O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, evitou comentar diretamente a liquidação extrajudicial do Banco Master e a prisão de Daniel Vorcaro, controlador da instituição, mas sinalizou que a decisão tomada pelo Banco Central (BC) decorre de um processo sólido e detalhado. As declarações foram feitas na manhã desta quarta-feira (19), na entrada do Ministério da Fazenda, em Brasília.
Haddad afirmou que o tema é de responsabilidade exclusiva do Banco Central e adotou cautela ao responder sobre o caso, que mobilizou o sistema financeiro desde a véspera. “Não vou comentar porque é um assunto do Banco Central, mas vocês acompanharam todo o processo. Enfim, o Banco Central é o órgão regulador do sistema financeiro, e eu tenho certeza que, pra ter chegado a esse ponto, todo esse processo deve estar muito robusto”, afirmou o ministro.
Ele acrescentou que cabe ao BC divulgar informações conforme o avanço da liquidação: “Ele [Banco Central] que tem as informações todas, eu penso que o Banco Central vai dando as informações na medida do andamento do processo de liquidação. O que cabe à Fazenda é dar suporte às consequências desse ato, se houver”.
Decisão encerra tentativa de venda ao Grupo Fictor
A liquidação extrajudicial do Banco Master foi anunciada na terça-feira (18), interrompendo abruptamente as negociações entre a instituição e o Grupo Fictor, que havia demonstrado interesse em assumir seu controle. A operação gerou ceticismo no mercado, já que o grupo comprador é praticamente desconhecido e não apresentou elementos públicos que demonstrassem capacidade financeira para absorver o banco.
A decisão foi assinada pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e incluiu também a Master SA Corretora de Câmbio, que passa a operar sob o mesmo regime de liquidação. O BC nomeou a EFB Regimes Especiais de Empresas como a entidade responsável por conduzir o processo, incluindo levantamento de ativos, apuração de passivos e administração operacional durante a fase de encerramento.
Rejeição anterior à proposta do BRB acendeu alerta no mercado
A situação do Banco Master vinha despertando preocupação no setor financeiro desde setembro, quando o BC rejeitou o pedido do Banco de Brasília (BRB) para adquirir a instituição. À época, o regulador apontou inconsistências no modelo de negócios adotado pelo Master, que emitia títulos cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) com remunerações muito acima das praticadas pelo mercado.
O movimento chamou atenção de analistas e consultorias, que passaram a acompanhar de perto a escalada de riscos em torno do banco. As elevadas taxas oferecidas pelo Master alimentavam dúvidas sobre a sustentabilidade de sua estrutura financeira e sobre potenciais impactos sistêmicos caso o banco enfrentasse deterioração abrupta.
Prisão de Vorcaro aprofundou a crise
Horas antes da decretação da liquidação, a Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master, em sua residência no Jardim Europa, em São Paulo. A operação foi autorizada pela Justiça Federal de Brasília e faz parte de uma investigação mais ampla que ainda não teve detalhes divulgados.
A prisão acelerou a deterioração da confiança no banco e inviabilizou qualquer expectativa de continuidade das tratativas com o Grupo Fictor. Para analistas, o conjunto de eventos expôs de forma definitiva a fragilidade da instituição e reforçou a percepção de que o Banco Central adotou a medida mais dura disponível para contenção de riscos.
Processo de liquidação e próximos passos
Na liquidação extrajudicial, toda a administração da instituição financeira é afastada, e um liquidante assume o controle total das operações. A EFB Regimes Especiais de Empresas será responsável por:
levantar ativos e passivos;
organizar pagamento a credores segundo a ordem legal;
vender bens;
encerrar operações e contratos;
conduzir eventuais ações judiciais remanescentes.
Durante esse processo, clientes com depósitos e investimentos cobertos pelo FGC têm direito à restituição dentro dos limites estabelecidos pelo fundo, o que reduz o impacto direto sobre pequenos poupadores.
Ministério da Fazenda acompanha consequências
Embora Haddad tenha evitado comentar o mérito da decisão, ele indicou que a pasta estará atenta aos impactos secundários da liquidação no sistema financeiro e na economia. A Fazenda poderá atuar, se necessário, na coordenação de medidas de suporte institucional ou operacional decorrentes do encerramento do banco.
A liquidação do Banco Master é considerada um dos episódios mais relevantes no setor bancário recente. A expectativa é que o Banco Central divulgue novas informações ao longo dos próximos dias, detalhando a situação patrimonial da instituição e orientando clientes e credores.