Especulação e a geopolítica inflam os lucros do petróleo

A alta do barril expõe a fragilidade de um mercado que reage mais a discursos e rumores do que à real demanda da população mundial.

O mercado financeiro, notório por sua dissociação da economia real, teve motivos para celebrar nesta quarta-feira, 29 de outubro. Após três longas sessões de perdas – um desastre para quem lucra com a volatilidade – os preços do petróleo finalmente voltaram a subir. O barril de Brent superou os US$ 64, e o WTI firmou-se acima dos US$ 60. O motivo desse “alívio”, no entanto, expõe a total irracionalidade de um sistema movido a narrativas e especulação, e não a necessidades concretas.

Os operadores encontraram seus pretextos para a alta em dois pilares: um relatório técnico vindo dos EUA e o otimismo manufaturado em torno das negociações comerciais. Ambos serviram perfeitamente para inflar os preços, beneficiando os detentores de ativos em detrimento da estabilidade econômica global.

O grande motor do dia foi o relatório da Administração de Informação de Energia dos EUA (EIA). Nos últimos meses, o consenso do capital era de que o mundo se afogava em um “grande excedente” de petróleo, uma narrativa conveniente alimentada pelo aumento da produção da OPEP+ e pelo bombeamento recorde nos próprios EUA. Essa história, no entanto, desmoronou espetacularmente hoje.

O mercado, em sua infinita sabedoria, previa uma redução modesta de 211.000 barris nos estoques de petróleo bruto dos EUA. O que o relatório da EIA revelou foi um abismo: uma queda de quase 7 milhões de barris.

A reação do mercado foi imediata, e as vozes do capital não perderam tempo em ditar a nova realidade. “Onde está o excesso de oferta?”, bradou Phil Flynn, analista do Price Futures Group. Esta não é uma pergunta genuína; é um comando. É a construção de uma nova narrativa para justificar o fim das perdas. “Quanto mais tempo demorar para o excesso de oferta aparecer, mais duvidaremos de sua existência”, completou Flynn, efetivamente dando permissão ao mercado para comprar e elevar os preços.

Essa nova diretriz foi ecoada por Giovanni Staunovo, analista do UBS, um dos gigantes da finança global. Staunovo não viu apenas uma queda de estoques; ele viu uma “forte demanda implícita” por petróleo. Em um mundo que deveria estar buscando alternativas energéticas, a celebração de uma “demanda aquecida” por combustível fóssil é, para o analista do UBS, um cenário “muito positivo”. Positivo, claro, para as carteiras de investimento do banco e de seus clientes, e não para o planeta ou para o consumidor que pagará mais caro na bomba.

Se os dados da EIA foram o estopim técnico, o “ânimo” do mercado precisava de um pilar político para se sustentar. E ele veio na forma do presidente Donald Trump e seu “tom otimista” sobre as negociações com o líder chinês, Xi Jinping.

A cúpula na Coreia do Sul, onde os dois devem se encontrar, é vista pelos operadores não como uma chance para a paz, mas como uma oportunidade para “aliviar a incerteza econômica”. Traduzindo do jargão financeiro: o mercado está ansioso para que a guerra comercial termine, não por preocupações humanitárias, mas para que as engrenagens da produção industrial voltem a girar a todo vapor, garantindo assim o aumento da demanda por energia.

O que se celebra é a potencial retomada do consumo desenfreado que alimenta o ciclo de lucros. O fato de que os EUA finalizaram um acordo comercial com a Coreia do Sul na mesma cúpula apenas adiciona contexto ao balcão de negócios de alto nível que dita o ritmo da economia global, muito acima das cabeças dos trabalhadores.

No fechamento do dia, a “tempestade perfeita” para os especuladores se refletiu nos painéis:

  • Brent (Referência global): Alta de 0,81%, fechando em US$ 64,92.
  • WTI (EUA): Alta de 0,55%, fechando em US$ 60,48.
  • Mix Mexicano (Exportação): Uma alta irrisória de 0,05% (3 centavos), fechando em US$ 57,56.

Os números não mentem. Enquanto os grandes centros de especulação de Londres (Brent) e Nova Iorque (WTI) registraram ganhos substanciais, o petróleo de um país exportador do Sul Global, como o México, mal se moveu.

A alta de hoje não é uma vitória para a economia; é a vitória de uma narrativa sobre a outra. É a prova de que o preço das commodities essenciais não é definido pela necessidade real, mas por relatórios “surpresa” que desmentem previsões dos próprios analistas e pelo teatro político das grandes potências. O cassino respirou aliviado, pois o lucro, por mais um dia, foi garantido.

Redação:
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