Em editorial publicado nesta quinta-feira, 30, O Globo posicionou-se a favor da megaoperação realizada pelas polícias Civil e Militar nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortos, incluindo quatro agentes de segurança e quatro civis.
O texto classificou a ação como necessária diante do que chamou de “resistência incomum” de integrantes do crime organizado e destacou o “risco enorme” assumido pelos policiais ao entrar na região, descrita como “quartel-general do Comando Vermelho”.
O jornal afirmou que o volume de vítimas é um dado “revelador” do nível de confronto encontrado pelas forças de segurança. Segundo o editorial, o saldo registrado estaria associado ao enfrentamento direto com grupos armados e à atuação das polícias “nas matas”, onde os criminosos teriam sido cercados.
O texto indicou que a ofensiva teria sido planejada para reduzir riscos à população local, afirmando que os principais embates ocorreram fora da área habitada. A operação foi apresentada como uma resposta ao avanço de facções e à consolidação de territórios dominados pelo crime.
Defesa da postura das forças de segurança
O editorial citou declaração do secretário de Polícia Civil do Rio, Felipe Curi, que caracterizou o cenário como “de guerra”. Para O Globo, a afirmação reforçaria a dimensão do desafio enfrentado: uma “guerra irregular, assimétrica”, entendida pelo jornal como questão de segurança nacional e de soberania.
Segundo o texto, as forças estaduais atuaram em contexto adverso e devem manter ações de enfrentamento contínuo contra organizações criminosas. O jornal também afirmou que limitações impostas ao policiamento em comunidades fluminenses reduziram a eficácia das operações nos últimos anos e elogiou a decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF) que flexibilizou parte dessas restrições.
Críticas ao Supremo Tribunal Federal
O editorial classificou como “exagero” o pedido do ministro Alexandre de Moraes para esclarecimentos adicionais sobre a operação. De acordo com o texto, o papel do STF deveria ser de supervisão, não de condução ou interferência direta em estratégias de segurança pública. O jornal citou o jurista Gustavo Binenbojm ao argumentar que o tribunal não teria “capacidade institucional” para decisões técnicas e multifatoriais sobre o tema.
O posicionamento reforçou a defesa da autonomia estadual na formulação e execução de políticas de segurança, sustentando que governadores e forças locais são os responsáveis diretos por esse tipo de operação.
Pedido de coordenação entre governos
Embora tenha defendido a operação, O Globo afirmou que o país enfrenta déficit de coordenação entre autoridades estaduais e federais. O editorial lamentou trocas públicas de acusações entre o governo do Rio de Janeiro e Brasília após os confrontos, apontando falta de integração no combate às facções.
O texto concluiu que autoridades dos três Poderes devem transmitir “um recado inequívoco de união”, defendendo a criação de uma estrutura permanente de cooperação, citada como “escritório conjunto”, para enfrentar facções criminosas e milícias.
A publicação enfatizou que o combate ao crime organizado deve envolver Executivo, Judiciário e governos estaduais em ação integrada, com foco na manutenção da ordem pública e enfrentamento a grupos armados que controlam territórios urbanos.