Enquanto organizações ambientais alertam para os riscos de exploração petrolífera na região amazônica, grandes companhias globais do setor já se movimentam para entrar na Bacia da Foz do Amazonas. Segundo estimativas citadas por especialistas e por agentes do mercado, a área pode concentrar potencial de produção equivalente a 5 milhões de barris diários — volume que colocaria o Brasil como o quarto maior produtor de petróleo do mundo.
As declarações foram reforçadas por Jonas Henrique Lobo, diretor-geral no Brasil da SBM Offshore, uma das principais fabricantes e operadoras de plataformas de petróleo no mundo. Em entrevista ao jornal O Globo, o executivo afirmou que empresas estrangeiras, incluindo gigantes como a Exxon Mobil, já observam de perto os avanços da Petrobras na região e se preparam para ingressar no mercado assim que o processo de exploração estiver consolidado.
Exxon Mobil se posiciona para entrada no Brasil, diz executivo
A Exxon Mobil, que já atua intensamente na margem equatorial da Guiana, aparece entre as companhias que avaliam expansão para a costa brasileira. Segundo Lobo, a proximidade geográfica e o histórico recente de extração bem-sucedida reforçam o interesse das petrolíferas internacionais.
“A Margem Equatorial está bem perto da Guiana, onde temos quatro FPSOs em operação com a ExxonMobil, que produzem 900 mil barris por dia. Estamos indo para a quinta FPSO. No Suriname, temos uma unidade em construção com a Total Energies (com produção prevista de até 220 mil barris por dia a partir de 2028). E tem uma segunda”, disse, ao comentar o avanço dos projetos na região.
Questionado sobre a atuação direta na Foz do Amazonas, Lobo afirmou: “A gente já está mais ou menos com o pé ali. A gente vê a Margem Equatorial com bastante interesse. Estamos bem atentos ao desenvolvimento naquela área”.
Indústria acompanha Petrobras e aguarda definições técnicas
Apesar do interesse crescente, as petrolíferas internacionais ainda aguardam os primeiros movimentos decisivos da Petrobras. A estratégia, segundo o executivo, é esperar que a estatal realize todas as etapas preliminares antes de entrar no mercado — modelo habitual em regiões novas de exploração.
Lobo explicou que a Petrobras é responsável por todo o processo inicial de prospecção: “A Petrobras precisa achar óleo, desenvolver o reservatório, fazer o processo de mapeamento e declarar a comercialidade. Em seguida, precisa realizar um estudo de engenharia preliminar para determinar como vai explorar esse campo. Só após isso ela vai ao mercado fazer a licitação de FPSO”, afirmou, em referência aos navios-plataforma usados para produzir e armazenar petróleo.
O movimento indica que a entrada das multinacionais ocorrerá em fases posteriores, quando houver confirmação de viabilidade econômica, estimativa de capacidade produtiva e planejamento estruturado para a área.
Interesse econômico cresce em meio a impasse ambiental
A região da Foz do Amazonas tem sido objeto de intensos debates nos últimos anos. Ambientalistas e especialistas alertam para riscos de impactos irreversíveis sobre a fauna, os ecossistemas marinhos e a dinâmica dos rios amazônicos. O Ibama chegou a negar licenças anteriores por considerar insuficientes os estudos apresentados para garantir segurança ambiental.
Por outro lado, setores do governo e da indústria veem a margem equatorial como uma das últimas fronteiras globais de exploração com potencial significativo. As estimativas de até 5 milhões de barris diários ampliam o interesse econômico e colocam a região no centro de uma disputa estratégica entre preservação e desenvolvimento.
Empresas como Exxon Mobil, TotalEnergies e outras grandes petrolíferas já operam na Guiana e no Suriname, onde descobertas recentes transformaram o perfil energético da região. A expectativa no setor é que o Brasil possa replicar o movimento caso os estudos confirmem reservas expressivas.
Aposta internacional reforça pressão por avanço da exploração
A entrevista de Lobo evidencia que o setor privado global acompanha de perto cada etapa do processo conduzido pela Petrobras. A movimentação das petrolíferas estrangeiras também aumenta a pressão sobre órgãos ambientais e sobre o governo federal, que terá de conciliar interesses econômicos com compromissos internacionais de preservação ambiental e redução de emissões.
A Foz do Amazonas se destaca como uma área sensível, onde se sobrepõem desafios técnicos, riscos climáticos e impactos socioambientais. O debate envolve ainda comunidades costeiras e povos tradicionais, que temem efeitos a longo prazo sobre seus modos de vida.
Próximos passos
Enquanto críticas e projeções avançam, a exploração na Foz do Amazonas permanece em fase preliminar. A Petrobras trabalha na elaboração de novos estudos e prepara informações adicionais para submissão futura ao Ibama. A expectativa do setor é que a região continue no centro das discussões energéticas nos próximos anos.
Gigantes internacionais, como sugere o executivo da SBM Offshore, já monitoram o cenário e aguardam a oportunidade de ingressar no mercado brasileiro assim que decisões técnicas e regulatórias forem definidas.