontro com Trump ultrapassa o desempenho da publicação anterior em todas as métricas avaliadas, incluindo a taxa de replicação por minuto, que chegou ao pico de 340 mil compartilhamentos por hora no domingo.
Diplomacia e redes sociais
Para o cientista político e diretor da Quaest, Felipe Nunes, o episódio reflete a transformação das redes sociais em um espaço central da diplomacia contemporânea.
“O encontro Lula-Trump mostra que a diplomacia do século XXI acontece nas redes e nas mesas de negociação. A foto publicada e amplamente visualizada é um exemplo claro da política como imagem, que mesmo sem legenda fala sobre o que aconteceu. O sorriso, a postura, o aperto de mão, tudo é simbólico”, analisou Nunes.
A publicação coincidiu com a viagem oficial de Lula à Malásia, onde o presidente participou da Cúpula da ASEAN e se reuniu com Trump para discutir temas econômicos e tarifários. A imagem foi divulgada momentos após o encontro e rapidamente se tornou um dos assuntos mais comentados do fim de semana nas plataformas digitais.
Sentimentos e reações nas redes
O levantamento da Quaest também avaliou as reações do público entre 21 e 27 de outubro, período que inclui o encontro entre os dois presidentes. De acordo com a análise, 54% das menções foram neutras, 26% positivas e 20% negativas.
Entre as publicações positivas, a maioria destacou o simbolismo do diálogo entre dois líderes de espectros políticos opostos e o possível impacto diplomático do gesto. Já entre as negativas, o foco foi em comparações com o ex-presidente Jair Bolsonaro e críticas de eleitores da direita.
Segundo Nunes, os números revelam o atual estágio da disputa simbólica nas redes.
“A direita tentando emplacar a menção a Bolsonaro. A esquerda tentando comemorar a virada. A maioria observando. É o retrato do embate político digital no Brasil”, explicou o diretor da Quaest.
A imagem como estratégia de comunicação
O episódio reacende o debate sobre a força da comunicação visual na política contemporânea. A foto de Lula e Trump foi registrada em um enquadramento formal, com ambos sorrindo e apertando as mãos diante das bandeiras de seus países, em um gesto interpretado como sinal de aproximação diplomática.
Analistas de comunicação apontam que, mais do que o conteúdo do encontro, a imagem em si sintetiza a mensagem de estabilidade e diálogo que o governo brasileiro busca projetar no cenário internacional.
De acordo com dados complementares da QuaestScan, a publicação também teve impacto fora do público habitual das contas oficiais de Lula. Aproximadamente 42% das interações vieram de usuários que não seguem o presidente em nenhuma plataforma, indicando o alcance transversal do conteúdo.
Disputa de narrativas digitais
A viralização da imagem gerou também disputas entre militantes e influenciadores políticos. Perfis de direita ironizaram o gesto como “tentativa de aproximação” com o ex-presidente americano, enquanto apoiadores do governo destacaram o “diálogo institucional” e a retomada da diplomacia brasileira.
Especialistas consultados pelo O Globo avaliam que a performance reforça a capacidade de Lula de dominar a comunicação digital em momentos estratégicos. Mesmo sem grande produção audiovisual, a foto superou conteúdos impulsionados e vídeos de campanha em termos de alcance e repercussão.
Comunicação política em nova fase
Desde o retorno ao Palácio do Planalto, o presidente tem adotado uma estratégia de divulgação visual mais frequente, com uso de imagens oficiais em situações de bastidores, viagens internacionais e encontros bilaterais. A tática busca unir linguagem de governo e apelo emocional, priorizando elementos simbólicos em vez de discursos longos.
A equipe de comunicação da Presidência não comentou os dados do levantamento, mas confirmou que o registro em Kuala Lumpur foi feito por Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial de Lula há mais de duas décadas. A imagem foi publicada simultaneamente nos perfis do presidente em todas as redes, acompanhada apenas da legenda: “Brasil e Estados Unidos conversam pelo bem de seus povos”.
O levantamento da Quaest encerra o mês de outubro como o mais expressivo em engajamento político desde o início de 2025.