Exclusivo! Exportações brasileiras de café para a China crescem mais de 600% em outubro!

Imagem criada por IA.

Ao analisar os efeitos do tarifaço de Donald Trump contra produtos brasileiros, é difícil entender como um presidente poderia ser tão estúpido. O caso do café é particularmente grotesco.

Os Estados Unidos, maiores consumidores de café do mundo, não produzem o grão em escala comercial. Sua produção insignificante no Havaí mal seria suficiente para uma cafeteria em Los Angeles.

Em um momento de preços internacionais historicamente elevados, aplicar uma tarifa de importação foi uma medida desastrosa. O resultado óbvio se concretizou: os preços do café explodiram nas gôndolas dos supermercados em todo o país.

A ironia da medida se aprofunda quando se considera seu pretenso objetivo: punir o Brasil. O tarifaço encontrou o setor cafeeiro brasileiro em um momento de extrema força, beneficiado por uma combinação rara de safra grande e preços altos.

O setor vive um momento de prosperidade. As exportações de café verde e solúvel, no acumulado de 12 meses, atingiram US$ 15,3 bilhões, um crescimento de 35,7% sobre o período anterior e um recorde de todos os tempos em valor. Em quantidade, o volume foi ligeiramente menor que o do período anterior, mas os preços elevados garantiram a receita recorde.

Cerca de 85% a 90% desse volume é de café verde, sendo o restante de solúvel, já que as exportações de café torrado são insignificantes.

Os números são do Comexst, a agência estatística de comércio exterior do governo federal.

Alguns leitores sabem que trabalhei como jornalista especializado em café muitos anos atrás, no final da década de 90 e início dos anos 2000. Nessa época, a exportação de café gerava 2 ou 3 bilhões de dólares por ano, quando as coisas iam bem. Agora, está gerando 15 bilhões. É um salto impressionante.

Em outubro, as exportações somaram US$ 1,62 bilhão, um aumento de 16,9% em relação a outubro de 2024 e de 26,3% sobre setembro de 2025.

O tarifaço, em vez de prejudicar o Brasil, provocou um efeito bumerangue. As exportações para os Estados Unidos caíram, mas o setor se mobilizou e encontrou novos mercados. No acumulado de 12 meses, as vendas para os EUA somaram US$ 702 milhões.

O destaque é a China. Em outubro de 2025, as exportações brasileiras de café para o gigante asiático cresceram mais de 600% em relação ao mesmo mês do ano anterior, somando US$ 78 milhões, contra US$ 157 milhões dos EUA. No acumulado de 12 meses, as vendas para a China atingiram US$ 127 milhões.

Isso significa que a China, que antes comprava uma quantidade insignificante de café brasileiro, agora importa o correspondente a quase metade do volume importado pelos Estados Unidos. A ascensão da China é um divisor de águas.

Vinte anos atrás, a participação chinesa nas importações americanas era próxima de zero. Em outubro de 2025, essa proporção chegou a quase 50%.

O que se vê na China é o surgimento de redes de cafeterias nas grandes cidades, onde se desenvolve uma atmosfera cada vez mais cosmopolita. Isso faz com que o hábito do café se enraíze entre os chineses, e quando o café vira hábito, o consumo tende a ser permanente.

Com um mercado de 1,4 bilhão de pessoas, é fácil prever que a China ultrapassará os Estados Unidos como principal comprador do café brasileiro.

Enquanto isso, os Estados Unidos amargam um prejuízo bilionário. A indústria cafeeira americana, que lucra com a torrefação e revenda do grão brasileiro, foi diretamente atingida.

Além disso, o café brasileiro, por ser uma commodity, encontra outros caminhos para chegar ao consumidor americano. A triangulação por outros países torna o produto final ainda mais caro.

No fim, o cafeicultor brasileiro continua recebendo seu dinheiro. O setor, que gera milhões de empregos e sustenta pequenos e médios produtores, nunca esteve tão forte.

Obrigado, Trump, por ajudar a abrir novos mercados para o glorioso café brasileiro.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.