Randolfe ergue a razão em meio a CPI contra o crime organizado

Entre críticas, serenidade e firmeza, o senador reafirma uma esquerda que combate o crime sem perder a ética nem o foco no interesse público


Em um cenário político onde o espetáculo frequentemente se sobrepõe à substância, e a busca por holofotes eleitorais ameaça o tratamento de questões vitais, a fala do senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) durante a instalação da CPI do Crime Organizado soa como um contraponto necessário e corajoso. Sua postura não é a de um ideólogo cego, mas a de um estadista que compreende a gravidade do momento e a natureza transpartidária do inimigo a ser combatido.

Randolfe acerta ao desideologizar, desde o início, a comissão. Ao afirmar que esta não é uma CPI “de governo nem de oposição”, ele faz um apelo à razão e ao interesse nacional. O crime organizado, como bem delineou o senador, não veste camisa partidária. Sua atuação capilar, presente em todos os 27 estados, do Amapá ao Rio Grande do Sul, é a prova mais contundente de que a segurança pública é um desastre que não escolhe vítimas pela cor da bandeira. A guerra, como ele definiu, é real, e exige que as trincheiras sejam cavadas em torno da lei e da ordem, e não de siglas ou projetos de poder.

Leia também: Clima de medo! Congresso instala CPI do Crime Organizado

A defesa de uma abordagem baseada em “inteligência” e “coordenação” é o cerne de uma visão moderna e eficiente de segurança pública, alinhada com o que há de mais avançado no mundo. Randolfe não cai na tentação fácil do discurso meramente repressivo e simplista.

Ele entende que o combate às facções exige mais do que operações espetaculares; demanda a integração de dados, a cooperação entre a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e as polícias estaduais, e uma estratégia nacional que fragilize as finanças e a logística do crime. A citação à “Operação Carbono Oculto”, que atacou o fluxo financeiro do PCC, não é um aceno vazio ao governo, mas a exemplificação prática do caminho a ser seguido: desestruturar o crime pela raiz, não apenas pelas folhas.

Sua crítica à morosidade do Congresso em votar a PEC da Segurança Pública e o projeto de lei que aumenta penas para criminosos organizados é um ato de responsabilidade. Enquanto a classe política se arrasta em disputas menores, o crime avança.

Randolfe coloca o dedo na ferida ao lembrar que o Parlamento tem nas mãos ferramentas cruciais solicitadas pelo Executivo, e que a CPI pode e deve ser um impulso para sua aprovação, e não um palco para seu entrave.

É na resposta sobre o possível “desespero eleitoral” da oposição que Randolfe demonstra uma lucidez política aguçada. Ao reconhecer o “desespero” de seus adversários por um palanque, mas demonstrar tranquilidade quanto ao trabalho do governo, ele inverte o jogo da narrativa. A serenidade é a arma de quem confia na solidez de suas ações. Ele não nega a disputa política, mas a subordina à urgência nacional. Esta é a maturidade que se espera de um líder em tempos de crise.

O paralelo traçado com a CPI do INSS, e o comentário sagaz sobre a visita “inusitada” de Onyx Lorenzoni a um senador da oposição, serve como um alerta necessário sobre os métodos que podem ser empregados para desvirtuar o trabalho parlamentar. Randolfe não está fechando os olhos para o jogo político; está, sim, exigindo que ele seja jogado com um mínimo de decoro e transparência, para que a investigação sobre um tema tão sensível não se perca em manobras obscuras.

A postura de Randolfe Rodrigues nesta terça-feira não foi a de um partidário radical, mas a de um democrata convicto. Ele defende uma esquerda que não foge ao combate, mas que o faz com método, com inteligência e com prioridade no interesse coletivo.

É a esquerda que entende que a segurança pública é um direito social básico, a ser garantido com Estado forte, coordenação e leis eficazes, não com bravatas ou populismo penal. Seu discurso é um chamado à responsabilidade, um lembrete de que, em meio à guerra contra o crime, a única bandeira a ser erguida é a do Brasil.

Redação:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.