A Polícia Federal prendeu na manhã desta terça-feira (18) o empresário Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master. A detenção ocorreu em sua residência no Jardim Europa, área nobre de São Paulo, em meio ao agravamento da crise que envolve a instituição financeira. A ação foi autorizada pela Justiça Federal de Brasília e integra uma operação que cumpre outros mandados. As informações são de Lauro Jardim, do jornal O Globo.
A prisão ocorre menos de 24 horas após a controversa tentativa de venda do Banco Master ao grupo Fictor, entidade desconhecida no mercado financeiro e que imediatamente gerou desconfiança entre investidores e agentes da Faria Lima. A oferta, anunciada na segunda-feira (17), foi vista como uma manobra considerada por analistas como tentativa de ganhar tempo diante do crescente cerco regulatório sobre o banco.
Tentativa de venda provoca ceticismo no mercado
A operação com o grupo Fictor foi recebida com forte resistência por especialistas do setor financeiro. A avaliação predominante era de que a proposta transferia ao Banco Central a responsabilidade de analisar uma transação considerada improvável e envolvendo uma instituição já pressionada por problemas internos.
Analistas destacaram que a falta de informações públicas sobre o grupo Fictor e sua ausência de histórico no mercado bancário levantaram dúvidas imediatas quanto à capacidade do suposto comprador. Para participantes do mercado, a iniciativa sugeria mais uma tentativa de blindagem temporária do que um movimento real de reestruturação.
Nos bastidores, Vorcaro vinha afirmando a interlocutores que a situação do Master junto ao Banco Central melhoraria após 31 de dezembro, quando se encerra o mandato do diretor Renato Gomes. Segundo o empresário, o dirigente seria o principal crítico da instituição dentro da autarquia, e seu afastamento abriria margem para avanços regulatórios. Esse discurso, no entanto, circulava sem confirmação oficial e foi interpretado por agentes econômicos como uma leitura excessivamente otimista.
Ação da PF altera expectativas e intensifica pressão
A deflagração da operação pela Polícia Federal interrompeu qualquer expectativa de mudança gradual no cenário. A prisão de Vorcaro sinaliza um novo patamar na crise envolvendo o Banco Master, ampliando as incertezas sobre o futuro da instituição e sobre eventuais responsabilidades de seus executivos.
As autoridades ainda não detalharam o teor completo das investigações, mas a operação ocorre em um contexto de crescente preocupação com a saúde financeira do banco e seus desdobramentos no sistema regulatório. A percepção majoritária no mercado é de que, com a prisão do controlador, eventuais iniciativas de venda, recuperação ou reestruturação perdem sustentação.
Banco Central decreta liquidação extrajudicial do Master
Ainda nesta terça-feira (18), poucas horas após a prisão, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master. A medida encerra imediatamente qualquer tratativa com o grupo Fictor e paralisa todas as operações da instituição.
A liquidação extrajudicial é utilizada pelo Banco Central em casos considerados de risco severo para o sistema financeiro, quando há evidências de comprometimento da capacidade operacional, governança fragilizada ou descumprimentos regulatórios graves. O processo envolve o afastamento dos administradores, a nomeação de um liquidante e o congelamento de decisões sobre ativos e passivos até que a autarquia estabeleça os próximos passos.
Para analistas, a decisão confirma que a situação do Banco Master ultrapassou qualquer limite de continuidade operacional. A liquidação desfaz qualquer possibilidade de venda e demonstra que a autarquia não viu condições de viabilidade econômica para a instituição.
Mercado reage a crise e incertezas sobre desdobramentos
A combinação entre a prisão de Vorcaro e a liquidação decretada pelo Banco Central gerou forte repercussão no mercado financeiro. Grandes bancos, casas de análise e consultorias passaram a revisar relatórios internos sobre exposição de clientes a produtos vinculados ao Master e monitoram possíveis efeitos colaterais no setor de crédito.
Embora a instituição não esteja entre as maiores do país, sua presença em segmentos específicos, como operações estruturadas e crédito privado, gera atenção adicional. Investidores avaliam impactos sobre fundos, securitizadoras e empresas que mantinham operações com o banco.
Crise deve avançar para novas fases
Com o acúmulo de eventos em menos de 24 horas, fontes do mercado e especialistas preveem que a crise do Banco Master deve entrar em uma nova fase, marcada por investigações aprofundadas e por possíveis desdobramentos judiciais.
A liquidação extrajudicial também abre caminho para análises mais detalhadas da situação patrimonial da instituição e da conduta de seus administradores. O processo pode resultar em responsabilizações civis, penais e administrativas.
A expectativa é que novas informações sobre o caso sejam divulgadas nos próximos dias, tanto pela Polícia Federal quanto pelo Banco Central.