ONU reclama de segurança e más condições na COP30

Belém, escolhida como símbolo da Amazônia, agora enfrenta o desafio de provar que pode sediar com dignidade o maior encontro sobre o futuro do planeta / Bloomberg

Carta obtida pela imprensa revela preocupação da ONU com falhas graves de segurança e infraestrutura durante a COP30, expondo fragilidade da organização brasileira


A Organização das Nações Unidas (ONU) fez um duro alerta ao governo brasileiro sobre as falhas de segurança e as precárias condições estruturais da Conferência do Clima (COP30), realizada em Belém, no Pará. Em uma carta enviada em 12 de novembro, o secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, Simon Stiell, exigiu que o Brasil apresente imediatamente um plano de ação para corrigir problemas que colocam em risco tanto os participantes quanto a reputação do evento.

O documento, obtido pela Bloomberg News, relata uma série de deficiências que vão desde incidentes de segurança até questões relacionadas ao calor excessivo, falhas no sistema de ar condicionado e infiltrações causadas pelas chuvas. Stiell afirmou que as condições observadas são incompatíveis com o padrão esperado para uma conferência internacional dessa magnitude e cobrou do país-sede medidas imediatas.

A crítica mais contundente foi direcionada à atuação das forças de segurança durante a invasão do local da conferência, ocorrida na noite de terça-feira. Segundo o representante da ONU, cerca de 150 manifestantes conseguiram entrar na área restrita, danificando instalações e ferindo seguranças. O mais preocupante, segundo Stiell, foi a falta de reação das autoridades: “As forças de segurança e a estrutura de comando necessárias para executar o plano de segurança estavam todas presentes no local durante o incidente, mas não agiram”, escreveu.

Na correspondência, o chefe da ONU para o clima afirmou ainda que recebeu informações de que o gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria orientado a Polícia Federal a não intervir para dispersar os manifestantes — algo que, se confirmado, representaria uma violação direta dos protocolos firmados com a organização internacional. Ele descreveu vulnerabilidades sérias, como portas desprotegidas, efetivo insuficiente e falta de garantias de que as autoridades federais e estaduais agiriam em casos de emergência.

“Isso representa uma grave violação da estrutura de segurança estabelecida”, afirmou Stiell, acrescentando que o episódio levanta “preocupações significativas” sobre o cumprimento das obrigações do Brasil como país anfitrião e presidente da COP30.

A carta foi endereçada a Rui Costa, ministro-chefe da Casa Civil, e a André Corrêa do Lago, diplomata brasileiro que preside as negociações da conferência. Até o momento, nem o governo federal nem representantes da ONU comentaram publicamente o caso.

A situação é especialmente delicada para o presidente Lula, que tem insistido na importância de sediar a COP30 na Amazônia, argumentando que o evento em Belém serviria para expor ao mundo as consequências concretas das mudanças climáticas. O petista rejeitou propostas de transferir a conferência para cidades maiores, como São Paulo ou Rio de Janeiro, que possuem melhor infraestrutura hoteleira e logística.

Mas a realidade no local tem se mostrado desafiadora. Delegações estrangeiras e representantes da sociedade civil relataram temperaturas sufocantes, longas filas para alimentação, falhas no abastecimento de água nos banheiros e pavilhões inacabados. Além disso, o sistema de pagamento interno, baseado em um cartão pré-pago, tem gerado insatisfação por exigir recarga e permitir reembolso apenas mediante apresentação de documento de identidade.

Stiell também apontou falhas graves na infraestrutura física dos espaços, destacando o calor extremo e o funcionamento precário do ar condicionado, o que já teria causado problemas de saúde entre participantes e funcionários. As chuvas típicas da região amazônica agravaram o cenário: houve relatos de infiltrações no teto e nas luminárias, o que, segundo ele, representa um risco elétrico e ameaça à integridade das pessoas presentes.

Os problemas estruturais somam-se às críticas anteriores sobre a falta de acomodações acessíveis na cidade. Delegações de países pequenos e em desenvolvimento têm enfrentado dificuldades para enviar representantes, o que pode prejudicar o equilíbrio das negociações climáticas.

Durante a última semana, a ausência de diversos líderes internacionais também chamou atenção. Fontes próximas à organização afirmam que os desafios logísticos e a infraestrutura limitada pesaram na decisão de algumas autoridades de não comparecer à cúpula.

De acordo com Stiell, o desconforto entre os países membros é crescente. Delegações que investiram quantias elevadas na construção de pavilhões e no aluguel de escritórios manifestaram “séria preocupação com as más condições das instalações”. Algumas estruturas, segundo o secretário, “não estão dentro dos padrões acordados”, e outras “simplesmente não são adequadas para uso”.

A pressão internacional agora recai sobre o governo brasileiro, que tem o desafio de restaurar a confiança da ONU e garantir que a COP30 — um evento que deveria simbolizar o protagonismo do país na agenda climática global — não se transforme em um constrangimento diplomático.

Belém, que foi escolhida como símbolo da Amazônia e da luta ambiental, enfrenta o teste de provar que é capaz de sediar com segurança e dignidade um dos encontros mais importantes do planeta sobre o futuro do clima.

Com informações de Bloomberg*

Rhyan de Meira: Rhyan de Meira é jornalista, escreve sobre política, economia, é apaixonado por samba e faz a cobertura do carnaval carioca. Instagram: @rhyandemeira
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