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São os independentes, estúpido!

O estrago foi razoável. A matança no Complexo Alemão realmente deu uma chacoalhada no cenário político nacional, mas, segundo a pesquisa Genial/Quest, as perspectivas eleitorais de Lula se mantêm firmes para 2026. Ele segue com vantagens expressivas no primeiro turno, embora tenha perdido alguma gordura nos cenários de segundo turno. Uma variação que chamou a […]

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08.11.2025 - Encontro com Voluntárias e Voluntários da COP30 08.11.2025 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, posa para fotografia com Voluntárias e Voluntários da COP30, no Parque da Cidade. Belém - PA. Foto: Ricardo Stuckert / PR

O estrago foi razoável.

A matança no Complexo Alemão realmente deu uma chacoalhada no cenário político nacional, mas, segundo a pesquisa Genial/Quest, as perspectivas eleitorais de Lula se mantêm firmes para 2026. Ele segue com vantagens expressivas no primeiro turno, embora tenha perdido alguma gordura nos cenários de segundo turno.

Uma variação que chamou a atenção foi a perda de cinco pontos na espontânea. Lula, que vinha crescendo e alcançou 19% em outubro, agora caiu para 14%.

Gráfico de intenção de voto espontânea para o primeiro turno

A sorte do presidente é o vazio de adversários. Além dele, o único que aparece na espontânea é Bolsonaro, mas estagnado em 6%. Nenhum outro candidato pontua acima de 1%.

Para comparar, em novembro de 2017, um ano antes da eleição, Bolsonaro já mostrava força com 11% na espontânea do Datafolha. Hoje, não há um “novo Bolsonaro” surgindo no horizonte, o que torna a conjuntura atual mais desafiadora para a direita.

Em 2017 havia ainda alguns fatores que pesavam a favor de Bolsonaro e contra Lula: um deles era o fato do Lula estar preso, com acusações graves ainda não desmontadas, a Dilma Rousseff ter encerrado seu mandato com muita rejeição, e a direita manter o controle da máquina federal, com Michel Temer na presidência.

O cenário hoje é bem diferente. Lula controla a máquina. Será ele o candidato, e não alguém “apoiado por ele”. As acusações judiciais contra o presidente foram todas anuladas pela justiça. A economia vive um bom momento. O PT está bem mais forte hoje, com mais capital político, menos rejeição, mais recursos partidários e eleitorais, do que às vésperas das eleições de 2018.

Quando olhamos para o primeiro turno, a Quest apresenta dez cenários, mas eu considero que apenas dois são mais interessantes para nossa análise, o 1 e o 10.

O cenário 1, que inclui Bolsonaro, mostra Lula com 32% contra 27% do ex-presidente, uma diferença de cinco pontos.

Segundo o TSE, o Brasil tem hoje 155 milhões de eleitores. Eu incluí uma estimativa sobre a quantidade de eleitores que esses percentuais significam, com objetivo de sempre lembrar ao internauta que estamos falando de pessoas reais.

Lula tem 50 milhões de eleitores no primeiro turno, contra 42 milhões que preferem Bolsonaro. Os outros totalizam 35,9 milhões, e se dispersam à esquerda e à direita no segundo turno.

Gráfico do cenário 1 para o primeiro turno

Já o cenário 10, que inclui Tarcísio, Ronaldo Caiado e Renan Santos, traz Lula com 39%, abrindo 18 pontos de vantagem sobre o governador de São Paulo.

Gráfico do cenário 10 para o primeiro turno

Nos cenários de segundo turno, a vantagem de Lula diminuiu. Contra Bolsonaro, a diferença que era de 13 pontos em setembro caiu para apenas três em novembro: 42% a 39%.

Gráfico histórico do segundo turno entre Lula e Bolsonaro

Contra Tarcísio, a queda também foi expressiva. A vantagem de 12 pontos que Lula possuía agora é de apenas cinco.

Gráfico histórico do segundo turno entre Lula e Tarcísio

O ponto mais interessante da pesquisa é a análise do voto dos independentes. A Quest divide o eleitorado em três blocos de tamanho semelhante: esquerda (33%, ou 51,5 milhões de eleitores), direita (35%, ou 54,6 milhões) e centro/independentes (31%, ou 48 milhões).

Esses blocos, por sua vez, são divididos em subgrupos: a esquerda se divide entre lulistas (18%, ou 27,9 milhões de eleitores) e não-lulistas (15%, ou 23,25 milhões), enquanto a direita se fragmenta em bolsonaristas (13%, ou 20,15 milhões) e não-bolsonaristas (22%, ou 34,1 milhões).

Gráfico do posicionamento político em milhões de eleitores

Como a esquerda tem uma base ligeiramente menor que a direita, ela precisa mais do centro para vencer. A batalha de 2026 será travada nesse segmento.

Entre os independentes, Lula demonstra mais potencial de voto e sofre menos rejeição que Bolsonaro. O petista tem 33% de “conhece e votaria” junto a este segmento, contra apenas 21% para o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Na rejeição entre os independentes, a de Lula é de 64%, enquanto a de Bolsonaro alcança 73%. A de Eduardo Bolsonaro é ainda maior, 80%, o que explica seu isolamento e os ataques que vem sofrendo de outras lideranças da direita.

Gráfico sobre o voto dos independentes

A pesquisa também questiona qual seria o melhor resultado para a eleição, e Lula lidera em todas as regiões do país. No Nordeste, 37% preferem sua vitória, contra 8% que optam por Bolsonaro. No Sudeste, 20% preferem a reeleição de Lula, contra 17% que torcem para que Bolsonaro recupere seus direitos políticos e volte à presidência.

Gráfico da preferência do candidato por região

O nome Bolsonaro desenvolveu uma rejeição radioativa que contamina qualquer candidato apoiado por ele.

Embora seu apoio seja indispensável para um candidato da direita ganhar corpo no primeiro turno, essa dependência carrega um peso negativo para o segundo turno.

Os números gerais são bons para Lula, apesar do desgaste das últimas semanas, causado pela entrada brutal da segurança pública na agenda política nacional.

Lula está forte entre independentes, enquanto a direita lida com o desgaste dos Bolsonaro e a falta de um nome com carisma nacional.

Uma análise da pesquisa sempre deve ser feita à luz dos indicadores econômicos e sociais, que mostram um momento favorável no país. Com dólar em queda esta semana, e a forte melhora do poder aquisitivo trazida pela inflação baixa de alimentos e energia, a tendência é que a popularidade do governo termine o ano em recuperação.

A onda de violência explorada pela oposição já começa a perder força. O governo sentiu o golpe, mas o campo progressista precisava desse susto para sair da inércia.

Clique aqui para a baixar a íntegra do relatório da Genial Quaest de novembro 2025.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Julio

13/11/2025 - 14h23

Boa análise, mas acho que a pesquisa de aprovação do governo é mais sólida.

Não dá pra ter uma matança todo mês até a eleição. Fora que o Cláudio Castro está respondendo processo e pode ser afastado. Fica aquela do “bandido matando bandido”

No calor do momento, tá todo mundo adorando. Mas o tema vai esfriar e pra não voltar com força, o governo através do ministério da justiça precisa intensificar as ações da PF no combatendo ao crime organizado.

O derretimento do derrite pode ser um ponto de partida


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