Anomalia do Atlântico Sul cresce acima das projeções e aprofunda exposição de satélites e astronautas à radiação

A expansão acelerada da Anomalia do Atlântico Sul (AAS), ponto de enfraquecimento do campo magnético terrestre sobre o Atlântico Sul, voltou ao centro das atenções após novos dados indicarem que a região está avançando em ritmo maior do que o previsto. Pesquisadores afirmam que esse crescimento aumenta a vulnerabilidade de satélites, equipamentos eletrônicos em órbita e astronautas que cruzam a área, reforçando a necessidade de monitoramento contínuo.

Um estudo recente publicado em Physics of the Earth and Planetary Interiors utilizou informações dos satélites Swarm, da Agência Espacial Europeia, para medir a evolução do campo magnético da Terra. Os resultados indicam que a AAS cresce de forma constante há pelo menos 11 anos, alterando o cenário global de proteção contra partículas carregadas provenientes do Sol.

Chris Finlay, especialista em geomagnetismo da Universidade Técnica da Dinamarca, afirmou que a região enfraquecida já alcança uma extensão comparável à metade da Europa continental. Para ele, as projeções anteriores consideravam um avanço gradual, mas os dados atuais mostram maior velocidade, o que torna essencial acompanhar o comportamento desse ponto crítico. Segundo Finlay, “a área fraca cresce continuamente há 11 anos”, reforçando a necessidade de atualização dos modelos de clima espacial.

A origem da anomalia está ligada ao comportamento do ferro fundido que circula a aproximadamente 2.897 quilômetros de profundidade no núcleo externo da Terra. Esses fluxos metálicos produzem o campo geomagnético, mas ainda não há consenso sobre por que a AAS apresenta intensidade tão inferior ao restante do planeta. Pesquisadores apontam para alterações nesses fluxos, mas admitem que os mecanismos exatos permanecem incertos.

A expansão da região tem impacto direto sobre satélites operando em órbitas baixas. Ao atravessarem a AAS, essas aeronaves enfrentam taxas mais elevadas de partículas energéticas, o que pode causar falhas eletrônicas, corromper dados e até comprometer sistemas de navegação e comunicação. Por esse motivo, fabricantes de satélites já consideram protocolos específicos de blindagem e desligamento temporário de equipamentos sensíveis ao cruzar o setor mais fraco do campo magnético.

A situação também afeta missões tripuladas. A Estação Espacial Internacional cruza periodicamente a região, expondo astronautas a níveis mais altos de radiação, especialmente em momentos de intensa atividade solar. Esse aumento pode elevar riscos para a saúde, como danos ao DNA e maior probabilidade de desenvolvimento de câncer ao longo do tempo. Engenheiros espaciais trabalham com margens de segurança ampliadas para minimizar a exposição dos tripulantes.

Apesar do avanço da anomalia, pesquisadores afirmam que não existem indícios de uma iminente inversão dos polos magnéticos da Terra. O fenômeno seria parte de oscilações naturais geradas pelo fluxo do ferro no núcleo terrestre. Os dados coletados pelos satélites Swarm mostram que, enquanto o campo enfraquece no Atlântico Sul, regiões no norte do Canadá e na Sibéria registram fortalecimento, evidenciando que o magnetismo global permanece em mudança constante.

A comunidade científica destaca que o monitoramento contínuo será determinante para aprimorar modelos de previsão do clima espacial e desenvolver medidas de proteção para satélites e missões tripuladas. O acompanhamento das variações da AAS também influencia padrões de navegação aérea, telecomunicações e sistemas de energia que dependem da estabilidade do campo magnético.

À medida que a anomalia continua aumentando, pesquisadores reforçam que compreender sua dinâmica é fundamental para garantir a segurança de tecnologias essenciais e a proteção de futuras operações orbitais. O avanço acelerado reforça a urgência de investimentos em observação, análise de dados magnéticos e planejamento de projetos espaciais adaptados à nova configuração do escudo natural da Terra.

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