O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou processar a emissora britânica BBC por difamação, alegando que um documentário do canal público manipulou um de seus discursos sobre os eventos de 6 de janeiro de 2021, dia da invasão ao Capitólio.
A equipe jurídica do republicano deu prazo até 14 de novembro para que a emissora publique uma “retratação completa e justa”, sob pena de enfrentar um processo de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,6 bilhões).
A informação foi confirmada pela BBC News Brasil, que apontou que a crise teve origem em um memorando interno vazado, revelando problemas editoriais no programa Panorama, exibido originalmente em outubro de 2024.
Edição controversa de discurso e renúncias na emissora
De acordo com o documento interno, o programa teria unido dois trechos distintos de uma fala de Trump feita em 6 de janeiro de 2021, o que, segundo a defesa do presidente, transmitiu a falsa impressão de que ele incitava seus apoiadores à violência.
A controvérsia provocou uma crise na direção da BBC, resultando nas renúncias da diretora de notícias, Deborah Turness, e do diretor-geral, Tim Davie.
Turness negou qualquer intenção política, afirmando que “erros acontecem, mas os jornalistas da BBC são pessoas trabalhadoras que se esforçam pela imparcialidade”.
Davie também se manifestou: “A BBC cumpre sua missão, mas alguns erros foram cometidos — e, como diretor-geral, tenho de assumir a responsabilidade final”.
BBC admite erro e reconhece falha editorial
O presidente da emissora, Samir Shah, reconheceu oficialmente que houve “erro de julgamento” na edição do documentário.
Segundo ele, a edição do discurso “transmitiu a impressão equivocada de um chamado à ação”.
Shah se desculpou publicamente e informou que o episódio já havia sido analisado em janeiro e maio de 2025 pelo Comitê de Diretrizes e Padrões Editoriais da BBC.
“O objetivo da edição era ajudar o público a compreender o contexto do momento, mas, com o benefício da retrospectiva, teria sido melhor tomar uma medida mais formal”, declarou.
Ameaça de ação bilionária
Em carta enviada à BBC, o presidente americano acusou a emissora de publicar “declarações falsas, difamatórias e enganosas” sobre sua atuação.
O advogado de Trump, Alejandro Brito, notificou a emissora com base nas leis da Flórida, exigindo compensação financeira e retratação pública.
Trump afirma que o caso causou “danos irreparáveis à sua reputação internacional” e reforçou que sua equipe “não hesitará em usar todos os meios legais disponíveis” para responsabilizar a emissora.
Crise interna e acusações de parcialidade
O caso se agravou após o vazamento de um memorando de Michael Prescott, ex-assessor do comitê de padrões editoriais da BBC, que denunciava um suposto “viés anti-Trump e anti-Israel” dentro da emissora.
O documento também criticava a cobertura da guerra entre Israel e Gaza e temas relacionados à identidade de gênero, citando ainda o serviço BBC Arabic, acusado de “problemas sistêmicos de imparcialidade”.
Em resposta, Samir Shah afirmou que todas as denúncias estão sendo tratadas com “ações disciplinares e revisões editoriais”, mas rejeitou a existência de qualquer viés institucional dentro da empresa.
Reações políticas no Reino Unido
A polêmica repercutiu entre líderes britânicos.
O primeiro-ministro Keir Starmer afirmou não acreditar que a BBC seja “institucionalmente tendenciosa”, negando também as acusações de corrupção feitas por Trump.
Já a líder conservadora Kemi Badenoch declarou que “existem questões sérias a serem respondidas há muito tempo dentro da BBC”.
O líder dos Liberal Democrats, Ed Davey, criticou Trump e afirmou que o presidente americano “quer destruir a BBC e tomar nosso dinheiro”.
O político britânico Nigel Farage, aliado de Trump, revelou ter conversado com o republicano e relatou a pergunta feita por ele: “É assim que vocês tratam seu melhor aliado?”.
Histórico de embates entre Trump e a imprensa
O caso marca mais um capítulo no histórico de confrontos de Donald Trump com veículos de comunicação.
O presidente dos EUA já processou emissoras e jornais por edições consideradas enganosas e declarações difamatórias.
Em julho de 2025, a CBS News e sua controladora, a Paramount, concordaram em pagar US$ 16 milhões (cerca de R$ 90 milhões) após uma disputa judicial movida por Trump, que acusou a emissora de editar indevidamente uma entrevista com a então vice-presidente Kamala Harris.
Outros veículos, como The New York Times, CNN e Des Moines Register, também enfrentaram ações judiciais movidas pelo republicano ao longo dos últimos anos.
Próximos passos e possíveis impactos
A BBC tem até 14 de novembro para responder formalmente à notificação.
Caso não haja retratação, o processo deve ser movido na Justiça da Flórida, onde Trump alega ter sofrido danos diretos à imagem e à reputação.
O caso reacende o debate sobre liberdade de imprensa e responsabilidade editorial em veículos públicos, além de testar os limites da legislação internacional sobre difamação e discurso político.


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