Governo Lula diz não ter sido consultado por Castro antes da operação no Rio e convoca reunião de emergência

O governo federal afirmou nesta terça-feira (28) que não foi consultado nem recebeu qualquer pedido de apoio do governo do Rio de Janeiro antes da operação policial deflagrada nos complexos do Alemão e da Penha, na capital fluminense, que deixou 64 mortos e 81 presos.

A posição foi divulgada em nota oficial da Casa Civil da Presidência da República, após reunião coordenada pelo presidente em exercício, Geraldo Alckmin (PSB), para acompanhar os desdobramentos da ação, considerada a mais letal da história do estado.

Reunião no Planalto e posição oficial

O encontro, realizado no Palácio do Planalto, contou com a presença dos ministros Rui Costa (Casa Civil), Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Macaé Evaristo (Igualdade Racial), Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação Social) e do secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Manoel Carlos.

Segundo a nota, nenhum órgão federal foi consultado sobre a operação antes de seu início.

“As forças policiais e militares federais reiteraram que não houve qualquer consulta ou pedido de apoio, por parte do governo estadual do Rio de Janeiro, para realização da operação”, diz o texto divulgado pela Casa Civil.


A declaração refuta diretamente as falas do governador Cláudio Castro (PL), que afirmou ter solicitado apoio das Forças Armadas em três ocasiões, inclusive com pedidos de blindados federais, supostamente negados pelo governo Lula.

Contato entre Rui Costa e Cláudio Castro

Após a reunião, o ministro Rui Costa entrou em contato com o governador fluminense para oferecer apoio logístico e prisional ao estado.

Segundo o comunicado, o governo federal disponibilizou vagas em presídios federais para o encaminhamento de líderes do tráfico presos durante a operação.

Além disso, Rui Costa propôs uma reunião de emergência a ser realizada nesta quarta-feira (29), no Rio de Janeiro, com a presença dele e do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. O objetivo é coordenar ações de segurança e discutir medidas conjuntas de enfrentamento ao crime organizado.

Pedidos de transferência e coordenação carcerária

Paralelamente, o governo fluminense solicitou oficialmente à Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), órgão do Ministério da Justiça, a transferência de 10 detentos que, segundo as investigações, teriam ordenado os ataques e bloqueios na cidade a partir das prisões estaduais.

Os presos são apontados como líderes do Comando Vermelho (CV) e teriam coordenado o sequestro de ônibus e a interdição de vias expressas após o início da megaoperação.

O pedido está sendo avaliado tecnicamente pela Senappen, responsável por gerir o sistema penitenciário federal, que possui unidades de segurança máxima em Rondônia, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte e Paraná.

Conversas políticas e tentativa de distensão

Mais cedo, o governador Cláudio Castro manteve contato com os ministros Gleisi Hoffmann e Rui Costa para tratar da situação no Rio e sobre as críticas feitas ao governo federal.

Castro havia afirmado, em coletiva de imprensa, que o estado está “sozinho” no combate ao crime e que o Palácio do Planalto nega pedidos de apoio. Segundo ele, a falta de suporte federal e de instrumentos como a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) dificulta o enfrentamento de facções armadas que utilizam drones, fuzis e armamento pesado.

O Planalto, por sua vez, tem sustentado que não há registro de solicitações formais de cooperação e que todas as renovações da Força Nacional no território fluminense desde 2023 foram aprovadas.

“O Ministério da Justiça atendeu a todos os pedidos do governo estadual desde o início do atual mandato. No caso da operação de hoje, não houve qualquer comunicação prévia”, reforçou o ministério em nota paralela.


Operação mais letal da história do Rio

A operação deflagrada nesta terça-feira mobilizou 2.500 agentes das polícias Civil e Militar, com o objetivo de cumprir 100 mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho.

O balanço parcial divulgado pelo Palácio Guanabara aponta 64 mortos, entre eles dois policiais civis e dois militares, além de 81 presos. As forças de segurança apreenderam 75 fuzis, duas pistolas e nove motocicletas.

Três pessoas sem ligação com o tráfico ficaram feridas, incluindo um homem em situação de rua baleado nas costas e uma mulher atingida dentro de uma academia, que recebeu alta após atendimento.

A ação foi classificada pelo governo estadual como “fundamental” para o combate ao crime organizado, mas gerou forte repercussão política e críticas de entidades de direitos humanos diante do alto número de mortes.

Tensão política e institucional

As declarações de Cláudio Castro e as respostas do governo federal aprofundam o clima de tensão entre o Planalto e o governo fluminense, em meio a uma escalada de violência no estado.

Desde o início do ano, Castro tem criticado a ausência de apoio militar e financeiro da União e questionado a recusa de Lula em autorizar operações de GLO.

Por outro lado, o Planalto acusa o governo do Rio de agir de forma unilateral e politizada, sem comunicação prévia com os órgãos federais de segurança e sem integração com a Força Nacional.

A reunião de emergência desta quarta-feira deve marcar a primeira tentativa formal de recompor o diálogo entre os dois níveis de governo, em meio à repercussão internacional da operação e às pressões por investigação sobre o número de mortes.

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