Brasil avança para inaugurar primeiro hospital inteligente do SUS com IA e rede 5G

O primeiro hospital inteligente do Sistema Único de Saúde (SUS) deu um passo decisivo para sair do papel. O Instituto Tecnológico de Emergência (ITE), que será construído dentro do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), vai usar inteligência artificial (IA), automação e rede 5G para integrar ambulâncias, equipes e setores hospitalares em tempo real. O objetivo é transformar o fluxo de urgências e emergências e reduzir drasticamente o tempo entre o diagnóstico inicial e o início do tratamento.

As obras devem começar em 2026, com previsão de abertura entre 2028 e 2029. Totalmente integrado ao SUS, o instituto nasce com a missão de dobrar a capacidade de atendimento emergencial do HC, reorganizar processos internos e servir como laboratório para uma futura rede nacional de hospitais inteligentes.

Atendimento será guiado por IA e dados enviados antes da chegada do paciente

O modelo atual do HC depende de etapas fragmentadas de regulação, telefonemas e trocas de e-mails para liberar vagas. Esse processo provoca atrasos entre a solicitação e a admissão do paciente. A proposta do hospital inteligente é substituir esse fluxo por uma cadeia digital contínua.

Com a rede 5G, ambulâncias enviarão automaticamente sinais vitais, eletrocardiograma, imagens, informações clínicas e localização ao hospital ainda durante o trajeto. A IA fará a leitura desses dados — idade, sintomas, histórico e exames — e cruzará as informações com a disponibilidade de leitos e especialidades, indicando para onde o paciente deve ser encaminhado e quais equipes deverão ser acionadas.

A idealizadora do projeto, Ludhmila Hajjar, afirmou ao G1: “Hoje ainda existe muita subjetividade na triagem”. Segundo ela, “os sistemas inteligentes conseguem estabelecer níveis de gravidade com precisão e reduzir erros, além de antecipar decisões”.

O modelo prevê que o paciente mais grave seja priorizado com base em critérios objetivos definidos pela IA. Além disso, a equipe hospitalar já saberá, antes da chegada da ambulância, qual caso está a caminho e quais recursos devem ser mobilizados. O tempo de espera pela liberação de vagas tende a desaparecer, e parte do tratamento poderá começar ainda dentro da ambulância.

Projeto de R$ 1,7 bilhão será financiado com apoio internacional

A assinatura do acordo de cooperação técnica entre Ministério da Saúde, Hospital das Clínicas e governo do estado de São Paulo, realizada em 14 de junho, concluiu a etapa necessária para que o banco financiador avalie o investimento estimado em R$ 1,7 bilhão.

Segundo o Ministério da Saúde, a proposta já havia sido apresentada ao Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), do BRICS, com apoio da presidente da instituição, Dilma Rousseff. A iniciativa integra a agenda internacional da pasta desde o início da gestão do ministro Alexandre Padilha.

O projeto segue uma tendência já adotada globalmente. A China, por exemplo, possui cinco hospitais inteligentes de referência. Cerca de 70% das tecnologias usadas no instituto brasileiro virão de países do BRICS, e o restante será fornecido por parceiros internacionais. Hajjar afirmou que o objetivo não é importar modelos, mas “nacionalizar soluções” adaptadas ao tamanho e às demandas do SUS.

Infraestrutura sustentável e reestruturação do HC

O instituto será construído do zero, seguindo padrões de sustentabilidade, como baixa emissão de carbono, eficiência energética, reuso de água e automações que reduzem desperdícios. A proposta também inclui sistemas de monitoramento ambiental e equipamentos de alta precisão vinculados a softwares de análise em tempo real.

A previsão é que o novo prédio funcione como expansão da capacidade emergencial do HC. Com o redirecionamento de parte dos atendimentos urgentes para o ITE, o prédio central do complexo poderá ampliar cirurgias eletivas, consultas especializadas e serviços de reabilitação.

O Ministério da Saúde destaca que o hospital inteligente será o ponto de partida de uma estratégia nacional mais ampla, que prevê a instalação de 14 UTIs de alta precisão nas cinco regiões do país e a modernização de unidades de referência no Rio de Janeiro e no Distrito Federal.

Modelo poderá ser replicado em outras regiões do país

O ITE funcionará como laboratório inicial do modelo. O Ministério da Saúde planeja expandir o conceito de hospital inteligente para outros estados caso os resultados sejam positivos. A expectativa é que a integração total dos fluxos reduza tempo de internação, aumente a assertividade diagnóstica e melhore a eficiência do SUS em situações críticas.

O avanço tecnológico também deve permitir mapeamentos mais precisos de demandas regionais, monitoramento em larga escala e geração de dados que poderão orientar políticas públicas de saúde de forma mais rápida e integrada.

Um novo paradigma para urgências e emergências

A proposta marca um movimento de digitalização profunda da saúde pública brasileira. Com a integração de ambulâncias, equipes médicas, infraestrutura hospitalar e sistemas de decisão guiados por IA, o projeto pretende inaugurar um novo padrão de atendimento emergencial.

O hospital inteligente busca transformar a lógica do “atendimento por ordem de chegada” em um sistema baseado na gravidade real do caso, identificado antecipadamente e validado por dados clínicos.

Se o desempenho corresponder às expectativas, o modelo poderá representar uma das maiores modernizações tecnológicas da história do SUS.

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