A inflação brasileira desacelerou com força em outubro, surpreendendo o mercado financeiro e abrindo espaço para o início de um novo ciclo de cortes na taxa básica de juros (Selic) em 2025. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu apenas 0,09%, o menor avanço para o mês desde 1998.
A variação ficou abaixo das estimativas de analistas consultados pela Bloomberg, que esperavam alta de 0,15%. Em 12 meses, o índice acumulou 4,68%, o menor nível desde janeiro, aproximando-se do teto da meta oficial de 4,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
O resultado reforça as expectativas de que o Banco Central poderá começar a reduzir a Selic, atualmente em 15% ao ano, já no início de 2025.
Supermercado mais barato e dólar em queda
O principal alívio veio do grupo de alimentos e bebidas, com queda de 0,16% nos produtos consumidos em casa — o quinto recuo consecutivo. Arroz, feijão, carnes e frutas foram os itens que mais contribuíram para o resultado.
A valorização do real frente ao dólar, que atingiu o menor patamar em 17 meses, também ajudou a conter o preço de bens importados e de duráveis, como eletrodomésticos e móveis.
Outro fator de impacto foi a energia elétrica residencial, que caiu 2,39% no mês, devido à mudança da bandeira tarifária vermelha 2 para a vermelha 1 — com custo adicional menor na conta de luz.
Revisões de projeções e novas expectativas
Após a divulgação do IPCA, economistas revisaram para baixo as projeções de inflação de 2025. O Banco Inter reduziu sua estimativa de 4,6% para 4,4%, considerando o alívio no preço da gasolina e possíveis promoções de Black Friday em novembro.
Segundo o economista sênior da instituição, André Valério, o IPCA de novembro deve ficar entre 0,18% e 0,19%, com leve alta esperada em dezembro por conta das festas de fim de ano, quando os serviços e alimentos tendem a subir entre 0,30% e 0,40%.
O movimento reforça o cenário de desinflação consistente, avalia Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay. “O resultado de outubro confirma um processo mais sólido de desaceleração, com surpresas baixistas concentradas em bens e administrados”, disse.
Banco Central e o debate sobre cortes na Selic
Com a inflação controlada, o mercado passou a antecipar a possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciar os cortes de juros já em janeiro.
“O IPCA de outubro aumentou a confiança de que o Banco Central possa começar o ciclo de afrouxamento monetário no início do próximo ano”, afirmou Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo Investimentos.
No entanto, parte dos analistas ainda adota cautela. Para Igor Barenboim, economista-chefe da Reach Capital, o dado positivo não garante mudança imediata. “O número ajuda, mas não é definitivo. Estar dentro da meta aumenta o conforto do BC, mas a decisão vai depender do cenário global. Se o ambiente continuar favorável, há chance de corte em janeiro, mas março ainda é o mais provável”, avaliou.
Efeito político e fôlego para Galípolo
A desaceleração do IPCA também tem reflexos políticos. Caso o índice feche o ano abaixo de 4,5%, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, evitará a necessidade de enviar uma nova carta explicativa ao Ministério da Fazenda — procedimento obrigatório quando a meta é descumprida.
Galípolo já precisou enviar duas cartas em 2025, após o índice superar o limite por mais de seis meses. Agora, o resultado de outubro reforça a narrativa de que a política monetária começa a surtir efeito.
“O controle da inflação mostra que as medidas adotadas estão no caminho certo”, avaliou um técnico do BC ouvido pelo jornal O Globo.
Perspectivas para o fim do ano
Com a melhora nos preços e o câmbio mais estável, economistas esperam que o IPCA encerre 2025 dentro da meta, reforçando o cenário de estabilidade econômica.
Se confirmadas as previsões, o Brasil pode registrar em 2025 o menor índice anual de inflação em sete anos, o que tende a impulsionar o poder de compra das famílias e melhorar o ambiente para investimentos no início de 2026.


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