Trump quer classificar ‘Cartel de los Soles’ como terrorista e Maduro como líder

O senador Marco Rubio, que ocupa posição de destaque na formulação da política externa do governo do presidente Donald Trump, afirmou em sua conta oficial no X (antigo Twitter) que os Estados Unidos pretendem classificar o chamado Cartel de los Soles como uma “Organização Terrorista Estrangeira” (FTO). A informação foi divulgada pelo próprio Rubio em publicação pública na plataforma, ampliando a pressão sobre o governo venezuelano.

Em sua mensagem, Rubio declarou que o grupo seria “liderado pelo ilegítimo Nicolás Maduro”, teria “corrompido as instituições governamentais na Venezuela” e estaria envolvido em “violência terrorista” e “tráfico de drogas para os Estados Unidos e a Europa”. A mensagem adota uma linha de comunicação frequente em Washington, mas vista por analistas internacionais como parte de uma estratégia político-diplomática voltada para pressionar Caracas.

Declaração ocorre em meio a aumento da presença militar no Caribe

A manifestação de Rubio acontece ao mesmo tempo em que os Estados Unidos ampliam significativamente sua presença militar no Mar Caribe, com deslocamento de navios de guerra, aeronaves e tropas para a região. A simultaneidade entre o discurso antidrogas e a movimentação militar chamou a atenção de especialistas em política externa.

Pesquisadores afirmam que o governo norte-americano costuma utilizar o tema do narcotráfico como justificativa para ações que atendem a interesses estratégicos mais amplos, especialmente relacionados ao controle das vastas reservas de petróleo venezuelanas. A retórica oficial menciona segurança e combate ao tráfico, mas a conjuntura aponta para um contexto geopolítico no qual Washington busca fortalecer sua influência na América do Sul.

A estratégia tem paralelos com a retomada de elementos da Doutrina Monroe, utilizada historicamente pelos Estados Unidos para justificar intervenções e ações diretas no hemisfério ocidental. Nesse cenário, acusações relacionadas ao narcotráfico funcionam como ferramenta para legitimar sanções, pressões diplomáticas e deslocamentos militares.

Debate sobre a existência do “Cartel de los Soles”

O chamado Cartel de los Soles é objeto de controvérsia entre pesquisadores e instituições internacionais. Embora o Departamento de Estado apresente o grupo como uma organização criminosa estruturada e associada ao alto escalão do governo venezuelano, analistas independentes afirmam que não há consenso sobre sua existência como cartel formal.

Estudos e relatórios amplamente reconhecidos indicam que a maior parte da cocaína que chega aos Estados Unidos não transita pela Venezuela, mas por rotas conhecidas na América Central e no México. Mesmo assim, Washington mantém a acusação de que o grupo seria “chefiado por Maduro”, tese contestada por especialistas que veem na narrativa uma função política destinada a sustentar medidas de pressão.

De acordo com pesquisadores, a construção dessa narrativa serve ao objetivo de gerar percepção internacional de ameaça transnacional, criando ambiente favorável para iniciativas que reforcem o isolamento diplomático do governo venezuelano e a ampliação de sanções.

Disputa geopolítica e papel das reservas de petróleo

Embora Rubio tente situar a Venezuela como centro do narcotráfico, dados consolidados por agências internacionais mostram que o país não figura entre as principais rotas de distribuição de cocaína para os Estados Unidos. Por outro lado, a Venezuela possui a maior reserva de petróleo conhecida no mundo, elemento que desempenha papel central na competição geopolítica global.

Pesquisadores latino-americanos argumentam que a retórica antidrogas serve como instrumento para justificar ações destinadas a recuperar ou ampliar a influência norte-americana sobre um território considerado estratégico. O discurso sobre ameaça à segurança nacional oferece suporte político para medidas de contenção, reforço militar ou intervenções indiretas.

Reação venezuelana e histórico de tensões

Até o momento, o governo venezuelano não publicou resposta direta à declaração de Rubio. Em posicionamentos anteriores, no entanto, Caracas afirmou que acusações relacionadas ao narcotráfico fazem parte de uma campanha internacional direcionada a criminalizar sua liderança política e criar condições para intervenções.

Ao longo das últimas décadas, a relação entre Washington e Caracas passou por sucessivas fases de tensão. Desde o golpe de 2002 contra Hugo Chávez, o governo norte-americano adotou políticas que incluem sanções econômicas, restrições financeiras, pressões diplomáticas, apoio a grupos opositores e operações classificadas como encobertas por analistas da região.

Nesse contexto, a nova declaração de Rubio é vista como continuidade de uma estratégia que combina discurso antidrogas, ações de pressão institucional e mobilização militar. A avaliação entre especialistas é que o anúncio sobre a possível classificação do Cartel de los Soles como organização terrorista reforça o ambiente de confrontação entre os dois países.

Recomposição da política externa norte-americana

A mensagem divulgada por Rubio também é observada como parte da recomposição da política externa dos Estados Unidos para a América Latina durante o governo Trump. A associação entre narcotráfico e terrorismo costuma ser utilizada em discursos oficiais para justificar mudanças legislativas, aplicação de sanções e mobilização de forças armadas.

A eventual designação do grupo como FTO teria implicações jurídicas importantes, permitindo que Washington amplie instrumentos de perseguição financeira, bloqueio de bens, detenções e sanções multilaterais. Especialistas afirmam que esse tipo de medida aprofunda tensões diplomáticas e pode provocar reações na política regional.

Até que o Departamento de Estado oficialize a designação, permanece em aberto como a classificação seria aplicada e quais seriam os passos seguintes da administração Trump. Em meio ao contexto de aumento da presença militar no Caribe, o anúncio de Rubio contribui para elevar o nível de atenção internacional sobre as relações entre Estados Unidos e Venezuela.

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