O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, fez um alerta contundente nesta quinta-feira (31) sobre o impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho dos Estados Unidos. Embora o país mantenha uma taxa de desemprego aparentemente saudável de 4,3%, Powell afirmou que a criação líquida de empregos “está praticamente em zero”, com várias empresas reduzindo ou congelando contratações e apontando a IA como motivo direto.
Em coletiva após o anúncio de um novo corte na taxa básica de juros — agora entre 3,75% e 4%, devido a “riscos negativos para o emprego” —, o chefe do Fed descreveu um cenário paradoxal: crescimento econômico moderado, alta produtividade impulsionada pela IA e enfraquecimento do mercado de trabalho.
“Um número significativo de empresas anunciou recentemente demissões ou congelamentos de contratações, citando explicitamente a inteligência artificial como motivo”, declarou Powell. “Elas estão falando sobre o que a IA pode fazer — e isso muda a dinâmica da necessidade de mão de obra.”
Entre as grandes companhias que confirmaram cortes estão Amazon, Target e Paramount, que seguem reduzindo quadros administrativos ao mesmo tempo em que ampliam investimentos em automação e infraestrutura digital. Apenas a Amazon demitiu 14 mil gerentes de nível médio nesta semana, cerca de 4% de sua força administrativa, como parte de um plano para “remover camadas organizacionais”.
Segundo levantamento da Challenger, Gray & Christmas, o número total de demissões nos EUA em 2025 já ultrapassou 940 mil, o maior desde 2020 — com mais de 17 mil diretamente ligadas ao uso de IA e cerca de 20 mil à automação de processos.
Powell alertou que o fenômeno está se consolidando a ponto de alguns economistas chamarem o momento de “Grande Congelamento”: empresas continuam lucrando e investindo em tecnologia, mas praticamente pararam de contratar.
“Temos riscos de alta para a inflação e riscos de baixa para o emprego”, disse Powell. “Isso é algo muito difícil para um banco central, porque um desses fatores pede juros mais baixos, e o outro pede juros mais altos.”
O presidente do Fed também observou que o boom de investimentos em IA — especialmente em data centers, chips e robótica — não representa uma bolha especulativa como a das “pontocom”. Para ele, trata-se de uma transformação estrutural real, mas que cria um dilema para a política monetária: a automação aumenta a produção, mas substitui trabalhadores humanos.
Powell ainda descreveu a economia norte-americana como cada vez mais dividida, em formato de “K” — com famílias ricas e grandes corporações se beneficiando dos ganhos de produtividade, enquanto trabalhadores de baixa renda e jovens enfrentam queda de oportunidades.
“Os consumidores da base estão enfrentando dificuldades, comprando menos e migrando para produtos mais baratos”, disse.