Jeannette Jara lidera corrida presidencial no Chile, mas enfrenta resistência para o segundo turno

A candidata presidencial chilena Jeannette Jara, do Partido Comunista, acena para seus apoiadores após votar nas primárias de esquerda em Santiago. Foto: Rodrigo Arangua/AFP

A poucos dias da eleição presidencial marcada para 16 de novembro, o Chile vive um novo capítulo de polarização política. Jeannette Jara, candidata da coalizão de esquerda e ex-ministra do Trabalho, aparece como favorita no primeiro turno, segundo as pesquisas mais recentes. No entanto, o caminho até a vitória final ainda é incerto: os levantamentos indicam que, apesar do bom desempenho inicial, ela enfrentará forte rejeição em um possível segundo turno.

Jara venceu com ampla vantagem as primárias de junho, superando uma concorrente de linha mais moderada e consolidando-se como o nome de consenso dentro da coalizão progressista. Sua trajetória política, marcada pela defesa de direitos trabalhistas e pela tentativa de ampliar a proteção social, vem sendo apresentada por aliados como a continuidade de um projeto de esquerda que busca corrigir desigualdades históricas. A candidata também herda parte do capital político do governo Gabriel Boric, embora carregue o peso do desgaste de sua administração.

Segundo levantamento da Centro de Estudios Públicos (CEP), Jara lidera as intenções de voto no primeiro turno, com cerca de 25%, seguida de José Antonio Kast, da extrema direita, com 23%, e da conservadora Evelyn Matthei, com 12%. A pesquisa reforça o favoritismo da esquerda nesta fase inicial, impulsionado principalmente pelo eleitorado urbano e jovem, mais sensível a temas como igualdade de gênero, direitos sociais e redistribuição de renda.

Apesar da vantagem, o desafio de Jara será conquistar os setores de centro e moderados em uma eventual disputa de segundo turno. O mesmo levantamento indica que, em confrontos diretos com Kast ou Matthei, ela perderia por margens que variam de três a cinco pontos percentuais. O cenário evidencia a dificuldade de ampliar seu apoio além do campo progressista, sobretudo num momento em que o país vive preocupações crescentes com inflação, insegurança e migração — temas explorados com força pela direita.

A campanha da candidata tenta responder com a promessa de estabilidade econômica aliada à justiça social, buscando mostrar que é possível avançar em reformas estruturais sem comprometer o crescimento. Ainda assim, a rejeição à esquerda, acumulada após sucessivos embates sobre o processo constituinte e políticas de segurança pública, permanece como um obstáculo significativo.

Para a esquerda chilena, a candidatura de Jeannette Jara representa mais do que uma disputa eleitoral: é um teste de sobrevivência política. Sua vitória no primeiro turno simbolizaria o fôlego de um projeto que, mesmo desgastado, ainda encontra eco na sociedade. Já uma eventual derrota no segundo turno poderia aprofundar a crise de identidade de um campo político que tenta se reinventar em meio a ventos instáveis.

Lucas Allabi: Jornalista em formação pela PUC-SP e apaixonado pelo Sul Global. Escreve principalmente sobre política e economia. Instagram: @lu.allab
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