O túnel submarino de Jintang, parte da ferrovia Yongzhou, é o novo marco da engenharia chinesa ao conectar o continente ao arquipélago de Zhoushan com um traçado de 16,18 quilômetros, dos quais 11,21 km correm sob o leito marinho. Projetado para trens a 250 km/h, o corredor binário foi dimensionado para duas vias ferroviárias e promete reduzir a viagem entre Ningbo e Zhoushan para cerca de 30 minutos.
Conexão estratégica e desafios técnicos
A obra, conduzida pela estatal TAV Yongzhou Railway, faz parte do plano chinês de integração logística de alta velocidade entre áreas industriais e portuárias. O túnel atingirá profundidade de 78 metros abaixo do nível do mar, em uma região com alta complexidade geológica.
A execução utiliza duas tuneladoras de grande porte, Dinghai e Yongzhou, que avançam simultaneamente de margens opostas até se encontrarem em um ponto de rocha estável. O sistema de navegação adota a constelação BeiDou, tecnologia chinesa de georreferenciamento, para garantir alinhamento milimétrico.
Durante o encontro subterrâneo, o erro de convergência é controlado em poucos centímetros, fator decisivo para manter a continuidade estrutural do anel de revestimento. Como não há frente livre para retirada das máquinas, será empregado o método de desmontagem interna das tuneladoras, incorporando parte das carcaças metálicas ao corpo do túnel.
Geologia complexa e soluções sob pressão
O traçado cruza 28 formações geológicas distintas, alternando solos moles e rocha sã. Isso exige ajustes contínuos na pressão das câmaras de escavação e no torque das ferramentas de corte. Para reduzir a aderência das argilas marinhas, foram instalados sistemas de injeção de água na cabeça de corte, que estabilizam o fluxo do material escavado.
Cada seção anelar é montada sob controle rigoroso de geometria e estanqueidade, assegurando durabilidade e segurança frente às pressões hidrostáticas.
Engenharia de precisão e velocidade inédita
O túnel de Jintang se destaca por ser um dos primeiros do mundo projetado para alta velocidade em ambiente submerso. A seção interna de 14,5 metros permite abrigar duas vias, passagens técnicas, sistemas de ventilação e rotas de emergência. O envelope aerodinâmico foi calculado para reduzir o impacto da pressão gerada pelo cruzamento simultâneo de trens a 250 km/h.
De acordo com engenheiros do projeto, a estrutura foi concebida para frequência elevada de trens e manutenção simplificada, mantendo padrões internacionais de desempenho e segurança.
Prazos e impacto regional
O rompimento total do túnel está previsto para ocorrer até o fim de 2026, com a entrada em operação da ferrovia Yongzhou em 2028. A nova ligação substituirá travessias rodoviárias e reduzirá a dependência de balsas, frequentemente afetadas por ventos e marés.
A estimativa é que o túnel impulsione cadeias industriais e portuárias, ampliando o mercado de trabalho e o fluxo de turistas na região de Zhoushan. Para o governo chinês, a infraestrutura representa um passo estratégico na consolidação de corredores integrados de transporte de alta velocidade.
Referência tecnológica e sustentabilidade
O túnel submarino de Jintang se apoia na experiência adquirida em grandes projetos anteriores, como o túnel imerso Hong Kong–Zhuhai–Macau, reconhecido pela precisão na montagem de módulos submersos. Essa base técnica sustenta o avanço de novas soluções em escavação sob pressão e monitoramento em tempo real.
Embora a tecnologia empregada seja considerada de ponta, especialistas ressaltam a necessidade de avaliação ambiental e social contínua, abrangendo dragagens, canteiros e planos de resposta a emergências.
Quando concluído, o túnel de Jintang deve se tornar uma das obras subterrâneas mais avançadas do mundo — um elo entre engenharia de alta precisão e mobilidade sustentável no litoral leste da China.