Castro enviou relatório a Trump pedindo sanções contra o Comando Vermelho

A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil divulgou, nesta terça-feira (28), um alerta de segurança recomendando que cidadãos norte-americanos evitem determinadas áreas do Rio de Janeiro devido aos confrontos entre policiais e criminosos que paralisaram parte da cidade. O comunicado, intitulado “Security Alert – Rio de Janeiro”, foi publicado no site oficial da representação diplomática.

Segundo o texto, “confrontos entre polícia e grupos criminosos nesta terça-feira estão causando grandes interrupções no trânsito em diversas áreas da cidade”. A embaixada alertou ainda que “a situação pode mudar a qualquer momento” e orientou que, se for necessário sair, “tenha cautela e evite as áreas afetadas sempre que possível”.

O alerta foi emitido após a operação policial mais letal da história do estado, que resultou em pelo menos 64 mortes, segundo dados oficiais do governo fluminense. As ações ocorreram nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte, e levaram o governo federal a autorizar a transferência de presos ligados ao crime organizado para presídios federais de segurança máxima.

Relatório do governo do Rio ao governo Trump

Paralelamente, veio à tona que o governo do Rio de Janeiro enviou um relatório ao governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, classificando o Comando Vermelho (CV) como uma organização de atuação internacional com características de grupo terrorista.

De acordo com informações da CNN Brasil, o documento foi elaborado pela área de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do estado há cerca de oito meses e entregue ao Consulado norte-americano no Rio.

Fontes próximas ao governador Cláudio Castro (PL) afirmam que o relatório descreve a expansão das operações do Comando Vermelho para outros países, inclusive a América do Norte, e detalha suas práticas violentas e estrutura de comando.

O objetivo do envio, segundo as fontes, seria aprofundar a cooperação com autoridades norte-americanas no combate ao tráfico de drogas e pressionar Washington a impor sanções contra líderes da facção, em linha com a política de endurecimento adotada por Trump, que vem classificando cartéis e grupos de narcotráfico como “organizações terroristas internacionais”.

EUA podem incluir o Comando Vermelho em lista de sanções

O governo do Rio pretende convencer o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) — órgão do Departamento do Tesouro dos EUA responsável por aplicar sanções econômicas — a incluir o Comando Vermelho em sua lista de entidades proibidas.

Caso o pedido seja aceito, instituições financeiras e empresas que mantenham vínculos com integrantes da facção poderiam sofrer punições e bloqueio de ativos internacionais.

A proposta alinha-se à estratégia de segurança externa de Donald Trump, que, desde o início de seu segundo mandato, vem defendendo o uso de sanções e operações especiais contra cartéis latino-americanos, incluindo medidas militares na Venezuela e na Colômbia.

Divergência com o governo Lula

A movimentação do governo fluminense, contudo, contrasta com a posição do Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, sustentam que facções como o Comando Vermelho e o PCC não se enquadram na definição de terrorismo prevista na legislação brasileira.

“Normalmente, a classificação de um grupo ou de uma pessoa como terrorista envolve certo grau de subjetividade”, explicou Lewandowski, ao reforçar que a lei brasileira define terrorismo como atos motivados por razões ideológicas, políticas ou religiosas, o que não se aplica a organizações criminosas voltadas ao lucro.

“Não há, portanto, qualquer intenção de confundir esses dois conceitos”, completou o ministro.


A posição do governo federal reflete a preocupação de evitar o uso político da tipificação de terrorismo, além de preservar o diálogo com organismos internacionais de direitos humanos, que têm criticado as operações recentes no Rio pela escalada de mortes e denúncias de abusos policiais.

Contexto e repercussão internacional

O alerta da embaixada americana ocorre em um momento de forte tensão na segurança pública fluminense e de crescimento da cooperação internacional contra facções. A repercussão do episódio chegou à ONU e a entidades como a Human Rights Watch, que manifestaram preocupação com a escalada da violência e pediram uma mudança estrutural na política de segurança do estado.

Enquanto o governo estadual tenta estreitar laços com Washington, o Planalto busca conter o desgaste político e preservar a autonomia da política interna de segurança, reforçando o discurso de coordenação federativa e combate ao crime organizado sem intervenção militar.

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