Crise política dos EUA deixou um rastro curioso: até a tecnologia parou

Enquanto o OnePlus 15 chega ao resto do planeta, os Estados Unidos descobrem que o futuro não espera por quem ainda discute o passado / Bloomberg

O adiamento do OnePlus 15 nos EUA tornou-se metáfora de um país que já não consegue ligar o próprio sistema, mesmo diante da corrida global pela inovação


O anúncio do OnePlus 15, um smartphone que promete bateria de dois dias e desempenho de elite para gamers, deveria ser uma celebração da inovação tecnológica global. Em vez disso, tornou-se um símbolo eloquente de uma disfunção muito mais profunda: a paralisia política crónica dos Estados Unidos e a sua incapacidade de manter a engrenagem governamental a funcionar, mesmo para as tarefas mais básicas. O adiamento do lançamento do aparelho no mercado americano, um epicentro do consumo tecnológico, não é um mero contratempo de negócios. É um microcosmo do declínio de uma superpotência que, de tanto olhar para o seu próprio umbigo, vê o mundo passar à sua frente.

A justificação é burocrática, quase banal: a paralisação do governo federal atrasou a certificação do dispositivo pela Comissão Federal de Comunicações (FCC). Porém, a mensagem subjacente é poderosa.

Enquanto consumidores no Canadá, na China e noutras partes do globo já podem adquirir o último grito em tecnologia móvel, os cidadãos americanos são reféns de um sistema político disfuncional, onde brigas partidárias e jogos de poder paralisam serviços essenciais.

Este não é um incidente isolado; é o sintoma de uma democracia doente, onde o bem-estar económico e o acesso à inovação são sacrificados no altar de uma guerra política perpétua.

O caso do OnePlus 15 expõe uma ironia cruel. Os Estados Unidos, que se autoproclamam o farol do capitalismo e da livre iniciativa, estão a criar barreiras artificiais que impedem a sua própria população de aceder a produtos da economia global. Enquanto a retórica em Washington é frequentemente de “America First”, a realidade para os seus consumidores é a de “America Last” neste cenário específico.

A empresa por trás do telefone, a OnePlus, é chinesa. E este adiamento, ainda que involuntário, atua como um contraponto involuntário à narrativa de contenção tecnológica que os EUA tentam impor ao mundo. Enquanto tentam travar o avanço de empresas como a Huawei com argumentos de segurança nacional, a sua própria máquina estatal mostra-se demasiado lenta e quebradiça para processar a inovação que chega de outros cantos, num mercado que se pretende aberto.

O aparelho em si é um testemunho de onde reside a verdadeira vanguarda. Com o primeiro chip Snapdragon 8 Elite Gen 5, uma bateria revolucionária e um sistema de arrefecimento para jogos pesados, o OnePlus 15 é um produto de um ecossistema globalizado e competitivo.

A sua chegada tardia aos EUA serve como uma metáfora perfeita: a inovação não espera por ninguém, muito menos por uma nação que se permite ficar paralisada. O centro de gravidade tecnológico está a deslocar-se de forma irrevogável, e a incapacidade de Washington em garantir as funções mais básicas de governação acelera este processo.

A funcionalidade do infravermelho, que permite ao telefone funcionar como um controlo remoto universal, é um detalhe poeticamente significativo. Num momento em que o governo dos EUA parece ter perdido o controlo do seu próprio destino, os cidadãos americanos são presenteados com um dispositivo que, ironicamente, lhes dá controlo sobre tudo o que está à sua volta – exceto, é claro, sobre a máquina política que governa as suas vidas.

O adiamento do OnePlus 15 é, à sua maneira, um alerta. Não é sobre um telefone. É sobre a erosão da competência e da confiabilidade de uma nação. É sobre como a disfunção política interna de um país pode ter repercussões tangíveis no dia a dia dos seus cidadãos, desde os mais triviais, como comprar um novo gadget, até aos mais graves, como o funcionamento de serviços públicos essenciais.

O mundo continua a girar, a inovação continua a avançar. A questão que se coloca é se os Estados Unidos, demasiado ocupados com as suas crises internas, conseguirão manter-se ligados a ele ou se serão, cada vez mais, deixados para trás, à espera de uma certificação que nunca chega.

Com informações de Bloomberg*

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