Sete homens foram mortos na madrugada desta sexta-feira (31) em uma operação da Polícia Militar em Canindé, no interior do Ceará. A Secretaria da Segurança Pública (SSPDS) afirma que os mortos seriam integrantes do Comando Vermelho, mas até o momento nenhum deles teve identidade confirmada. O caso reacende o debate sobre o uso excessivo da força e a falta de transparência em ações policiais no estado.
De acordo com a SSPDS, o confronto aconteceu no bairro Campinas, região disputada por facções criminosas. A operação envolveu várias unidades especializadas — Raio, Cotar, Força Tática e Policiamento Ostensivo Geral. A secretaria informou que os agentes foram recebidos a tiros e com explosivos, e reagiram “em legítima defesa”. Após a troca de tiros, sete homens foram socorridos, mas todos morreram. Nenhum policial ficou ferido.
A versão oficial, porém, levanta questionamentos. Moradores relataram ter ouvido rajadas de tiros por mais de dez minutos e afirmaram que o bairro foi cercado durante a madrugada. Não há confirmação de perícia independente no local, e organizações de direitos humanos cobram investigação sobre a conduta dos agentes.
“Essas operações têm se transformado em execuções sumárias, com pouca apuração e discursos oficiais de exaltação à letalidade”, afirma a advogada Carla Moura, do Fórum Cearense de Segurança Pública. Segundo ela, o estado precisa adotar protocolos mais rigorosos para evitar mortes e garantir transparência.
Apesar da gravidade do episódio, o governador Elmano de Freitas (PT) comemorou a operação:
“Nenhum policial morto. Nenhum inocente alvejado. A população protegida. Parabéns à nossa Polícia Militar do Ceará”, publicou em rede social.
A fala gerou críticas de especialistas em segurança, que apontam o risco de naturalizar a morte de suspeitos como indicador de sucesso. “Segurança pública não se mede pelo número de corpos”, disse o sociólogo Henrique Sales, da Universidade Federal do Ceará.
Nos últimos anos, o estado tem liderado o ranking nacional de homicídios dolosos. Segundo o Mapa da Segurança Pública, 90% dos assassinatos no Ceará estão ligados à disputa territorial de facções, mas a letalidade policial também cresceu. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que o Ceará registrou 435 mortes por intervenção policial em 2024 — um aumento de 18% em relação ao ano anterior.
Em Canindé, os corpos ainda aguardam identificação formal no Instituto Médico Legal.