O primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, declarou nesta segunda-feira (27) que o país está pronto para ingressar no BRICS “a qualquer momento”, reforçando o interesse de Kuala Lumpur em aproximar-se do bloco liderado por economias emergentes como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A afirmação foi feita durante a Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e divulgada pela agência Sputnik.
“Sim, é claro que queremos ingressar [no BRICS]… Se eles aceitarem amanhã, podemos entrar amanhã”, disse o premiê malaio à margem do encontro da ASEAN.
A fala representa a manifestação mais direta do governo da Malásia sobre o tema e sinaliza o avanço das tratativas diplomáticas com os países do grupo, em um momento de expansão acelerada do BRICS e de reposicionamento geopolítico na Ásia.
BRICS amplia alcance global
O BRICS foi fundado em 2006, inicialmente como uma coalizão entre Brasil, Rússia, Índia e China, com o objetivo de fortalecer a cooperação entre grandes economias emergentes. A África do Sul foi incorporada em 2010, completando a sigla.
Desde então, o grupo vem buscando aumentar sua influência econômica e política global, oferecendo uma alternativa às instituições financeiras dominadas pelo Ocidente, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Nos últimos anos, a expansão do BRICS tornou-se uma prioridade das nações fundadoras. Em 2024, o bloco recebeu Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos como novos membros. No ano seguinte, em 2025, a Indonésia tornou-se membro pleno — movimento considerado um marco estratégico para a presença do grupo no Sudeste Asiático.
Países parceiros e nova arquitetura internacional
A ampliação do BRICS reflete o interesse crescente de países em desenvolvimento em diversificar alianças econômicas e financeiras. Segundo o anúncio feito durante a cúpula do grupo em 2025, Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Tailândia, Cuba, Malásia, Uganda e Uzbequistão foram reconhecidos como “estados parceiros oficiais”, categoria que antecede a adesão plena.
A partir de 1º de janeiro de 2026, esses países passaram a integrar fóruns técnicos e reuniões de trabalho do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) — instituição financeira criada pelo BRICS e sediada em Xangai. A categoria de “parceiro oficial” permite a participação em projetos de infraestrutura, financiamento sustentável e comércio intra-bloco, mas ainda sem direito a voto nas decisões centrais.
De acordo com fontes diplomáticas ouvidas pela agência Sputnik, a Malásia vem mantendo “conversas preliminares” com o comitê de expansão do BRICS desde meados de 2024, especialmente após o ingresso da Indonésia. Kuala Lumpur tem enfatizado seu papel estratégico como hub logístico e financeiro da Ásia-Pacífico e pretende alinhar-se a novas oportunidades de investimento e cooperação tecnológica.
Prioridade estratégica de Kuala Lumpur
O premiê Anwar Ibrahim tem defendido uma agenda de política externa independente, que busca equilibrar as relações entre o Ocidente e potências emergentes. Nos últimos meses, a Malásia estreitou laços com China, Índia e Arábia Saudita, ao mesmo tempo em que manteve cooperação econômica com Estados Unidos e União Europeia.
Para analistas da região, a eventual adesão ao BRICS representaria um reposicionamento geopolítico significativo. Em entrevista à imprensa local, o ministro malaio do Comércio Internacional e Indústria, Zafrul Abdul Aziz, afirmou que a entrada no bloco “abriria novas portas de financiamento e comércio” em áreas como energia limpa, tecnologia e infraestrutura.
“O BRICS representa uma rede de oportunidades que pode reduzir a dependência de estruturas financeiras tradicionais e permitir uma inserção mais equilibrada do Sul Global na economia mundial”, disse Zafrul.
Impactos econômicos e diplomáticos
A entrada da Malásia fortaleceria a presença do BRICS na Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), onde o bloco já conta com a Indonésia como membro pleno e Tailândia e Vietnã como observadores. Segundo especialistas, a adesão de Kuala Lumpur ampliaria a influência diplomática do grupo na região, consolidando um eixo de cooperação entre a Ásia e o Sul Global.
A Malásia tem uma das economias mais diversificadas do Sudeste Asiático, com destaque para o setor eletrônico, petroquímico e de exportação de gás natural liquefeito (GNL). O país é considerado um parceiro estratégico em iniciativas de transição energética e digitalização industrial, áreas em que o Novo Banco de Desenvolvimento pretende ampliar investimentos.
Fontes próximas ao Ministério das Finanças malaio informaram que o país estuda aderir a acordos de compensação comercial em moedas locais, mecanismo defendido pelo BRICS para reduzir a dependência do dólar nas transações internacionais.
Expansão contínua e futuro do bloco
O movimento de expansão do BRICS ocorre em um contexto de tensões geopolíticas globais e de mudanças no sistema financeiro internacional. A consolidação de novos membros e parceiros reflete o esforço do grupo para ampliar sua capacidade de influência e promover uma ordem multipolar baseada na cooperação entre países emergentes.
Atualmente, o BRICS representa cerca de 45% da população mundial e 33% do PIB global, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). A adesão da Malásia, caso confirmada, ampliaria o peso econômico do bloco e reforçaria sua presença no eixo Ásia-Pacífico, considerado estratégico para o comércio global.
“Estamos prontos para entrar a qualquer momento”, reiterou Anwar Ibrahim. “Acreditamos que o BRICS é um fórum importante para fortalecer o Sul Global e para equilibrar o poder nas relações econômicas internacionais.”