Investimento estrangeiro no Brasil dispara 67% e supera ritmo global, impulsionado por diplomacia e realinhamento geopolítico

O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) em novos projetos produtivos no Brasil cresceu 67% entre 2022 e maio de 2025, desempenho muito acima da média global, que registrou expansão de 24% no mesmo período. Os dados foram divulgados pelo InfoMoney no sábado (8) e mostram que o país voltou ao radar de grandes grupos internacionais em meio à reorganização econômica global.

O aumento expressivo ocorre em um momento de transformação no fluxo internacional de capitais, marcado por tensões comerciais e disputas tecnológicas entre grandes potências. Nesse cenário, o Brasil tem se destacado pela capacidade de atrair investimentos produtivos, especialmente em setores ligados à transição energética, agronegócio, indústria e infraestrutura.

Brasil ganha espaço na disputa por capital global

De acordo com o economista Nelson Ferreira, sócio-sênior da consultoria multinacional McKinsey, a geografia dos investimentos internacionais está passando por uma reconfiguração.

“Observa-se uma mudança relevante na geografia de investimentos: eles estão sendo direcionados a distâncias geográficas maiores, mas a distâncias geopolíticas menores”, explicou Ferreira.


Segundo ele, o realinhamento global fez com que empresas e fundos busquem países considerados estáveis, com mercados grandes, amplo parque produtivo e boas relações com múltiplos blocos econômicos. O Brasil aparece como opção estratégica pela combinação de recursos naturais, mercado interno robusto e menor exposição a conflitos internacionais.

Diplomacia econômica e busca por novos mercados

A política externa brasileira nos últimos dois anos é vista como um dos principais fatores para o salto no fluxo de investimentos. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou uma agenda voltada à abertura de novos mercados, ampliação de parcerias comerciais e negociações diretas com diferentes polos globais.

Esse posicionamento ganhou relevância após os Estados Unidos aplicarem um tarifaço global em abril, medida que afetou diversos setores do comércio internacional. A resposta do Brasil foi intensificar o diálogo com Washington e, ao mesmo tempo, diversificar sua presença econômica, aumentando articulações com a Ásia, Oriente Médio e Europa.

O movimento ampliou a percepção de que o país busca autonomia estratégica, sem alinhamentos automáticos, atraindo empresas que desejam operar em ambientes menos polarizados.

Brasil volta ao mapa de investidores estrangeiros

A combinação de estabilidade institucional, crescimento moderado do mercado interno e a presença de grandes cadeias produtivas tem reforçado a posição do Brasil em etapas chave da economia global. Entre os fatores apontados por analistas estão:

Avanço em projetos ligados à energia limpa, incluindo hidrogênio verde e biocombustíveis.

Expansão de grandes empresas globais nos setores de mineração, tecnologia, infraestrutura e manufatura.

Crescimento da demanda por commodities agrícolas e minerais, onde o Brasil tem vantagem competitiva.

Atuação diplomática voltada a acordos bilaterais e missões empresariais.


O ambiente internacional também contribui. Tensões entre Estados Unidos e China, a guerra no Leste Europeu e a instabilidade em cadeias produtivas aceleraram o movimento de diversificação geográfica de investimentos, beneficiando países considerados estáveis em termos geopolíticos.

Expectativa de novos fluxos a partir da Ásia e do Oriente Médio

Para Nelson Ferreira, a tendência é que o Brasil receba novas ondas de IDE nos próximos anos, com origem especialmente em países da Ásia e do Oriente Médio, além de contínuos aportes europeus.

Ele avalia que fundos soberanos e conglomerados desses regiões buscam ampliar presença em mercados emergentes estáveis, com potencial de retorno a longo prazo. O Brasil se enquadra nesse perfil pelo tamanho da economia e pela necessidade de investimentos em infraestrutura, energia, logística e inovação.

O país também tem se beneficiado da expansão de empresas chinesas e árabes em setores como:

Mobilidade elétrica;

Fertilizantes e petroquímica;

Energia solar e eólica;

Agroindústria e proteínas;

Portos e ferrovias.


Diplomacia como eixo da estratégia brasileira

O InfoMoney destaca que a política externa tem sido a peça central da estratégia brasileira. Missões internacionais lideradas pelo governo intensificaram a presença do país em fóruns multilaterais e negociações comerciais bilaterais, reforçando a imagem do Brasil como destino atraente para investimentos.

Para especialistas, o redesenho da economia global tende a favorecer países capazes de se posicionar como pontes geopolíticas, com relações abertas tanto com o Ocidente quanto com o Oriente. O Brasil se encaixa nesse perfil, o que coloca o país em vantagem nas próximas décadas.

Redação:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.