Sentença de morte contra ex-premiê amplia crise em Bangladesh às vésperas das eleições parlamentares

Foto: Reuters/Andrew Gombert/Pool

A Justiça de Bangladesh condenou nesta segunda-feira (17) a ex-primeira-ministra Sheikh Hasina à pena de morte por crimes contra a humanidade. O veredito encerra um longo processo judicial que analisou sua responsabilidade na repressão às manifestações estudantis ocorridas no ano passado.

Segundo o Tribunal de Crimes Internacionais de Bangladesh, sediado em Daca, Hasina foi considerada culpada de ordenar a ação violenta que marcou os protestos da Geração Z, entre julho e agosto de 2024. As mobilizações, motivadas pela contestação ao sistema de cotas que favorecia filhos de veteranos da guerra de independência, terminaram com mais de mil mortos e milhares de feridos, de acordo com estimativas da ONU.

Os protestos de 2024, que levaram ao processo judicial, tornaram-se o episódio mais violento no país desde a guerra de independência.

Ao anunciar a decisão, o juiz Golam Mortuza Mozumder afirmou: “Todos os elementos constitutivos de um crime contra a humanidade estão reunidos. Decidimos impor uma única pena, a pena de morte.” A sentença foi lida sob forte esquema de segurança e sem a presença de Hasina, que deixou o país rumo à Índia em agosto de 2024. Ela ainda poderá recorrer ao Supremo Tribunal de Bangladesh.

Após o julgamento, o governo de Daca solicitou formalmente a extradição da ex-premiê ao governo indiano.

Hasina, por sua vez, criticou duramente a decisão. Em nota, classificou o julgamento como “enviesado e com motivação política” e alegou que o tribunal não garantiu condições de ampla defesa. Ela reconheceu que seu governo “perdeu o controle da situação” durante o levante estudantil, mas rejeitou a acusação de que teria ordenado um ataque deliberado contra civis. A ex-líder também declarou que pretende “enfrentar meus acusadores em um tribunal adequado, onde as provas possam ser avaliadas e examinadas de forma justa.”

Representada por um defensor público nomeado pelo Estado, Hasina ouviu a argumentação da defesa de que as acusações eram infundadas e que deveria ser absolvida.

A condenação ocorre às vésperas das eleições parlamentares previstas para fevereiro. O partido de Hasina, a Liga Awami, está impedido de concorrer, e há temor de que o veredito acirre tensões políticas e estimule novos protestos. Sajeeb Wazed, filho e assessor da ex-premiê, afirmou à Reuters que não recorrerão da sentença até que haja um governo democraticamente eleito com participação da Liga Awami.

Aos 78 anos, Hasina governou Bangladesh por mais de uma década, após assumir o cargo em 2009. Figura influente na política asiática, ela ganhou destaque pelo crescimento da indústria têxtil no país. Filha do líder fundador de Bangladesh, Sheikh Mujibur Rahman, ela iniciou a carreira política defendendo a democracia, mas seus últimos anos no poder foram marcados por acusações de perseguição a opositores, violações à liberdade de expressão e execuções extrajudiciais.

Depois de sua fuga para a Índia, Bangladesh passou a ser administrado por um governo interino chefiado pelo Nobel da Paz Muhammad Yunus — crítico de Hasina e condenado por corrupção durante sua gestão.

Lucas Allabi: Jornalista em formação pela PUC-SP e apaixonado pelo Sul Global. Escreve principalmente sobre política e economia. Instagram: @lu.allab
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