A China e a ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático) assinaram nesta terça-feira (28) uma versão atualizada de seu acordo de livre comércio, ampliando a cooperação em áreas como economia digital, energia verde e cadeias produtivas. O pacto foi anunciado durante a cúpula do bloco realizada em Kuala Lumpur, na Malásia, e ocorre em meio ao aumento das tarifas impostas pelo governo de Donald Trump a diversos países, incluindo os membros da ASEAN.
A China é atualmente o maior parceiro comercial da ASEAN, com um volume bilateral que chegou a US$ 771 bilhões em 2024, segundo dados oficiais do bloco. Juntas, as economias do Sudeste Asiático somam um PIB combinado de US$ 3,8 trilhões.
O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, afirmou que o novo acordo — conhecido como Versão 3.0 do Tratado de Livre Comércio China-ASEAN — representa “um passo importante na integração econômica regional” e deve acelerar a liberalização do comércio e dos investimentos. “Precisamos fortalecer a interdependência industrial e evitar o protecionismo”, disse.
A atualização do tratado foi assinada durante a 47ª Cúpula da ASEAN, dois dias após a participação de Donald Trump na reunião, como parte de sua viagem pela Ásia. As negociações começaram em novembro de 2022 e foram concluídas em maio deste ano, logo após o início da nova rodada de tarifas dos EUA.
O primeiro-ministro de Singapura, Lawrence Wong, destacou que o acordo “reduzirá barreiras comerciais, fortalecerá a conectividade das cadeias de suprimentos e abrirá oportunidades em setores estratégicos do futuro”.
Entre as áreas beneficiadas estão a agricultura, a indústria farmacêutica e a economia digital. A China e a ASEAN também integram o RCEP (Parceria Econômica Regional Abrangente), maior bloco comercial do mundo, que reúne cerca de um terço do PIB global e da população do planeta.
Apesar do avanço econômico, o encontro foi marcado por tensões geopolíticas. O presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., criticou a postura militar da China no Mar do Sul da China, palco de sucessivos confrontos entre embarcações filipinas e chinesas.
Pequim respondeu, afirmando que as ações de Manila são “provocações deliberadas”. A China reivindica quase toda a área marítima, rica em petróleo e gás, sobrepondo-se às zonas econômicas exclusivas de países como Vietnã, Malásia e Brunei.
Em discurso, Li Qiang defendeu “a necessidade de reforçar a confiança mútua e concluir rapidamente o Código de Conduta para o Mar do Sul da China”, um acordo que tenta evitar conflitos na região. Lawrence Wong também reforçou a importância de preservar “a paz, a estabilidade e a liberdade de navegação nesse corredor estratégico”.
A assinatura do novo acordo ocorre enquanto China e Estados Unidos mantêm uma trégua nas tensões comerciais. Os negociadores dos dois países se reuniram no fim de semana, em Kuala Lumpur, e definiram as bases para um novo entendimento que deve ser discutido entre Donald Trump e o presidente Xi Jinping em Seul ainda nesta semana.
Desde o início do ano, o governo Trump ampliou tarifas sobre produtos chineses, política que Pequim chama de “protecionista”. Em resposta, a China vem fortalecendo acordos regionais e aumentando o controle sobre minerais estratégicos — como terras-raras, dos quais domina mais de 90% da produção mundial.
Li Qiang afirmou que o momento exige “cooperação e abertura, não competição destrutiva”. Segundo ele, “o mundo não pode voltar à lei da selva, em que os fortes exploram os fracos”.


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