Brasil inicia testes com trem movido a etanol e mira corte de 50% no consumo de diesel até 2028

O Brasil deu início à fase de validação do primeiro projeto de locomotiva movida a etanol para operação em linhas férreas de carga, com o objetivo de reduzir em até 50% o uso de diesel na tração ferroviária. A tecnologia, desenvolvida em parceria com centros de pesquisa internacionais, passa por ensaios de bancada na Europa e deve avançar para testes em via ainda em 2026. A previsão é que projetos-piloto em rotas comerciais comecem até 2028.

A iniciativa integra a estratégia do setor ferroviário brasileiro de descarbonização gradual, aproveitando a ampla disponibilidade de etanol no país, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, onde se concentram a produção e o escoamento agrícola. A proposta busca adaptar locomotivas já existentes, mantendo motores a diesel, porém com injeção calibrada para operar com mistura relevante de biocombustível.

Testes e adaptações mecânicas

A tecnologia em avaliação combina ajustes no motor com um mapa de injeção específico para o etanol. As mudanças incluem:

Calibração eletrônica para gerenciamento de mistura e ignição assistida

Adequação do sistema de combustível, com vedações e materiais compatíveis ao álcool

Tanques híbridos ou compartimentados para alternância segura entre etanol e diesel

Atualização de sensores e bombas para serviço contínuo em alta carga


O objetivo é garantir torque e confiabilidade equivalentes ao diesel puro, preservando a capacidade de tracionar cargas pesadas e operar em rampas críticas da malha ferroviária.

De acordo com engenheiros envolvidos, o foco inicial está em viagens longas e condições severas, incluindo variações climáticas e altimétricas. A expectativa é confirmar parâmetros de consumo, potência e emissão controlada de poluentes.

Cronograma e pilotos operacionais

A fase atual envolve ensaios laboratoriais de durabilidade e emissões. Em seguida, locomotivas adaptadas passarão a rodar em trechos selecionados do Centro-Oeste e Sudeste, regiões com logística de etanol consolidada. O cronograma prevê:

2025–2026: conclusão da fase de bancada e integração em protótipos

2026–2027: testes dinâmicos em via com telemetria

2028: entrada em operação piloto comercial


Os corredores ainda não foram oficialmente divulgados, mas fontes do setor indicam prioridade para linhas agrícolas com terminais próximos a usinas.

Logística e segurança

A operação com etanol exige infraestrutura adaptada. Locais de abastecimento terão protocolos específicos de manuseio e contenção, devido à inflamabilidade e higroscopicidade do combustível. O planejamento inclui treinamento de equipes de manutenção e maquinistas, gerenciamento de riscos e plano emergencial para rotas com clima extremo.

A estratégia adotará infraestrutura dual — etanol e diesel — até que a tecnologia alcance maturidade para operar em maior escala.

Impacto ambiental e competitividade

A substituição parcial do diesel pode reduzir emissões de gases de efeito estufa e partículas poluentes, ampliando a competitividade do modal ferroviário frente ao transporte rodoviário. Técnicos afirmam que o modelo traz benefícios principalmente em operações de alta intensidade energética, típicas do transporte de grãos, minério e combustíveis.

Estudos indicam queda relevante em material particulado e dióxidos de enxofre, embora a calibração seja essencial para controlar emissões de hidrocarbonetos e monóxido de carbono.

Para especialistas, trata-se de uma solução de transição energética, combinando infraestrutura existente com um combustível de baixa pegada de carbono e produção nacional consolidada.

O custo-benefício dependerá da relação futura entre preços do etanol e do diesel, além do desempenho em manutenção e disponibilidade da locomotiva.

Desafios

Entre os principais entraves apontados por engenheiros e operadores estão:

Durabilidade de componentes expostos ao etanol

Padronização de kits de conversão

Garantia de suprimento competitivo contínuo

Certificação regulatória para operação comercial


A adoção dependerá da capacidade de demonstrar equivalência operacional com locomotivas tradicionais, especialmente em condições extremas.

Perspectiva

Se aprovado e escalado, o programa deve criar base tecnológica para misturas ainda maiores no futuro e até para plataformas híbridas dedicadas, abrindo caminho para aplicações em trens de passageiros e maior integração de biocombustíveis ao setor ferroviário.

A tecnologia é vista como alternativa pragmática para acelerar a descarbonização do transporte pesado, mantendo a frota atual e reduzindo dependência de diesel importado.

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