Petro rompe cooperação de inteligência com EUA após bombardeios no Caribe e acusa Trump de violar soberania latino-americana

Sebastian Barros / NurPhoto via Getty Images

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou nesta terça-feira (11) a suspensão imediata da cooperação de inteligência com as agências de segurança dos Estados Unidos, em reação aos recentes ataques militares norte-americanos contra embarcações civis e pesqueiras no mar do Caribe e no Pacífico Oriental.

A medida, divulgada pela emissora teleSUR, foi formalizada por meio de uma ordem direta publicada na conta oficial de Petro na plataforma X (antigo Twitter). Segundo o presidente, “se dá ordem a todos os níveis da inteligência da força pública suspender envio de comunicações e outros tratos com agências de segurança dos Estados Unidos”.

De acordo com o comunicado, a suspensão permanecerá em vigor enquanto persistirem os bombardeios ordenados pelo governo de Donald Trump.


“A luta contra as drogas deve respeitar os direitos humanos”

Ao justificar a decisão, Petro declarou que a medida tem como objetivo proteger a soberania colombiana e os direitos das populações caribenhas.

“A luta contra as drogas deve subordinar-se aos direitos humanos do povo caribenho”, afirmou o presidente.

Ele classificou os ataques norte-americanos como “violações à soberania e ao direito internacional”, reforçando que a Colômbia não aceitará participar de operações que resultem em mortes civis.

Segundo dados oficiais citados pela ONU, ao menos 75 pessoas morreram e 20 embarcações foram destruídas em bombardeios realizados por forças navais dos Estados Unidos em áreas próximas à Venezuela e à costa pacífica colombiana.

Especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) descreveram as ações como “execuções sumárias” e “graves violações do direito humanitário internacional”.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, condenou publicamente os ataques, classificando-os como “inaceitáveis e desproporcionais”.


Reino Unido também rompe colaboração com Washington

A decisão colombiana segue movimento semelhante do Reino Unido, que interrompeu o intercâmbio de informações de inteligência com os Estados Unidos sobre as operações navais na região.

Segundo a CNN, autoridades britânicas suspenderam a cooperação para evitar envolvimento em ações consideradas ilegais, encerrando uma parceria de décadas com a Guarda Costeira dos EUA no rastreamento de embarcações suspeitas de tráfico de drogas.

A decisão britânica aumentou o isolamento diplomático de Washington na América Latina e no Caribe, ampliando as críticas à política antidrogas americana.


Críticas à política antidrogas dos EUA

Desde o início de seu mandato, Petro tem reiterado oposição ao modelo de combate às drogas liderado pelos EUA, que considera ineficaz, militarizado e violador da soberania regional.

“A Colômbia não será mais a base de uma guerra contra o povo latino-americano travada em nome do combate às drogas”, declarou o presidente em um discurso recente.

Petro vem defendendo uma nova abordagem, centrada na substituição de cultivos ilícitos, desenvolvimento rural sustentável e respeito às normas internacionais de direitos humanos.

Segundo analistas políticos colombianos, a suspensão da cooperação de inteligência representa uma das medidas mais duras adotadas por Bogotá contra Washington nas últimas décadas, refletindo a crescente tensão entre os dois países.


Escalada militar e reações regionais

A crise se intensificou após o Pentágono deslocar oito navios de guerra para o Caribe, incluindo seis destróieres, três embarcações anfíbias e um submarino, no que especialistas apontam como a maior operação naval americana na região desde a Guerra do Golfo (1990-1991).

Em 24 de outubro, o porta-aviões Gerald Ford e seu grupo de ataque foram enviados pelo Comando Sul dos EUA para reforçar a presença militar no Atlântico e no Pacífico.

Governos de Venezuela, Cuba e Colômbia condenaram a ação, alegando que os EUA utilizam o combate ao narcotráfico como pretexto para operações de intimidação política contra países que mantêm posições soberanas ou divergentes dos interesses de Washington.


“América Latina e Caribe como Zona de Paz”

Em comunicado conjunto, os governos de Caracas, Bogotá e Havana defenderam a preservação da América Latina e do Caribe como “Zona de Paz”, princípio proclamado durante a II Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), realizada em Havana em 2014.

“Nenhum país deve ser alvo de ações militares estrangeiras sob falsos pretextos. A região deve permanecer livre de intervenções”, diz o texto.

O governo colombiano anunciou ainda que buscará apoio diplomático junto à ONU e à Celac para formalizar uma denúncia internacional contra os ataques dos EUA e propor um acordo multilateral de não intervenção no Caribe.


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