Startup de Indiana promete reatores que reciclam resíduos

Startup de Indiana promete reatores que reciclam resíduos, mas seu primeiro passo rumo à energia “limpa” será alimentado por gás natural / Divulgação

Enquanto a First American Nuclear Co. vende um futuro onde reatores reciclam seus próprios resíduos tóxicos, o plano imediato para alimentar data centers envolve combustíveis fósseis


Em meio a uma corrida desesperada por energia para alimentar a crescente demanda da Inteligência Artificial (IA), uma startup sediada em Indiana, Estados Unidos, apresentou um plano ambicioso que beira a ficção científica: construir uma usina nuclear capaz de consumir os próprios “resíduos mortais” que produz.

A empresa, chamada First American Nuclear Co., promete uma revolução energética. No entanto, por trás do discurso de inovação, a realidade imediata é mais fóssil do que atômica.

O plano da companhia é começar a fornecer eletricidade em 2028, mas não com seu reator milagroso. A fase inicial da operação será alimentada por gás natural. Somente em uma segunda etapa, prevista para 2032, a empresa espera implantar seu reator rápido de metal líquido, segundo confirmou o diretor executivo, Mike Reinboth.

O verdadeiro alvo desse esforço não é o consumidor residencial comum, mas sim o apetite colossal dos centros de dados. A explosão da IA gerou uma demanda sem precedentes por eletricidade, e a energia nuclear tem sido cada vez mais apresentada como a solução viável, apesar do consenso de que “é improvável que o setor construa novos reatores nos próximos anos”.

A First American aposta no seu modelo híbrido: usar o gás natural, uma fonte de energia que contribui para a crise climática, permite que ela “comece a fornecer eletricidade nos próximos anos” e, crucialmente, comece a faturar enquanto aguarda as complexas aprovações regulatórias para sua tecnologia nuclear.

Reinboth admitiu que outras empresas estão adotando estratégias semelhantes e confirmou estar em negociações ativas com potenciais clientes de data centers. A demanda é clara e urgente. “Os centros de dados estão impulsionando a demanda por energia”, disse ele.

Uma aposta de US$ 4,2 bilhões em tecnologia controversa

A empresa está atualmente avaliando diversos locais em Indiana para seu projeto. O objetivo é instalar seis desses sistemas, a um custo estimado de US$ 4,2 bilhões. Se concretizado, o complexo geraria energia suficiente para abastecer 1,5 milhão de residências — ou, mais provavelmente, um número significativo de servidores de IA.

A tecnologia central da promessa é um reator de metal líquido de 240 megawatts. Este design utiliza chumbo-bismuto como refrigerante. A própria empresa admite ser a única nos Estados Unidos a desenvolver essa tecnologia específica para uso comercial, embora ela tenha um histórico de aplicação em outro contexto: “já é utilizada em submarinos russos há anos”.

A grande promessa de marketing da First American é a sua instalação de reprocessamento. A empresa afirma que o sistema será capaz de converter o urânio já utilizado (o lixo nuclear) de volta em novo combustível.

Segundo o comunicado divulgado na terça-feira, essa capacidade de reutilizar o combustível irradiado eliminaria o desafio histórico dos resíduos tóxicos gerados por reatores convencionais e, de quebra, tornaria as usinas “mais baratas de operar”.

É uma visão de um ciclo nuclear perfeito, onde o problema se torna a solução. Nas palavras otimistas de Bill Stokes, fundador e presidente da empresa: “Os resíduos, na verdade, fornecem energia”.

Resta saber se a First American Nuclear Co. conseguirá superar os imensos desafios regulatórios e técnicos de domar uma tecnologia de submarinos militares para uso civil, ou se o futuro imediato em Indiana será apenas mais uma usina de gás natural, construída às pressas para saciar a fome energética de Big Tech.

Com informações de Bloomberg*

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