Medida busca aliviar o custo de vida e responder à pressão popular após resultados eleitorais negativos
A Casa Branca sinalizou que está prestes a anunciar uma redução nas tarifas de importação de produtos alimentícios, em uma tentativa de conter os altos preços que continuam pesando sobre as famílias americanas. A medida vem em meio à crescente pressão sobre o governo para enfrentar a crise do custo de vida que começou durante a gestão de Joe Biden, mas que ainda afeta milhões de cidadãos sob a presidência de Donald Trump.
Durante um evento no Economic Club of Washington, o presidente do Conselho Econômico Nacional, Kevin Hassett, afirmou que o governo está considerando ajustes nas tarifas sobre alimentos essenciais. “Um dos assuntos que as pessoas têm comentado nos últimos dias é a possibilidade de alterar as tarifas alfandegárias para produtos alimentícios”, declarou Hassett. “Acho que haverá mais mudanças.”
O economista, que desponta como favorito para suceder Jay Powell no comando do Federal Reserve no próximo ano, ressaltou que o governo está atento às oscilações do mercado. “Você faz o que acha certo, depois espera que as coisas aconteçam e, quando percebe que precisa ajustar algo, você ajusta”, afirmou.
Mais cedo, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, antecipou em entrevista à Fox Business que a administração Trump deve fazer “anúncios substanciais” nos próximos dias. Segundo ele, as medidas devem atingir diretamente produtos como café, bananas e outras frutas importadas, buscando aliviar os preços nas prateleiras dos supermercados.
As declarações surgem em um momento delicado para a Casa Branca. Na semana passada, os resultados das eleições municipais em Nova York e das disputas para governador em vários estados foram desfavoráveis aos candidatos apoiados por Trump. Analistas apontam que a insatisfação com o aumento dos preços dos alimentos e os efeitos das tarifas comerciais tiveram peso decisivo nas derrotas.
Em resposta às críticas, Trump afirmou em uma publicação no Truth Social que pretende conceder um dividendo de US$ 2.000 às famílias de baixa e média renda, proveniente da arrecadação das tarifas. A promessa, no entanto, tem sido recebida com ceticismo por economistas, que apontam que o impacto da guerra comercial sobre os preços foi mais significativo do que o esperado, mesmo que de forma gradual.
Atualmente, a inflação nos Estados Unidos gira em torno de 3%, um patamar considerado controlado, mas a alta dos alimentos ainda preocupa. Hassett reconheceu que esse é um dos pontos mais sensíveis para a população. “O gasto mensal típico com compras de supermercado quando o presidente Trump deixou o cargo [em 2021] era de cerca de US$ 400 por mês. Quando o presidente Biden deixou o cargo, esse valor havia subido para cerca de US$ 510”, destacou.
Ele acrescentou: “De lá para cá, subiu para US$ 512. Assim, a taxa de aumento dos preços dos alimentos caiu para quase zero. Mas o terreno que temos que recuperar ainda é um desafio para nós, que levamos muito a sério.”
Em agosto, Trump impôs tarifas amplas sobre a maioria dos parceiros comerciais dos EUA, elevando o custo de importação de diversos produtos e levando a tarifa média americana ao nível mais alto desde antes da Segunda Guerra Mundial. Embora o país tenha concedido isenções específicas para setores estratégicos — como o de semicondutores, produtos farmacêuticos e minerais críticos —, o governo também abriu investigações que podem resultar em novas tarifas sobre essas áreas no futuro.
Para tentar conter os danos econômicos e diplomáticos, vários países buscaram acordos bilaterais limitados com Washington, obtendo reduções pontuais em determinadas tarifas. Ainda assim, a administração americana manteve uma taxa mínima de referência de 10% sobre praticamente todos os parceiros comerciais.
O anúncio de possíveis cortes nas tarifas representa, portanto, uma tentativa de reequilibrar a política econômica e de responder às preocupações da população. Em um cenário de incerteza e pressão política, a Casa Branca tenta sinalizar que está disposta a agir rapidamente para aliviar o peso do supermercado no bolso dos americanos.
Com informações de Financial Times*