Trump admite que apoiaria ataques ao México para “combater narcotráfico”

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (17) que apoiaria o lançamento de ataques contra o México, governado por Claudia Sheinbaum, sob o argumento de interromper o tráfico de drogas para o território norte-americano. A declaração, dada a repórteres no Salão Oval, amplia o clima de tensão diplomática envolvendo Washington e países latino-americanos.

“Por mim, ok, faremos o que for preciso para parar as drogas. Não estou dizendo que vou fazer isso. Mas teria orgulho de fazer”, disse Trump. O presidente também mencionou o desejo de acabar com laboratórios de cocaína na Colômbia, mas não anunciou qualquer ação militar direta no país governado por Gustavo Petro.

Após as declarações, Petro defendeu a abertura de processos criminais contra Trump, argumentando que ameaças dessa natureza violam normas internacionais e configuram riscos à soberania de países sul-americanos.

Operações militares no Caribe já resultaram em dezenas de mortes

As falas de Trump ocorrem no mesmo período em que os Estados Unidos ampliam operações militares no Caribe e no Oceano Pacífico sob a justificativa de combater o narcotráfico. No início de setembro, Washington anunciou o deslocamento de militares para a região próxima à costa da Venezuela. Desde então, segundo dados oficiais divulgados pelo governo norte-americano, tropas dos EUA realizaram 21 ataques contra embarcações suspeitas de transportar narcóticos.

Essas operações resultaram em pelo menos 83 mortes no Caribe e no Pacífico. A ofensiva ocorre paralelamente ao endurecimento retórico da Casa Branca, que ampliou o enquadramento de países latino-americanos como potenciais bases para organizações criminosas internacionais.

Venezuela, Colômbia e México são os principais alvos políticos

Embora as ações militares tenham sido justificadas como parte de uma campanha antidrogas, três países concentram o foco estratégico de Washington: Venezuela, Colômbia e México. Todos são governados por lideranças de esquerda e mantêm relações diplomáticas marcadas por divergências com os Estados Unidos.

Analistas afirmam que a retórica do governo Trump utiliza o combate ao narcotráfico como elemento de pressão política, ao mesmo tempo em que articula ações militares e sanções econômicas. A oposição desses países ao unilateralismo norte-americano na política e na economia global fortalece esse cenário de conflito.

Outro aspecto citado como motivador das ofensivas norte-americanas é a expansão da influência da China na América Latina. Assim como o Brasil, o país asiático integra o BRICS, bloco que defende maior autonomia econômica global e discute a criação de uma moeda comum, o que poderia reduzir a dependência do dólar no comércio internacional.

Recompensa por Maduro e disputa por petróleo

A Venezuela ocupa posição estratégica nesse conjunto de tensões. Os Estados Unidos anunciaram recompensa de até US$ 50 milhões por informações que levem à prisão ou condenação de Nicolás Maduro. Além das acusações de narcotráfico feitas por Washington, o país sul-americano possui a maior reserva de petróleo do mundo, fator que especialistas apontam como central na política norte-americana para a região.

Segundo o World Atlas, a Venezuela lidera o ranking mundial de reservas com 300,9 bilhões de barris, seguido por Arábia Saudita (266,5 bilhões) e Canadá (169,7 bilhões). Em posições posteriores estão Irã, Iraque, Rússia, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos e Líbia. O Brasil aparece em 15º lugar, com 16,2 bilhões de barris — pouco mais de 1% das reservas globais.

Brasil aparece no radar de Washington, mas sem ação militar direta

Embora os Estados Unidos não tenham anunciado ações diretas no Brasil, episódios recentes acenderam alertas entre parlamentares, ativistas e pesquisadores. O governo do Rio de Janeiro, comandado por Cláudio Castro (PL), enviou à administração Trump um relatório sobre a atuação da facção criminosa Comando Vermelho no estado.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chegou a sugerir que os EUA realizassem ataques contra embarcações supostamente usadas para transporte de drogas nas águas fluminenses. A declaração ocorreu após postagem do secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, sobre um ataque norte-americano no Pacífico.

Especialistas afirmam que manifestações dessa natureza elevam riscos diplomáticos e podem abrir precedentes perigosos envolvendo soberania territorial.

Cresce preocupação com possível escalada regional

As declarações de Trump sobre possíveis ataques ao México reforçam temores de escalada militar na América Latina. Países da região observam com preocupação a combinação entre ações ofensivas, retórica dura e disputas geopolíticas, especialmente em um contexto marcado pela ascensão de potências emergentes e rearranjos econômicos globais.

A ampliação de operações militares no Caribe e no Pacífico, os ataques contra embarcações e a inclusão de temas econômicos e energéticos no discurso antibrocas dos EUA formam, segundo analistas, um cenário instável e com potenciais impactos para toda a região.

A postura de Trump, apontam especialistas, mistura objetivos estratégicos — como combate ao narcotráfico, contenção da influência chinesa e controle de reservas de petróleo — a pressões políticas sobre governos que divergem da posição norte-americana no cenário internacional.

Com México, Colômbia e Venezuela no centro das tensões, a América Latina volta a figurar como área de disputa geopolítica. A possibilidade de ataques unilaterais, ainda que apresentada como hipótese, intensifica debates sobre soberania, segurança regional e o papel dos Estados Unidos na política hemisférica.

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